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Waldeck Ornelas
Publicado em 21 de fevereiro de 2022 às 09:00
- Atualizado há 2 anos
Os desafios do desenvolvimento envolvem bons estudos e subsídios técnicos, firmes decisões administrativas e forte articulação política, não necessariamente nesta ordem. A Bahia já conhece esse jogo, que foi jogado, por exemplo, nos casos da petroquímica e da automobilística.>
Agora, para começar um novo ciclo, o momento diz respeito à questão logística, envolvendo infraestrutura ferroviária e portuária.>
Em artigo recente afirmei que “o acesso a Lucas do Rio Verde escancara a disputa VLi x Rumo pela dominância dos mercados de carga ferroviária, no caso o transporte de grãos” (Bahia, FICO e FIOL – Correio, 22/10/21). Desde então os fatos têm se precipitado.>
O caso é o seguinte: ao negociar a renovação antecipada de concessões da VLi (leia-se Vale), o Ministério da Infraestrutura – em uma solução inteligente – destinou parte do valor da outorga à implantação do primeiro trecho da Ferrovia de Integração do Centro Oeste (FICO), de Mara Rosa (GO) a Água Boa (MT). Sua implantação ficou a cargo da própria Vale que, no entanto, não é concessionária. Paralelamente, a Rumo conseguiu, por via estadual, a concessão para ligar Rondonópolis a Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Com a criação do regime de autorizações, ambas pediram o trecho Água Boa – Lucas do Rio Verde.>
No regime de concessões o poder concedente é senhor absoluto das decisões; nas autorizações a iniciativa é particular. Havendo mais de um interessado, surge a necessidade da realização de uma chamada pública, uma espécie de licitação.>
Pior ainda, em relação a porto estamos tropeçando nas próprias pernas, ao promover a construção de uma ponte ligando Salvador a Itaparica, deixando para trás e – o que é grave – comprometendo a viabilidade técnica de um mega porto on-shore de águas profundas e abrigadas na Baía de Todos os Santos. Verdadeiro gol contra. Vai ficar assim? >
Em suma, as decisões estão sendo tomadas, os fatos estão acontecendo e a Bahia permanece silente e omissa, como se não fosse a sua sorte que está sendo jogada. Governo, iniciativa privada e sociedade civil local parecem anestesiadas pelo encantamento com uma certa ideologia da pobreza.>
No tempo da logística, sem ferrovias e sem portos a Bahia não terá futuro. >
*Waldeck Ornélas, especialista em planejamento urbano-regional, é autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.>