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Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2017 às 15:23
- Atualizado há 2 anos
A Organização das Nações Unidas (ONU) realizou ontem (18) uma reunião de alto nível para o combate da exploração e abuso sexual, inclusive por parte de funcionários da própria organização. Como os representantes da ONU têm imunidade, muitos casos de abuso acabam não sendo investigados ou punidos.>
Durante a reunião, o secretário-geral, António Guterres, reforçou a “tolerância zero” em relação a estes crimes e anunciou a criação do cargo de defensor dos direitos das vítimas da ONU que será ocupado pela autraliana Jane Connors.>
Segundo Guterres, o novo cargo será fundamental para proteger as vítimas, apoiar o recurso à justiça e criar um conjunto de mecanismos e políticas que facilitem a apresentação de queixas.>
Jane Connors tem longa experiência na área dos direitos humanos, tendo desempenhado, recentemente, funções na Anistia Internacional, em Genebra.>
“A exploração sexual está enraizada na desigualdade de gênero e no abuso de poder. Isso esmaga a dignidade daqueles que estão mais em risco", destacou Jane dizendo que trabalhará para identificar formas de prevenir abusos e proteger os direitos humanos e a dignidade das vítimas.>
O secretário-geral disse que atos indescritíveis dos que exploram da autoridade para maltratar os que necessitam de proteção das Nações Unidas não deveriam manchar o trabalho de milhares de homens e mulheres que compartilham os valores da organização.>
"A exploração e o abuso sexual não têm lugar em nosso mundo. É uma ameaça global e deve terminar. Dói-me dizer que esse comportamento é perpetrado por civis e pessoal uniformizado e em ambientes que vão desde crises humanitárias até operações de paz e campos de refugiados - onde as pessoas são vulneráveis e a segurança pública está em grande parte ausente", afirmou Guterres.>
Durante seu discurso, Guterres anunciou também um novo painel de conselheiros com representantes da sociedade civil. “Estas organizações estão frequentemente na linha da frente na proteção de crianças e prestam assistência crucial em comunidades vulneráveis.”>
“Há muito trabalho para fazermos juntos. Mas saímos daqui com uma mensagem inequívoca: não vamos tolerar ninguém que cometa ou tolere exploração e abuso sexual. Não vamos deixar que ninguém encubra estes crimes na ONU. Todas as vítimas merecem justiça e apoio total. Juntos, vamos cumprir essa promessa”, concluiu António Guterres.>
Casos>
De acordo com informações da organização não governamental (ONG) Code Blue, há centenas de casos de crimes de abuso e exploração sexual cometidos por integrantes das forças de paz das Nações Unidas contra pessoas vulneráveis e em situação de risco.>
Segundo a Code Blue, a ONU enfrenta, por conta da imunidade de seus membros, sérios problemas de atrasos e negligência na investigação dos crimes ocorridos no âmbito do trabalho da organização.>
O artigo 105 da Carta das Nações Unidas diz que “os representantes dos membros das Nações Unidas e os funcionários da Organização gozarão, igualmente, dos privilégios e imunidades necessários ao exercício independente das suas funções relacionadas com a Organização”.>
“Desde meninas adolescentes traficadas pelas forças de paz da ONU para os bordéis subterrâneos da ex-Iugoslávia, até os refugiados forçados a fazer sexo por alimentos, e mulheres e crianças violentamente estupradas no Haiti, Darfur e República Democrática do Congo, as duas últimas décadas trouxeram relatórios impressionantes de violência sexual cometida contra civis indefesos pelos soldados da paz enviados para protegê-los de mais danos”, afirma a ONG.>