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O tsunami raro que cruzou o Atlântico e atingiu o Nordeste brasileiro

Fenômeno ocorreu em 1755, causado pelo terremoto que devastou Lisboa, e avançou até 4 km terra adentro no litoral nordestino

  • Foto do(a) author(a) Carol Neves
  • Carol Neves

Publicado em 1 de novembro de 2025 às 06:56

Terremoto de Lisboa
Terremoto de Lisboa Crédito: Reprodução

Há 270 anos, o litoral do Nordeste brasileiro foi atingido por um tsunami - o único registrado na história do país. A conclusão faz parte de um estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), publicado em 2020, que identificou sinais de um maremoto provocado pelo grande terremoto que devastou Lisboa, em 1º de novembro de 1755.

Segundo a pesquisa, liderada pelo professor Francisco Dourado, do Centro de Pesquisas e Estudos sobre Desastres (Cepedes), o fenômeno teria alcançado praias entre o Rio Grande do Norte e o sul de Pernambuco, avançando quilômetros terra adentro e deixando destruição pelo caminho. O trabalho se baseou em registros históricos do professor José Alberto Vivas Veloso, geólogo aposentado da Universidade de Brasília (UnB) e autor do livro Tremeu a Europa e o Brasil também.

Ondas invadiram cidades nordestinas

Cartas do século XVIII relatam que o mar invadiu áreas de Lucena (PB) e Tamandaré (PE), avançando até 4 a 5 quilômetros e destruindo habitações simples. “Em Lucena e Tamandaré, a enchente do terremoto entrou pela terra adentro coisa de uma légua e levou algumas casas de palhoça e falta um rapaz e uma mulher”, descreve um documento de 4 de março de 1756.

Outra carta, escrita em 10 de maio do mesmo ano, reforça a dimensão do desastre: “As águas transcenderam os seus limites e fizeram fugir os habitantes das praias”. Esses registros estão guardados no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa e foram analisados por Veloso em seu levantamento.

De acordo com ele, “no início da tarde de 1º de novembro de 1755, um tsunami atingiu o litoral do Nordeste. Ele penetrou terra adentro, destruiu habitações modestas e desapareceu com duas pessoas. Isso é desconhecido da maioria dos brasileiros”.

Evidências na areia e no mar

A equipe da Uerj realizou trabalho de campo em 270 quilômetros de costa e 22 praias, onde identificou vestígios de microfósseis e elementos químicos que só poderiam ter sido transportados por ondas de grande porte. Em Pontinhas (PB), por exemplo, foi encontrada uma camada de areia grossa, indicativa da passagem de uma força incomum.

A simulação feita pelos cientistas apontou que as ondas chegaram a 1,8 metro em Lucena e 1,9 metro em Tamandaré. Em áreas próximas a rios e à Ilha de Itamaracá (PE), a água avançou até 4 km terra adentro; em Tamandaré, a inundação foi de 800 metros, e em Lucena, de 300 metros.

Ondas de tsunami inundaram área após um forte terremoto de magnitude 8,8 atingir o extremo leste da Península de Kamchatka, em Severo-Kurilsk, região de Sakhalin, Rússia por Divulgação

O terremoto que atravessou o Atlântico

O abalo sísmico que deu origem ao tsunami brasileiro foi o terremoto de Lisboa, considerado o maior já registrado na Europa. Com magnitude de 8,7, ele destruiu grande parte da capital portuguesa, além do sul da Espanha e do Marrocos. As estimativas de mortos variam entre 20 mil e 100 mil pessoas.

O evento também marcou o nascimento da sismologia moderna, impulsionando estudos sobre a dinâmica das placas tectônicas e a formação dos tsunamis.

Um “minitsunami” brasileiro?

O professor Veloso, em artigo publicado na Revista da USP em 2018, questionou se episódios como o de 1755 poderiam ser considerados verdadeiros tsunamis.

“Tsunamis são fenômenos raros, mas podem acontecer em qualquer dos oceanos, em diversos mares e em porções menores de massas de água... Já ocorreu, ou poderá acontecer, um tsunami no Brasil? Talvez não seja possível responder tais indagações de forma precisa”, escreveu.

O pesquisador analisou cinco episódios de mar violento registrados entre os séculos XVI e XXI - em São Vicente (1541), Salvador (1666), Cananeia (1789), Baía de Todos os Santos (1919) e no Arquipélago de São Pedro e São Paulo (2006). Apesar de alguns apresentarem características similares a tsunamis, a maioria não teve relação direta com abalos sísmicos.

“Identificou-se um tremor que gerou ondas parecidas com um pequeno tsunami. Apesar de modesto, o caso é significativo, pois se está validando um ‘minitsunami’ brasileiro”, destacou Veloso.

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Terremoto