'1ª vez com negão não dói', diz promotor a defensora em júri em Feira

Ela o acusou de machismo; MP diz que não houve intenção de ofender

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  • Da Redação

Publicado em 5 de julho de 2019 às 23:48

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Aldo Matos/Acorda Cidade

A defensora pública Fernanda Nunes Morais denunciou as ofensas machistas que ouviu de um promotor de Justiça na última quinta-feira (4), em uma sessão do Tribunal de Júri no Fórum de Feira de Santana.

De acordo com Fernanda, o promotor Ariomar José Figueiredo da Silva, que não a conhecia, a cumprimentou e começou sua fala pedindo para que ela ficasse calma, porque "primeira vez com um negão não doi". A fala foi registrada na ata da audiência e encaminhada para a corregedoria da Defensoria Pública da Bahia.

"Eu não vou admitir esse tipo de situação. Eu estava no exercício das minhas funções. Isso precisa acabar!", escreveu Fernanda no Twitter, site em que compartilhou uma nota de repúdio do Coletivo de Mulheres Defensoras Públicas do Brasil.

O texto chama a atitude do promotor de repugnante e inaceitável. “A explícita conotação sexual da fala do promotor configura (...) uma violenta manifestação do machismo institucional arraigado dentro do Sistema de Justiça, que submete historicamente as mulheres ao lugar de objetos sexuais e sexualizados, deslegitimando-as como profissionais nas relações estabelecidas neste Sistema”, diz o texto.

Já o Ministério Público do Estado da Bahia diz que "não houve qualquer intenção de ofensa" na frase dita pelo promotor. Apesar disso, lamenta a situação. “A instituição lamenta o ocorrido e se desculpa por qualquer ofensa eventualmente gerada pela frase dita em um contexto de sessão do Júri”, diz nota divulgada hoje. O MP-BA destaca que a conduta de Ariomar Figueiredo é "ilibada" e que ele tem "excelente relacionamento" com servidores da Justiça.

A Defensoria Pública do Estado da Bahia também divulgou nota manifestando solidariedade à defensora. “Tal fala, redutora e sexualizadora da atuação pública e séria das partes, desrespeita a mulher e a defensora Fernanda e reflete de forma clara a cultura machista que mancha nossa sociedade e insiste em tentar reduzir sistematicamente as mulheres a meros objetos sexuais”, diz o texto. Também se manifestaram nesse sentido a Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos e Associação de Defensores Públicos do Estado da Bahia, que afirma que o promotor “maculou a ética da profissão e se utilizou de frase e comportamento indiscutivelmente machistas, com teor sexualizado, para constranger à defensora”.