’A Bahia é uma ilha de dignidade civil’, diz Muniz Sodré em abertura de Congresso da Ufba

Abertura aconteceu nesta terça-feira (16), no Teatro Castro Alves

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 16 de outubro de 2018 às 22:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Professor da UFRJ e ex-aluno da Ufba, Muniz Sodré fez a conferência de abertura do Congresso (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A atração principal da noite no Teatro Castro Alves (TCA) não era um ator, nem cantor ou bailarino. Quem subiu ao palco para falar a uma plateia que lotou a sala principal do teatro foi um professor: Muniz Sodré. O principal nome da abertura do terceiro Congresso da Universidade Federal da Bahia (Ufba) foi recebido pelo berimbau do Mestre Nenel, filho do Mestre Bimba. E antes, pela Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba).

Companheiro de nomes como Mestre Didi e Mestre Bimba como Doutor Honoris Causa da Ufba, o professor tratou a Bahia como uma exceção no atual cenário brasileiro: “A Bahia é uma ilha de dignidade civil dentro do país”, declarou Muniz Sodré, abrindo sua fala no palco do TCA.

A conferência do mestre, que hoje é professor emérito do curso de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi nomeada “Instituições Públicas na defesa da cultura e produção do conhecimento” e teve como objetivo fazer a defesa de instituições como a própria universidade e seu papel no desenvolvimento sociedade brasileira.

Ele declarou que, ao analisar a universidade pública brasileira, é necessário ter um olhar mais carinhoso, já que esse modelo de instituição está preocupada com uma formação que vai além da profissional. “A universidade pública vai além da pura transmissão de conhecimento e mera formação de profissionais em função de mercado”, defendeu.

Baiano e formado em Direito pela Ufba, Muniz Sodré afirmou que as instituições públicas do país possuem problemas em sua estrutura e manutenção, mas que ainda assim o Brasil se destaca na produção intelectual. “Eu não sei de nenhum outro país latinoamericano que invista tanto em pesquisa através de órgãos públicos como acontece Brasil”, afirmou.   “A Universidade desenvolve pontos cardeais para o entendimento social. Sem isso, caminhamos para uma instabilidade e desorganização civil. É da Universidade que pode surgir uma autoconsciência crítica, que vai enxergar uma crise nas relações de amizade, de honra, até de família”, defendeu.

Mestranda em comunicação, Allana Gama, 24, elogiou a participação de Muniz Sodré no Congresso: “A palestra veio em um momento muito importante, por destacar a necessidade da pesquisa e do ensino nessa sociedade que, como ele mesmo classificou, é ‘incivil’. Vem como um banho de ânimo e esperança para a comunidade acadêmica”. Grupo de capoeiristas homenageou Mestre Moa do Katendê (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Homenagem Além de diálogo, celebração e aprendizado, também teve homenagem. O grupo de capoeira da Fundação Mestre Bimba, liderado por Mestre Nenel, fez um ato ao Mestre Moa do Katendê, morto a facadas em uma discussão política, no  dia 8. O som do berimbau soava triste. Tão triste quanto o canto que soava na sala principal do Teatro. “Mataram o negro, mas não vão nos calar”, dizia o verso repetido por exatas 32 vezes no palco. 

Logo depois, quem entrou em ação foi a Orquestra Sinfônica da Ufba, que fez um repertório de meia hora inteiramente brasileiro. O reitor, João Carlos Salles, falou sobre o momento político e os impactos na universidade: “A indiferença nos faz cúmplices da barbárie”. Orquestra Sinfônica da Bahia se apresentou com um repertório nacional (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) O Congresso A terceira edição do congresso da Ufba começou ontem e vai até a próxima sexta (19). Serão 150 mesas de debate e 3,2 mil trabalhos em mais 120 espaços. Todas as atividades são gratuitas e abertas à comunidade, basta ter disposisão. “São tantas atividades que é impossível uma única pessoa acompanhar tudo”, disse o coordenador de produção e difusão da Pró-Reitoria de Extensão (Proext), professor Guilherme Bertissolo.

O Congresso ainda conta com mais de 90 intervenções artísticas, sendo que várias atividades acontecem de forma simultânea. Entre elas, destaca-se o AÚ: os Mestres e Mestras da Capoeira e da Cultura Popular; Quarteto Gamboa; Grupo Muriquins; Mostra de Geociências; Feira de Livro e Autores da Edufba, editora de livros da Universidade; e apresentações da Orquestra de Itiúba com participação do cantor Gerônimo.

Cássio Andrade, 26, é formado em História pela Ufba. Apesar de não fazer mais parte da Universidade, ele conta que participou de todas as edições do Congresso até aqui. 

“Dou um jeito de participar de pelo menos uma mesa. Acho importante que a comunidade baiana participe e saiba do que está acontecendo na Universidade”, disse o professor.

O Congresso ainda conta com mais de 90 intervenções artísticas. Os alunos que atuam com iniciação científica farão apresentações. A programação completa está disponível em www.congresso2018.ufba.br. 

O CORREIO seleciou dez atividades imperdíveis que vão acontecer hoje e amanhã no Congresso, de graça. Confira:

- Mostra de Geociências - 17 e 18 de outubro, das 9h às 18h, no Instituto de Geociências, em Ondina

- Construindo um envelhecimento saudável - 17 de outubro, às 10h, no PAFI, em Ondina

- Observatório de Bairros em Salvador - 17 de outubro, às 13h45, no PAF-III, em Ondina

- Jovens Ativistas e Memória da Ditadura Militar em Salvador - 17 de outubro, às 14h15, no PAF-III, em Ondina

- A música do Pagode Baiano e a linguagem das periferias - 17 de outubro, às 20h15, no PAF-I, em Ondina

- Oficina de Origami - 17 de outubro, às 10h30, no PAF-I, em Ondina

- Oficina de Crítica de Cinema - 17 de outubro, às 8h, na Faculdade de Comunicação, Ondina

- Robótica para Principiantes - 17 de outubro, às 9h, no PAF-I, em Ondina

- O quão homem você é: Oficina sobre Gênero e Masculinidade - 17 de outubro, às 14h, no PAF-IV, em Ondina

- Yoga do Riso - 18 de outubro, às 9h, no PAF-I, em Ondina

*Com supervisão da editora Mariana Rios