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Nelson Cadena
Publicado em 20 de setembro de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Em 1º de outubro de 1869 circulou no então Império Austro-Húngaro, especificamente em Viena, o primeiro cartão postal do mundo, o “Korrespondenz Karte”. Escrito com tinta negra sobre um cartão creme, levava impresso um selo de 2 Neukreuzer. Antes da iniciativa de Emmanuel Hermann, professor da Academia Militar Wiener Neustadt, outros cartões postais foram sugeridos e até patenteados, nos Estados Unidos, na Germânia-Austríaca e na Inglaterra, porém, nenhum deles circulou. O cartão postal patenteado como Lipman’s Post Card, em 1861, na Filadélfia, só foi impresso e circulou na década seguinte.
O cartão postal, cumprindo a sua finalidade inicial cogitada de ser uma carta sem envelope e com o selo impresso, teoricamente de menor custo, celebra semana próxima, o seu sesquicentenário. Um longo percurso. Nenhum de seus inventores, incluindo Hermann que efetivamente realizou o projeto, previu, inicialmente a rejeição do público - incomodado com a ideia de na prática ser uma carta sem nenhuma privacidade - e mais tarde a incorporação de imagens em litografia e o extraordinário sucesso do produto, coqueluche no mundo inteiro.
A evolução do cartão postal, como todas as mídias, sem exceção, evoluiu no contexto de conflitos armados. Foi durante a guerra Franco-Prussiana (1870-71) que se introduziram imagens (ilustrações) em cartões enviados pelos combatentes a seus familiares. Mais tarde, a partir de 1891, foi introduzida a fotografia, por Dominique Piazza em Marselha. No Brasil o cartão-postal foi instituído tardiamente - Chile, Uruguai, Guatemala e Argentina já possuíam o serviço na América Latina - como bilhete postal por decreto de Dom Pedro II, em 1880, impresso na Casa da Moeda com o selo das armas imperiais.
A evolução das técnicas de impressão impulsionou a produção de cartões postais fotográficos e cromo-litográficos. No início do século XX, editores estrangeiros, dentre os quais a famosa casa Raphael Tuck & Sons, já distribuíam cartões com motivos de cidades portuárias: Rio de Janeiro, Recife, Santos e Salvador. E a firma Alber Haust de Hamburgo lançava a famosa série “Sud Amérika” com clichês de várias cidades, incluindo nossa Bahia. No estado, a febre do cartão postal, uma obsessão, animou vários editores responsáveis pela produção da maioria dos cartões postais das duas primeiras décadas do século XX: Lindemann, Gastão Mullen, J. Melo, Reis & Cia, Joaquim Ribeiro & Cia, João Pedroso, A. Aragão, Photografia Gonsalves e a Tipografia Almeida.
O cartão postal foi para várias gerações como uma televisão imaginaria que permitiu aos nossos antepassados sonhar com as belas paisagens e referências de moda que só conhecíamos através da literatura, ou, das revistas importadas, acessível a poucos. Permitia, escrevendo no verso, revelar as nossas impressões de viagem e os nossos sentimentos. O colecionismo foi um efeito desse fervor pelo bilhete postal, favorecido pelos recursos que enriqueciam as peças: alto relevo, espelhos, madeira, flores desidratadas, cabelos naturais, aplicações douradas e prateadas.
Em Salvador se formaram duas grandes e preciosas coleções: a de Edwal Hackler e a de Antônio Marcelino, já falecido, esta última com mais de 50.000 postais, hoje disponibilizados ao público em exposições fixas e pontuais no Museu do Tempostal, rua Gregório de Mattos, no Pelourinho.