A Conmebol vive em uma bolha

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  • Miro Palma

Publicado em 1 de novembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O governo chileno pode até ter uma “firme vontade e compromisso” de realizar a final da Libertadores no Estádio Nacional, em Santiago. Mas, a firmeza para por aí. Após 15 dias de protestos da população chilena contra as desigualdades sociais no país, dezenas de mortos e milhares de pessoas presas, estabilidade é uma palavra incompatível com o governo do presidente Sebastián Piñera.

Ainda assim ele insistiu por muito tempo em manter a agenda de eventos já programados como se nada tivesse acontecido. No entanto, essa pose não conseguiu segurar a reunião da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), que ocorreria nos dias 16 e 17 de novembro, e a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2019 (COP25), marcada entre 2 e 13 de dezembro, que seriam sediadas no país.

Mesmo com os cancelamentos, que demonstram a consciência do governo de que os protestos estão longe de acabar, a Conmebol não parece estar tão preocupada assim. Anteontem, a confederação reiterou o comunicado da ministra dos Esportes do Chile, Cecilia Pérez, de que está mantida a partida entre River Plate e Flamengo, no próximo dia 23, em Santiago.

A pergunta que não se cala é: qual o motivo? Por que manter um jogo entre argentinos e brasileiros em um Chile que está pegando fogo? Por que insistir em uma final única em uma competição da América Latina? Por que a Conmebol é sempre tão morosa em suas decisões? Por que?

Não dá pra iniciarmos essa conversa sem questionar o óbvio: a mudança para a final única, com a necessidade de um campo neutro na Libertadores, foi uma decisão descabida. A inspiração em certames como a Champions League pode até parecer razoável à primeira vista. Mas, não estamos na Europa, meus caros. Não temos dezenas de estádios com alto padrão de qualidade e estrutura à disposição como no Velho Continente.

Na realidade latino-americana, quando surge um problema, as opções de substituição são escassas e as soluções inapropriadas como foi com a final do ano passado, disputada no estádio Santiago Bernabéu, na Espanha. Uma Libertadores da América fora da América.

O ‘fator X’ em todas essas questões é a própria confederação. A Conmebol é lenta e imprudente. Primeiro porque cria uma regra que, em geral, não beneficia em nada o campeonato e os clubes. Colocar uma disputa em um lugar distante dos torcedores dos times é uma coisa inadmissível em qualquer evento esportivo. Pior ainda é escolher um lugar que está vivendo o ardor de uma revolta popular. Ou os cartolas acham que os protestos, que defendem interesses imensamente maiores que um jogo entre equipes estrangeiras, vão parar para a final da Libertadores?

Se voltarmos na memória, vamos recordar de momentos em que a iminência de eventos esportivos internacionais instigaram um agravamento de protestos e manifestações. Inclusive por aqui no Brasil. E por um motivo óbvio: naquele determinado momento, as atenções internacionais estavam voltadas para o local em questão.

Não precisa ser gênio para perceber que essa equação não vai oferecer um bom resultado. Ainda assim, com menos de um mês para a partida, a Conmebol insiste no erro. Talvez Alejandro Domínguez, presidente da confederação, seja mais parecido com Piñera do que a gente imaginou.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras.