A conta do sucesso: a filha da empregada doméstica que virou doutora em Estatística

Professora de Matemática do Ifba e doutora em Estatística, Norma Souza, 56 anos, venceu na vida após vencer diversas batalhas

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  • Thais Borges

Publicado em 8 de março de 2017 às 15:02

- Atualizado há um ano

"Era bem pobre, mas sempre tive facilidade de lidar com números", lembra Norma (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)A professora de Matemática Norma Souza, 56 anos, é como todas as mulheres: tem uma luta para chamar de sua. Docente do Instituto Federal da Bahia (Ifba) e doutora em Estatística, Norma é filha de uma empregada doméstica baiana, mas nasceu em São Paulo (SP).

Aos quatro anos de idade, veio para Salvador pela primeira vez. Voltou para a Pauliceia aos nove anos, mas, aos 16, veio para nunca mais retornar. Nunca conheceu o pai biológico e começou a trabalhar em um escritório aos 15 anos, ainda lá em São Paulo, enquanto estudava, para ajudar em casa. Aqui na Bahia, aos 16, continuou trabalhando.

“A gente era bem pobre, mas sempre tive facilidade de lidar com números. Comecei a fazer a parte de contabilidade, tabelas, controle de notas”, lembra. Acabou entrando para a escola técnica, na época do Ensino Médio, e trabalhava com técnica em edificações. Depois, começou a cursar Licenciatura em Matemática. Primeiro, na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Depois, na Universidade Católica do Salvador (Ucsal), que tinha um curso noturno – melhor para que ela pudesse trabalhar durante o dia.

Em 1987, se tornou professora da antiga Escola Agrotécnica Federal de Catu, no Recôncavo baiano. Foi trabalhando lá que engravidou da primeira filha. “Era muito difícil, porque eu trabalhava em Catu e tinha uma filha pequena. Saía de casa 5h e chegava 21h, às vezes, ainda amamentando. Parece brincadeira, mas eu não sabia o que era ver a luz do dia em Salvador. Quando eu tinha médico 2h, 3h da tarde, e voltava mais cedo, achava a cidade linda. A luz tinha um brilho especial”, conta Norma, que, ainda teve outro filho no mesmo período, hoje com 23 anos. Pouco depois, conseguiu a transferência para ensinar em Salvador.

Com o emprego de professora, viveu a maratona que era ser mãe de crianças e adolescentes. Em 2000, concluiu o mestrado. Na época, os filhos exigiam ainda mais atenção do que quando eram menores. Mas ela não desistiu. Em 2013, conseguiu o título de doutora, já com os rebentos mais velhos.

Há quatro anos, é separada. Prosperou em uma carreira que ainda tem poucas mulheres – mas que, aqui, não vamos nunca dizer que é um ‘trabalho masculino’.  “Geralmente, quem olha para mim, acha que ensino Português ou Sociologia. Como mulher, exige muita força da gente, exige muito útero. Mas eu sempre fui muito determinada. Eu nem olhava se eu era negra, se era mulher, se era pobre. Se eu achava que eu ia conseguir, eu ia atrás”.