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Carol Neves
Publicado em 29 de setembro de 2025 às 14:20
A habilidade de perceber o cheiro de baratas não é comum a todos. Somente algumas pessoas conseguem identificá-lo, e a explicação está diretamente ligada ao código genético. >
O responsável por essa capacidade é o gene TAAR5, localizado no cromossomo 6. Ele codifica uma proteína que funciona como receptor olfativo, capaz de reconhecer a trimetilamina (TMA), substância liberada pelas baratas. O composto químico serve como forma de comunicação entre os insetos e tem um cheiro característico, frequentemente comparado ao odor de peixe em decomposição.>
Nem todos possuem esse gene funcionando de maneira eficaz. Uma mutação que substitui a serina pela prolina no TAAR5 pode reduzir drasticamente ou eliminar totalmente a percepção desse odor.>
A habilidade de sentir o cheiro de barata segue um padrão autossômico dominante, ou seja, basta ter uma cópia funcional do gene para detectá-lo. Pessoas que herdam duas cópias mutadas do TAAR5 (homozigotos recessivos) não conseguem sentir o odor. Estima-se que cerca de 7% da população mundial tenha anosmia específica para trimetilamina, incapazes de perceber essa substância.>
Descrever o cheiro para quem nunca sentiu é difícil. Quem consegue identificá-lo relata aromas metálicos, oleosos ou rançosos, lembrando produtos químicos de laboratório ou peixe em decomposição. Algumas pessoas afirmam que essa percepção funciona como um radar natural, permitindo detectar baratas à distância.>
A variação genética na detecção de odores não se limita às baratas. Algumas pessoas conseguem perceber cheiros específicos de formigas, por exemplo. Nosso olfato envolve mais de 400 receptores diferentes, e pequenas diferenças genéticas criam experiências sensoriais únicas para cada indivíduo. Fatores como idade, exposição prévia e estado emocional também influenciam a percepção.>
O estudo dos receptores olfativos humanos não é apenas fascinante do ponto de vista científico, mas também tem aplicações práticas. Na medicina, pode auxiliar na criação de testes diagnósticos baseados em alterações do olfato. Na indústria alimentícia, ajuda a desenvolver produtos adaptados às variações de percepção de cada pessoa. Compreender essas diferenças também explica por que repelentes e tratamentos podem apresentar resultados distintos de indivíduo para indivíduo.>