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Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2019 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Mesmo com o início da noite dessa quinta-feira (25), a Praça da Piedade estava cheia de pessoas que buscavam comprar os produtos da 5ª Feira Estadual da Reforma Agrária. As barracas montadas na Avenida Sete oferecem alimentos orgânicos produzidos nos assentamentos e acampamentos do Movimento dos Sem Terra na Bahia.>
Para os soteropolitanos que optam por comer produtos livres de químicos, a feira é uma oportunidade de encontrar uma maior variedade de alimentos orgânicos na capital. “É difícil achar esses produtos em Salvador. Eu só conheço três ou quatro feiras”, contou a servidora pública Lindalva Queiroz, 56 anos, que havia acabado de chegar, buscando bananas.>
A dificuldade para se encontrar os produtos aliado a maior fragilidade dos orgânicos pode tornar esses alimentos mais caros. A funcionária pública Letícia Amaral, 61, concorda que o valor é um pouco mais salgado, mas acredita que ainda é uma opção melhor.>
“Alguns produtos estão mais caros do que o mercado, mas como é de forma mais natural, tem que compreender que vem do interior também. Está na equivalência de um para o outro”, contou a cliente, que pretende voltar à feira amanhã.>
Os clientes indicaram que vale a pena comprar tomate, farinha e café na feira. Em média, o quilo do tomate sai por R$ 4, a farinha está a R$ 2 e dá para encontrar um pacote de café orgânico por R$ 10. Nos supermercados, o quilo da batata custa cerca de R$ 5,50, enquanto a cebola está quase R$ 7.>
Os dois alimentos que mais pesam no bolso dos consumidores do mercado, a batata e a cebola saem por cerca de R$ 4 o quilo, mas é possível comprar o tubérculo por R$ 3 o quilo e o mesmo peso de cebola por R$ 2,9. Quem quiser adquirir os produtos pode ir à feira nesta sexta-feira (26), das 6h às 22h, ou no sábado (27), das 6h às 12h.>
Assentamentos Já do lado de quem vende os produtos, a feira é uma oportunidade de comercializar as hortaliças e frutas, além de divulgar o trabalho que é feito nos assentamentos de toda a Bahia.>
Produtor na área de reforma agrária de Lucas Dantas na região do Baixo Sul, Edemilson dos Santos diz não participar da feira apenas para lucrar. Para ele, o principal benefício do evento é a possibilidade de mostrar para a sociedade o que é produzido pelo MST.>
Enquanto comandava as vendas na sua barraca, Rogério da Silva, do assentamento São Sebastião de Utinga, em Wagner, na Chapada Diamantina, contou que se prepara para a feira cerca de um mês antes da data do evento. Ele conta que colhe cerca de 5 cachos de cenoura por semana e 250 quilos de batata por mês no seu lote de 14 hectares.>
A preparação é importante porque o lucro também cresce com o evento. “A feira é uma vez por ano e o bom é que fosse mais. Aqui a gente vende bem mais do que no interior”, comemorou Rogério.>
Orgânicos X Tradicionais A nutricionista e professora de microbiologia de alimentos da Universidade de Rio Verde (UniRV), Débora Cabral Machado, ressalta que os alimentos produzidos com auxílio de químicos podem ter resíduos de defensivos agrícolas.>
“Na maior parte das vezes, são estranhas ao organismo e que tem um processo de digestão estranho, que pode ser mais danoso ou penoso. Há uma diversidade de reações gastrointestinais, podem provocar irritação no estômago, reações alérgicas”, explicou a nutricionista.>
Cliente da feira, a oceanógrafa Agnes Hotz afirmou que se sente melhor comendo orgânicos e sempre opta por estes alimentos. “A gente come muita coisa sem saber o que está comendo”, disse a francesa.>
Apesar do temor à ingestão de alimentos produzidos com agrotóxicos, o professor de fitopatologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UEFS), Marcelo Barreto, informa que existe uma taxa segura de uso de agrotóxicos e que os casos de intoxicação por ingestão de alimentos tradicionais só ocorrem quando os critérios não são respeitados.>
“O produtor faz a pulverização na lavoura, alguns químicos deixam resíduo nos alimentos, mas dos produtos monitorados pela Anvisa apenas 1,9% apresentava os resíduos, que não tem efeitos ao organismo. Não há dado de intoxicação por ingestão de agrotóxico”, afirmou o estudioso, que ainda deu o exemplo que, para se intoxicar com tomate, a pessoa deveria comer 200 kg de tomate com o valor máximo de resíduos. Letícia Amaral, 61, ainda quer voltar à feira (Marina Silva/CORREIO) Higienização dos produtos Tanto a nutricionista quanto o professor apontam que é importante fazer a higienização dos produtos, especialmente os orgânicos, que usam outros métodos de adubação, como as fezes de animais, o que pode causar a contaminação por microorganismos.>
"Nos orgânicos, usa-se muito esterco de ave e bovino, que pode contaminar com esses coliformes, se não for produzidos dentro das normas. A água não pode ser contaminada. A água usada nas hortas não é tratada porque ficaria muito cara para o produtor. Quando essa água está próxima da cidade, pode ser contaminada pelos esgotos. O consumidor pode comprar alimento contaminado", explicou a porfessora da UniRV.>
Marcelo relata que as pessoas acredita que muitos consumidores se enganam em pensar que por ser natural, estes alimentos não precisam dos mesmos cuidados antes da ingestão.>
Débora explica que é necessário fazer uma escovação com sabão nos alimentos com casca e que os folhosos, como alface, devem ser submergidos em uma solução de água com água sanitária. “É só fazer a imersão por 15 minutos na mistura de uma colher sopa para 1 litro de água. Isso já resolve. Depois é só lavar para tirar o resíduo”, indicou.>
* Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier>