183 mil baianos podem renegociar dívidas com a Caixa; veja como

Ação do banco estatal, que começou ontem, vai até o próximo dia 26 de agosto

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 30 de maio de 2019 às 10:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Agência Brasil

183 mil baianos podem participar da campanha (Foto: Agência Brasil) A campanha para renegociação de dívidas de créditos comercias, lançada anteontem pela Caixa Econômica Federal, pode beneficiar aproximadamente 183 mil pessoas físicas e jurídicas na Bahia. Ao todo, as dívidas no estado somam cerca de R$ 220 milhões.  A ação -  batizada de Você no Azul -  segue  até o dia 26 de agosto e oferece descontos que chegam a até 90%.

Só serão negociadas dívidas de operações de crédito que estejam em aberto há mais de 360 dias e que não tenha garantia. Os débitos relativos a imóveis, portanto, não fazem parte da campanha. Para participar da iniciativa é muito simples. O desconto, calculado caso a caso, levará em consideração o valor da dívida e o tempo em que ela permaneceu em atraso, para o cálculo do percentual de redução a ser oferecido. O valor a ser pago pode ficar de 40% a 90% mais baixo e não será realizada qualquer análise de renda.

Uma vez que a dívida foi renegociada, o pagamento deve ser feito necessariamente à vista, através de boleto, até o dia 26 de agosto, quando a campanha será encerrada. “Com essa medida, a Caixa busca resgatar o poder de consumo das famílias, adequar os compromissos financeiros e possibilitar a contratação de novos créditos”, explica o superintendente da Caixa em Salvador, Kleber  Paz.  Ele diz  que não é possível determinar o percentual de desconto sem saber as exatas condições de cada caso. Contudo, o percentual médio de redução a ser oferecido para os clientes baianos chega a 86%.

Baseado nas informações da Caixa, o CORREIO fez uma simulação. Se o consumidor tem uma dívida base de R$ 20 mil e recebe o desconto médio de 86%, terá deduzido de seu débito R$ 16.600. Ou seja, o valor devido passa a ser de R$ 4.400. A dívida base é o valor utilizado pelo banco para os cálculos como forma de garantir que, mesmo com o desconto, a quantia a ser paga pelo consumidor seja mais alta que a dívida adquirida originalmente. 

“Ou seja, se você tem uma dívida de R$ 1 mil adquirida em 2015 e, por conta dos juros acumulados nesse tempo, sua dívida já está em R$ 50 mil, o cálculo é feito com o valor original da dívida (R$ 1 mil), atualizado há apenas três meses. Então, a pessoa pode ficar tranquila que ela não vai precisar pagar muito mais que o débito original”, explica o superintendente. 

Em todo o  Brasil são cerca de 2,6 milhões de clientes, pessoa física, que podem participar da campanha. Desses, segundo informou a Caixa, 92% poderá quitar suas dívidas por valores inferiores a R$ 2 mil. 

Já entre as pessoas jurídicas, são 320 mil clientes e 65% deles têm possibilidade de quitar suas dívidas por valores inferiores a R$ 5 mil. 

Oportunidade  Participar de campanhas de renegociação é uma oportunidade sempre positiva para quem tem dívidas antigas, segundo a educadora financeira comportamental Meire Cardeal. “Renegociar sempre é benéfico. Uma situação de inadimplência pode ser até uma exclusão do ponto de vista social, porque a pessoa se exclui do mercado saudável de crédito e a inscrição num cadastro como o SPC é como uma mancha”, explica.

Apesar disso, ela alerta que o consumidor deve saber exatamente quais são as condições oferecidas na renegociação. “Como é uma campanha com pagamento à vista, mesmo que a pessoa possa pagar, ela precisa ter certeza que o cálculo é  justo, sem juros exorbitantes e que não estão dentro de um crédito saudável”, completa. 

O economista e educador financeiro Edísio Freire concorda com a colega e completa com um conselho. “Essas campanhas são uma nova janela, uma nova oportunidade de pagar. Nesse caso, como não tem parcelamento, o consumidor precisa ter certeza de que consegue arcar com o valor do acordo”. Edisio explica ainda que quem procura as instituições financeiras para negociar fora de períodos de campanha pode conseguir prazos e um novo parcelamento mas, dificilmente conseguirá descontos. “Quanto mais antiga for a divida melhor as chances de negociação. É como se a instituição considerasse a dívida como perdida e que qualquer negociação fosse positiva para o banco”, completa o professor. 

Ambos os profissionais concordam que é preciso um planejamento para pagar a dívida tendo a certeza de que o acordo não implicará em contrair novas dívidas que o consumidor não possa pagar. “Quando você tem uma dívida grande, de muito tempo, você só sabe que não pode pagar. A pessoa não tem noção se os parâmetros estão justos. As vezes vale ter acesso a proposta e levar para uma avaliação de alguém que entenda, do Procon por exemplo”, aconselha Meire.

Limitações Participar da campanha não significa, necessariamente, que o cliente voltará a poder realizar novas operações de crédito com a Caixa. Primeiro, é preciso que o devedor quite ou deixe em dias todas as suas pendências com o banco para poder estar novamente habilitado.

“Nem todas as operações de crédito que o cliente tenha eventualmente em atraso com a Caixa podem estar elegíveis para o desconto. Se eu regularizar uma só e a outra ficar em aberto, ele vai estar regularizando uma pendência, mas não vai estar limpando o nome”, explica o superintendente da Caixa em Salvador, Kleber  Paz. 

Além disso, mesmo que todas as pendências sejam regularizadas, apesar de limpar o nome dos cadastros de restrição financeira como SPC ou Serasa, o cliente pode ter um novo pedido de crédito na Caixa negado.

“Uma vez pagando ou colocando em dia todas as suas operações, a pessoa vai ficar no azul, ou seja, apta  para contratar operações de crédito no mercado. Mas, nessas condições que a Caixa está oferecendo desconto, o cliente pode passar um tempo, mesmo estando sem pendência no Serasa, sem ser aprovado para novas operações na Caixa. Isso depende do caso e do nível de desconto que a gente der”, detalha o superintendente. Segundo ele, essa limitação pode ocorrer por até, no máximo, cinco anos após a regularização total. 

Já para a participação específica na campanha, a limitação se dá para dívidas que tenham alguma garantia, como é o caso dos débitos que envolvem imóveis. “Financiamentos de imóveis têm os próprios imóveis como garantia. Então, o processo e a base legal de cobrança são outros. Nos casos habitacionais, a gente oferece outras alternativas de regularização”, finaliza Paz.

*Com supervisão do subeditor Geraldo Bastos