Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.
Flavia Azevedo
Publicado em 29 de novembro de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Não se trata só de cabelos, como o nome pode sugerir a algum/a desavisado/a. O evento, que ja reuniu quase 25 mil pessoas, leva às ruas um mundo de questões. São mulheres juntas contra o machismo, a misoginia e o patriarcado, contra o racismo em suas consequências estruturais e psicológicas. É combate à LGBTIfobia e ao ódio religioso. É produção de protagonismo, autoestima, identidades positivas, pertencimento e redes de apoio, principalmente para jovens e mulheres negras. Neste ano, o tema é "A Força do Empoderamento Crespo – Meia Década de Ancestralidade, Continuidade e Luta!". Com concentração às 13h no Campo Grande, a marcha traz atrações como Banda Feminina Didá, Maracatu Ventos de Ouro e coletivo Afrobapho, além de desfile manifesto e DJs. A comissão organizadora do evento é formada por oito mulheres negras, das quais quatro estão, hoje, aqui.Naira Gomes (Foto: Divulgação) "Neste ano, traremos o recorte temporal de meia década de existência deste coletivo para historicizar sua atuação e destacar sua participação como importante pedagogia de emancipação de crianças, jovens, homens e mulheres negras na Cidade do Salvador. Falaremos de força para referenciar a potência das mulheres reunidas, para visibilizar a explosão de bravura, insubmissão, construção e avanços civilizatórios que as mulheres negras têm encabeçado e mobilizado desde sempre. Tocaremos em ancestralidade e continuidade para marcar que nosso passos vêm de longe, que nos somamos à luta que nos antecede e nos atravessa, que somos a construção viva das que vieram antes de nós, somos nossas mães, avós e filhas, somos Luiza Mahin, Mãe Stella, Luiza Bairros e Angela Davis, somos Marielle Franco, somos todas e cada uma de nós",Cecília Silva (Foto: Divulgação) "A característica física é que define quem somos, nossas origens e nossas ancestralidades. Penso que a marcha seja um resgate da nossa identidade negra, pois lutamos para quebrar o enraizamento da cultura racista que é estrutural, patriarcal, sexista e homofóbica. É pela nossa autoestima sim, dignidade de quem somos, que a todo o momento tentam retirar nas relações sociais e institucionais. A partir do momento que compreendemos e reconhecemos a nossa identidade, a batalha é externa, pois continuamos sendo mortas de diversas formas, seja no feminicídio, no aborto e na invisibilização. Vivemos um período onde o racismo vem ganhando forças e um dos principais fatores que infelizmente vem crescendo é o extermínio da juventude negra e as segregações no mercado de trabalho, ausência das mulheres negras em espaços decisivos de poder seja nas repartições públicas ou privadas."
Diana Souza (Foto: Divulgação) "A nossa luta é pela inviolabilidade do corpo negro. O racismo incide sobre a população negra desde a infância, expondo-nos a violências físicas e psicológicas que destroem nossa autoestima. Tentam descaraterizar nossas identidades e impor padrões estéticos brancos, criam associações pejorativas e preconceituosas à imagem do corpo negro e todos os nossos valores culturais. Essas violações de nossos corpos se manifestam desde a privação de afeto e da imposição para abandonar, modificar ou esconder nosso cabelos crespos, religiões, indumentárias até o racismo institucional manifesto no genocídio da juventude negra, na violência obstétrica, na destruição de templos de religiões de matriz africana, no extermínio de comunidades e líderes quilombolas. Neste contexto social racista que combatemos, as mulheres negras representam o contingente mais afetado em virtude da intersecção do machismo e racismo, sendo as maiores vítimas de feminicídio e a categoria mais sub-representada em espaços políticos e postos de poder. Além disso, segundo dados do IPEA, recebem menores salários."
Ivy Guedes
(Foto: Divulgação) "Partimos do crespo dos cabelos não como uma característica física, mas como uma dimensão extremamente marcada pelo racismo, desde o tempo da colônia. Uma marca que atravessa todos os corpos negros, mas principalmente as mulheres negras. Nesse sentido, a concepção política da marcha entende que, a partir do ideal de beleza postulado pela branquitude - em que tudo o que não se parecesse ao branco era excluído - e sendo as mulheres a mola propulsora de qualquer sociedade, referenciamos nossas pauta em torno da mulher negra que, na pirâmide social, é quem ocupa a base da subalternidade."