25 profissionais com suspeita de covid-19 foram afastados de hospital em Cajazeiras

Do total, nove tiveram resultado laboratorial positivo para a doença

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 2 de maio de 2020 às 12:17

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução/Google Maps
Equipe de atendimento com proteção individual por Foto: Divulgação/Hospital Prohope

Quando os trabalhadores do hospital particular Prohope, em Cajazeiras VIII, se deram conta, já apresentavam sintomas da covid-19. Tudo indica que a contaminação chegou na unidade de forma cruzada, a partir de uma funcionária do Hospital Santo Antônio, que pertence às Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), onde pelo menos outros 63 profissionais de saúde foram contaminados. No Prohope, 25 pessoas foram afastadas desde o início da pandemia por suspeita de infecção, sendo nove casos confirmados, segundo confirmou o próprio hospital.

“A gente percebeu quando uma enfermeira que trabalhou no Irmã Dulce começou a apresentar sintomas. Ela não teve culpa, não sabia que estava contaminada e continuou trabalhando porque até então estava sem sintomas. Geralmente, trabalhamos em mais de uma unidade, ela apresentou sintomas e foram aparecendo outras pessoas como médicos, enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas”, conta um colaborador do Prohope, que preferiu ter a identidade preservada.

Os profissionais da casa começaram a tentar entender a origem da infecção, já que à época a unidade estava praticamente vazia de pacientes e concluíram que foi de funcionário para funcionário. Inclusive, por causa da baixa taxa de ocupação de pacientes, o hospital chegou a suspender contratos de trabalhadores com base nos acordos trabalhistas que o governo federal permitiu. “Quando começou a surgir casos, alguns funcionários estavam trabalhando mesmo com sintomas porque não tinha nem quem os cobrisse porque já tinha gente de atestado”, acrescenta.

De fato, o hospital informou, em nota, que quando o primeiro caso de colaborador sintomático foi identificado, não havia paciente positivo internado na instituição.  Mas, internamente, quando mais confirmações foram feitas, os funcionários temiam que o Prohope chegasse na mesma situação que a Osid, em que a técnica de enfermagem Rosana dos Santos Cerqueira, 44 anos, morreu após ser contaminada na unidade. Ao todo, 203 profissionais de saúde do estado já de contaminaram, conforme boletim deste sábado (2), da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab)

“O Prohope criou uma unidade isolada para receber somente paciente de covid, mas por ser particular a demanda para lá ainda não era muita, aparecia paciente pingado. O paciente que apareceu com suspeita de covid-19 acabaram colocando na UTI geral, o que acaba misturando com outros pacientes”, denuncia. 

EPIs e testes limitados

Conforme o colaborador, o Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) têm sido racionados e cada profissional tem direito a um kit de três máscaras cirúrgicas para cada plantão de 12h. Pelas recomendações do Ministério da Saúde, o ideal seria o dobro, já que cada máscara desta só pode ser usada por até 2h.

Os profissionais que foram identificados com sintomas foram testados e afastados, mas alguns seguem desconfiados se contraíram o vírus, pois tiveram contato com os colegas que estão doentes. “Eu tive contato com as pessoas contaminadas e, se peguei eu não sei, mas estou até hoje estou sem sintomas. Acho que deveria chamar logo todo mundo e submeter aos testes. Estou com muitas preocupações, tenho medo de os meus colegas morrerem e de me expor”, desabafa.

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disse que o Prohope faz parte da rede de enfrentamento à covid-19 e que a unidade hospitalar tem leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em parceria com a prefeitura. A secretaria informou que está averiguando a situação.

Posicionamento do Prohope

O CORREIO entrou em contato com a direção do Hospital Prohope, que informou, em nota que a instituição tem “adotado todas as medidas necessárias para resguardar a segurança dos funcionários e pacientes, contribuindo com a não proliferação do vírus”, diz o documento. A direção reforçou que os afastamentos dos 25 profissionais não representam efetiva contaminação e que tem tomado esta medida como forma preventiva em atenção à saúde dos colaboradores e pacientes.

Diretor de marketing do Prohope, Joilson Matos conversou com a reportagem e apontou que a Bahia tem registro de transmissão comunitária da doença, oficializada em 19 de março, e que a instituição prega pela segurança, mas admite que é difícil promover um bloqueio total da unidade. “A gente não tem o que esconder, é uma pandemia. Não está fácil para nenhuma instituição de saúde. Por mais que siga à risca a precaução, ninguém consegue prever. A infecção hoje é comunitária, mas a gente precisa minimizar ao máximo isso dentro da instituição”, respondeu.

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Os responsáveis pelo hospital declaram que qualquer funcionário que apresente qualquer sintoma gripal é imediatamente afastado das atividades por 15 dias com recomendação de isolamento, independente de exames laboratoriais. A unidade possui cerca de 490 funcionários e boa parte deles possui vínculo empregatício com outras instituições de saúde, “o que impossibilita o rastreamento preciso da origem da contaminação”.

O Prohope pontuou ainda que há escassez de EPIs em todo o país e os fabricantes têm cobrado valores exorbitantes pelos itens, o que fez o hospital optar por fabricar localmente máscaras cirúrgicas de duplo TNT (tecido-não-tecido) e aventais impermeáveis. Os kits de materiais de prevenção, segundo a unidade, são entregues diariamente mediante assinatura do funcionário.

A instituição disse também que realizou treinamento do uso correto dos equipamentos com todos os profissionais, incluindo disponibilização de videoaulas sobre a paramentação e desparamentação  —  o procedimento de colocação e retirada dos EPIs. Por último, o Prohope anunciou que, há 10 dias, adotou entradas distintas para atendimentos comuns e emergências gripais (tosse, coriza e sintomas afins). 

"Com segurança, afirmamos que todas as normas técnicas estão sendo cumpridas e que a Diretoria do Hospital Prohope não tem medido esforços para garantir a segurança de nossos colaboradores. Infelizmente este é um problema incontrolável, em que 70% da população mundial está fadada a contrair esse vírus, por conta da sua alta propagação e contágio. Seja em ambiente hospitalar, por um delivery, num mercado ou mesmo num transporte público. O que podemos e estamos fazendo é garantir a segurança em todo processo para que nossos funcionários trabalhem com segurança e minimizem ao máximo risco de contaminação", finaliza a nota da instituição.