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Estadão
Publicado em 18 de junho de 2024 às 08:29
O presidente russo, Vladimir Putin, inicia nesta terça-feira, 18, uma visita de dois dias à Coreia do Norte em uma rara viagem ao parceiro de longa data, no momento em que enfrenta novos desafios na guerra contra a Ucrânia. É a primeira ida do russo a Pyongyang em 24 anos - a última foi no começo de sua presidência, nos anos 2000, quando o líder norte-coreano ainda era Kim Jong-il, pai do atual, Kim Jong-un.>
Antes de sua chegada, a mídia estatal de Pyongyang, a KCNA, publicou uma carta de Putin ao líder norte-coreano na qual ele afirma que seu desejo é elevar as relações com o parceiro, prometendo a ele seu "apoio inabalável". Putin disse que os dois países desenvolveram boas relações e parcerias nos últimos 70 anos com base na igualdade, respeito mútuo e confiança.>
A viagem ocorre em um momento em que Moscou necessita de mais armas para prosseguir com sua guerra na Ucrânia, uma ajuda que a Coreia do Norte nega estar fornecendo.>
Kim Jong-un, por sua vez, deve usar a visita para barganhar ajuda para seu programa nuclear e espacial, aproveitando-se de uma Rússia que tem buscado driblar o isolamento internacional forçado pelo Ocidente, por meio de aproximações com outras nações também alvo de sanções.>
Os dois líderes já haviam se reunido em setembro, quando Kim viajou para a Rússia e afirmou que a relação entre os dois países era sua prioridade, chamando de "luta sagrada" a guerra que Moscou promove na Ucrânia.>
Os EUA manifestaram, ontem, preocupação pela aproximação dos países. "A viagem não nos preocupa. O que nos preocupa é o aprofundamento da relação entre esses dois países", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.>
Alternativas>
Rússia e Coreia do Norte foram grande aliados antes da dissolução da União Soviética. Eles já vinham estreitando os laços, mas a parceria se acelerou nos últimos dois anos, quando a Rússia se tornou o maior alvo de sanções do mundo, como resposta à sua invasão à Ucrânia. Buscando formas de manter sua economia de pé e seguir com a guerra, Moscou viu na isolada Coreia do Norte um fornecedor de armas e alternativa aos seus produtos comerciais.>
A Rússia precisa de projéteis de artilharia e foguetes, algo que a Coreia do Norte tem a oferecer e, segundo analistas, seriam compatíveis com os sistemas de armas soviéticos e russos usados na Ucrânia. Além disso, Pyongyang teria uma capacidade de produção que ajudaria a Rússia a manter sua alta taxa de uso de munição enquanto o Kremlin procura aumentar a produção nacional>
Kim visitou uma fábrica de munições no mês passado e exibiu armazéns cheios de mísseis balísticos de curto alcance - de um tipo semelhante aos mísseis norte-coreanos que, segundo os EUA, a Rússia disparou contra a Ucrânia.>
Por outro lado, Kim ganha um importante aliado que pode ajudar a continuar com seu controvertido programa de armas nucleares e a colocar satélites em órbita. "O fato de o presidente Putin estar fazendo essa viagem significa que, por causa da sua guerra na Ucrânia, a Rússia está muito necessitada de armas norte-coreanas", disse Chang Ho-jin, assessor de segurança nacional da Coreia do Sul, à Yonhap News TV, no fim de semana. "Os norte-coreanos tentarão obter o máximo possível em troca, porque a situação parece favorável para eles.">
Guerra Fria>
Analistas sul-coreanos também especulam que, além de buscar ajuda russa em seu programa nuclear, a Coreia do Norte pode estar tentando restabelecer uma aliança militar da era da Guerra Fria com Moscou. Seul fez alertas para que Putin não "cruze certas linhas" nesta viagem.>
Em um movimento benéfico para a Coreia do Norte, a Rússia usou em março o seu poder de veto no Conselho de Segurança para dissolver um painel de especialistas da ONU que monitorava o cumprimento das sanções internacionais pela Coreia do Norte.>
A parceria, porém, não é um mar de rosas. "Há muita desconfiança mútua entre os dois países. A recente melhora nas suas relações é impulsionada por situações circunstanciais", disse Andrei Lankov, professor de estudos coreanos na Universidade Kookmin, em Seul, ao Washington Post.>