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Nelson Cadena
Publicado em 28 de abril de 2022 às 05:00
Quinze anos antes do presidente Arthur Bernardes decretar a data de 1° de maio como feriado Nacional, em 1925, e sete anos antes do aludido gatilho brasileiro, a greve de 1917 em São Paulo e, digamos, o comício anarquista de 1919, na Praça Mauá, na Bahia, e provavelmente em outros estados, os “trabalhadores” já comemoravam o 1° de Maio. A data já era uma referência em vários países do mundo, na maioria com o objetivo de realçar a opressão do patronato sobre os operários e por tanto ocasião para protestos. Em outros, a oportunidade de festejar, colocar o trabalhador por um dia do ano, num patamar de destaque e é claro que daí para instituir um feriado, foi apenas consequência.>
Na Bahia, na década de 1910, as comemorações ocorriam em ambientes fechados, reunindo autoridades, políticos, militares, o chefe da polícia e representantes de entidades do operariado. A data era chamada de Dia do Trabalho e não Dia do Trabalhador que a partir da década de 1930 passou a ser a referência. O evento fechado ocorria quase sempre no Lyceu de Artes e Ofícios, na Rua do Saldanha, nas proximidades da Praça da Sé. A municipalidade enfeitava o Terreiro de Jesus com bandeirolas, e era lá que ocorria a Alvorada como nas Festas Populares.>
No Salão Nobre do Lyceu revezavam-se oradores, poetas, entusiasmados vates tecendo loas e babilaques ao trabalhador, endeusado na sua condição de operário. Exaltando suas virtudes. O Dr. Guilherme Conceição Foeppel, ilustre professor da Faculdade de Direito, costumava ser o orador oficial, nessa celebração. Uma banda do Regimento da Polícia Militar tocava dentro do recinto e, do lado de fora, com a supervisão de Alvaro Cova, chefe de Polícia, bandas musicais se apresentavam no Coreto do Terreiro de Jesus até as 22 horas, quando tinha inicio uma passeata pelo entorno.>
Essa passeata, com saída do Terreiro de Jesus, continuou a acontecer, mesmo quando as solenidades do Lyceu passaram a ser realizadas no Politeama, nas imediações do Forte de São Pedro e o Círculo Operário, o principal homenageado. A passeata continuou a ser noturna, puxada por duas bandas de música. No Politeama, foram introduzidos outros itens de programação. Em 1915, por exemplo, a representação teatral da peça “A Greve dos Operários”, pelo grupo dramático de J. Vianna. Outras representações teatrais, do gênero comedia, eram realizadas no Círculo Operário, onde o farmacêutico Otavio dos Santos Muniz se incumbia do papel de orador oficial. As solenidades que incluíam um Torneio literário, com prosa e poesias recitadas pelas crianças, se encerravam com a interpretação do Hino Patriótico do Trabalho. Vai saber que hino era esse.>
Na década de 1920, a iniciativa dos festejos passou a ser da Federação dos Trabalhadores Baianos, com sede no Largo de São Francisco. Reunia outras entidades como a Sociedade União Geral dos Tecelões, Sindicato dos Produtores de Marcenaria e Sociedade União Defensora dos Operários de Ferrovia. Seguia-se uma passeata, onde oradores devidamente inscritos, pronunciavam seus discursos, no tempo estipulado pela Federação de dez minutos que quase ninguém respeitava. Naqueles idos, antes mesmo de Arthur Bernardes instituir o feriado, o comércio baiano não funcionava no 1° de maio.>
As bandas que acompanhavam o préstito interpretavam o Hino dos Trabalhadores - A Internacional (criação do francês Eugène Pottier, musicado por Pierre De Geyter e, no Brasil, adaptado a partir da versão portuguesa de Neno Vasco) - e, também, o hino Filhos do Povo.>
*Nelson Cadena é publicitário e jornalista, e escreve às quintas-feiras>