94 anos de Mãe Stella: gentil e bem humorada até o fim

Senta que lá vem...

  • D
  • Da Redação

Publicado em 2 de maio de 2019 às 10:42

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Era tanto o entusiasmo dela às vésperas do 93º aniversário, de cuja festa não pude participar, que desejei estar no seguinte. Mãe Stella de Oxóssi (1925-2018) não festejará os 94 anos em 02 de maio de 2019. Nós, sim, festejaremos, preenchendo o dia com as lembranças do convívio de tivemos com ela no decorrer de 2018. Estaremos, ademais, na sessão regimental da Academia de Letras da Bahia (ALB) em que a instituição declarará a vacância da Cadeira 33 que ela ocupava dede 2013.

A ocasião pede este registro que ora faço.

Admirava Mãe Stella pelas atitudes avançadas em relação ao Candomblé, sobretudo como escritora que compartilhou com todos nós a herança cultural africana que se mantinha oral e restrita. Em 2017, manifestei minha admiração dedicando-lhe o livro Anotações sobre Cincinnato José Melchiades e a sua Typographia Bahiana (Salvador: e.a., 2017). Levei para ela e entreguei em mãos o primeiro exemplar que peguei na gráfica. Guardo bem a memória desse dia em que a visitei na sua casa no Ilê Axé Opô Afonjá.

Por causa dessa afeição espontânea e agradável, fiquei indignado, como baiano, cidadão e jornalista, com os episódios de dezembro de 2017, que culminaram com a mudança dela, em companhia da ekede Graziela Domini Peixoto, para Nazaré, terra dos meus antepassados.

Em fevereiro de 2018, diante do impasse que se instalou e movido por autoridade que me facultei, fui ao Ilê Axé Opô Afonjá e procurei o presidente da Sociedade Cruz Santa, o médico otorrino e obá José Ribamar Feitosa Daniel e disse-lhe que a Bahia estava se comportando mal. Em 19 de fevereiro enviei-lhe, conforme prometera, este e-mail: “Prezado doutor Ribamar, apreciaria muito que visitasse Mãe Stella na companhia de comissão formada por Jaques Wagner, Divaldo Franco, Padre Lázaro, Casemiro Neto, Pastor Djalma Torres e o fotógrafo Dario Guimarães. Esses, exceto o último, foram os nomes que levantamos durante a conversa que tivemos no Ilê. Boa semana. Abraço forte, Luis Guilherme”

As circunstâncias não permitiram desdobramento, até porque, na ocasião, o presidente da Sociedade Cruz Santa viajou para São Paulo para tratar da saúde.

Me parecia que o bom senso recomendava que os problemas de então poderiam ser contornados e que se restabelecesse a maturidade devida que a personagem principal exigiria por sua importância, idade e saúde.

Em 16 de abril de 2018, numa gentileza pessoal do meu amigo Walter Pinheiro, presidente da ABI e da Tribuna da Bahia, publiquei nesse jornal o artigo “Seja feita a vossa vontade” (foto 2). Desse mês em diante, passei a visitá-la em Nazaré com regularidade: 20 de abril, 29 de junho, 31 de julho, 17 de agosto, 28 de setembro, 15 de novembro e até em 28 de dezembro, um dia após o seu falecimento, quando imaginei que alcançaria o velório no salão nobre da Câmara de Vereadores de lá.

A minha amiga muito querida e bibliotecária Maria das Graças Nunes Cantalino esteve comigo em quase todas as visitas. Houve ocasião em que as visitas foram rápidas e em outras até almoçávamos na casa de Graziela e Mãe Stella (foto 3, by Jorge Ramos). Recordo que tive a companhia também das bibliotecárias Maria Lúcia Albano, da UFBA, Diná Araújo, da UFMG, Ana Virgínia Pinheiro, da Biblioteca Nacional (RJ), dos jornalistas Ernesto Marques e Jorge Ramos, da professora Cybelle Amado, dos meus primos Eduardo Neves e Alfredo Eurico Matta, sempre levando comigo a respeitável lembrança de meu pai e dos admiráveis Vivaldo da Costa Lima, Jorge Amado e Carybé. Desconheço o que poderá acontecer amanhã. Guardo, das visitas que fiz a ela em 2018, a certeza de que perdemos luminoso espírito, dotado de misericórdia, sapiência e admirável bom humor.

Que a Bahia lhe renda as homenagens devidas e não a deixe só, jamais.

Texto originalmente publicado no Facebook e replicado com autorização do autor