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Carol Neves
Publicado em 10 de julho de 2025 às 08:39
O economista americano Paul Krugman, vencedor do prêmio Nobel de Economia de 2008, disse que as tarifas sobre o Brasil anunciadas por Donald Trump ontem dão início a um "novo rumo" na guerra tarifária do republicano e podem justificar um novo impeachment dele. >
"Se ainda tivéssemos uma democracia em funcionamento, essa manobra do Brasil seria, por si só, motivo para impeachment. É claro que teria que ficar na fila atrás de todos os outros motivos", escreveu o economista em um artigo.>
Para Krugman, esse anúncio traz um uso político mais explícito e até então inédito na política tarifária de Trump. O economista usou as expressões "peverso" e "megalomaníaco" ao tratar do assunto. Em sua carta ao Brasil, Trump atrela as medidas econômicas ao que chama de "perseguição" ao ex-presidente Jair Bolsonaro, além de uma suposta falta de liberdade no Brasil, sinalizando uma tentativa interferência no país.>
"Agora, Trump está tentando usar tarifas para ajudar outro aspirante a ditador. Se você ainda achava que os Estados Unidos eram um dos mocinhos do mundo, isso deve lhe dizer de que lado estamos hoje em dia", pontuou o economista. >
Trump classificou o julgamento de Bolsonaro de "vergonha internacional", após dois dias defendendo o aliado brasileiro. O ex-presidente é réu em um processo de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, acusado de tentar um golpe após ser derrotado por Lula nas eleições de 2022. >
"Observe que Trump mal finge que há uma justificativa econômica para essa ação. Trata-se apenas de punir o Brasil por levar Jair Bolsonaro a julgamento", acrescenta Krugman. Ele relaciona o episódio brasileiro do 8 de janeiro com o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, por parte de trompistas inconformados com a derrota. >
Enquanto no Brasil Bolsonaro responde a um processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), nos EUA os processos judiciais que Trump respondia acabaram se encerrando com a nova vitória dele, no ano passado. >
Krugman avalia que as taxas de Trump têm pouca chance de sucesso na tentativa de pressão ao Brasil. "Essas exportações (brasileiras) para os EUA representam menos de 2% do PIB brasileiro", escreveu. "Trump realmente imagina que pode usar tarifas para intimidar uma nação enorme, que nem sequer depende muito do mercado americano, a abandonar a democracia?", diz o economista, que é crítico do presidente republicano.>