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Moyses Suzart
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 16:20
Você teria coragem de entrar numa mata no meio do Capão, arrumar uma caverna e morar sozinha com suas filhas, longe da civilização ‘moderna’? Uma russa chamada Nina Kutina foi deportada da Índia após ser encontrada morando em uma caverna com suas duas filhas pequenas, em mata fechada, depois de seu visto expirar. A história dela, marcada por isolamento voluntário, tragédia familiar e conflito legal por custódia, ganhou repercussão internacional. >
Nina, de 40 anos, foi descoberta por policiais durante uma patrulha na área florestal no estado de Karnataka, próxima à fronteira com Goa. Moradores das cidades próximas teriam visto meninas circulando pela mata e alguns chegaram a achar que eram espíritos da floresta. Contudo, as crianças não eram assombrações, tampouco viviam em estado precário. Ambas estavam saudáveis e felizes, como alguns policiais retrataram. >
Ao chegarem na caverna, os policiais se depararam com uma entrada de caverna decorada com cortinas, artesanatos e desenhos, além de Nina e suas filhas, de 4 e 6 anos, vivendo ali há meses isoladas da civilização. As meninas não tinham autorização legal para permanecer no país, tampouco a mãe. O visto da família estava expirado há anos. Com isso, após a descoberta, Nina e seus filhos foram levados para um centro de detenção de migrantes, onde permaneceram até o dia da deportação.>
Segundo relatos, Nina escolheu aquela existência remota para se aproximar da natureza, educar as filhas em casa e escapar da vida urbana. Ela já teria feito a mesma experiência com outros dois filhos homens. Em declaração ao The Guardian, Kutina afirmou que todos os dias acordavam “com o sol, nadavam em rios e viviam em comunhão com a natureza. Que cantavam, pintavam e faziam arte”. Além da falta de visto, autoridades indianas alegaram que eles estavam passando por perigos extremos, por conta de desastres naturais como chuvas e deslizamentos, além de animais selvagens. Mas não foi o que Nina disse. “Animais e cobras são nossos amigos”, disse a mãe. Embora reconhecesse os riscos naturais, recusava-se a voltar à civilização tradicional. >
Antes da vida na caverna, Nina vivia na Índia havia anos. Ela havia permanecido além do prazo de visto em 2018 e chegou a ser deportada naquele momento, voltando depois ao país. Em outubro de 2024, seu filho mais velho morreu em um acidente de moto. A perda foi apontada por ela como um dos motivos emocionais que a levaram ao isolamento na floresta com as duas filhas. >
Após a descoberta policial, houve disputa sobre a custódia das filhas. Um homem de nacionalidade israelense, Dror Goldstein, alegou ser pai das crianças e entrou com petição judicial. A família ficou detida por semanas no centro de migrantes antes de obter autorização judicial para deixar a Índia, no início do mês. >
Nina alegou que o maior pesadelo foi ficar no centro de migração. Todo trabalho artesanal feito na caverna foi jogado fora, ela alega ter sido furtada e até as cinzas do filho morto desapareceu. Atualmente, Nina e as filhas estão de volta à Rússia, morando com familiares. Ela afirmou que busca regularizar os documentos delas e retomar certa rotina familiar, ainda que fora da caverna da Índia, segundo ela, reputada como “grande e bonita”. A família, enquanto esteve na floresta, não sofreu nenhum tipo de ataque animal. Todos eram vegetarianos. >
Nina Kutina vivia em caverna na Índia com duas filhas pequenas