A dança das cadeiras no Brasileirão

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  • Miro Palma

Publicado em 6 de dezembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O CSA era treinado por Argel Fucks, que foi comandar o Ceará, que tinha Adilson Batista como técnico, que foi treinar o Cruzeiro, que estava com Rogério Ceni, que retornou para o Fortaleza, que estava sob a batuta de Zé Ricardo, que foi para o Inter, que demitiu Odair Hellmann, que não treinou mais ninguém. A dança das cadeiras entre os técnicos do Brasileirão é uma verdadeira quadrilha para Carlos Drummond de Andrade nenhum botar defeito.

Em 2019, dos 20 clubes da Série A, apenas três não fizeram mudança no comando técnico: Grêmio, Santos e Bahia. Renato Gaúcho, Jorge Sampaoli e Roger Machado são espécies em vias de extinção. O último a entrar para as estatísticas foi Mano Menezes, demitido do Palmeiras no último dia 1º. Antes disso, estava no Cruzeiro, de onde saiu no início de agosto e foi substituído por Rogério Ceni, que ficou pouco mais de um mês no cargo e deu lugar a Abel Braga, que pediu demissão após dois meses no clube, abrindo a vaga para Adilson Batista, que chegou faltando apenas três rodadas para o encerramento do Brasileirão.

Agora me responda: o que um treinador consegue fazer em dez dias? Porque é basicamente isso que Adilson vai ter no Cruzeiro e Argel no Ceará, por exemplo. Ou em pouco mais de um mês, prazo que tiveram Rogério Ceni e Abel Braga no Cruzeiro, Zé Ricardo no Fortaleza e Oswaldo de Oliveira no Fluminense? Não dá para esperar muita coisa. E o aproveitamento dos clubes comprova isso. Entre os times que mais citei até agora, um já caiu para a Série B (CSA) e os outros dois lutam desesperadamente contra a degola (Cruzeiro e Ceará). 

Ainda assim, toda vez que a má fase se instala, o único remédio é mudar o treinador. Como se todo o planejamento de um clube e todos os deméritos acumulados na temporada estivesses sobre as costas de uma pessoa. Mas, não está. E aí não adianta culpar a torcida pelas cobranças ou, ainda, condenar os técnicos pela “ganância”; cabe aos clubes mudar esse péssimo hábito. Porém, como pedir bom senso de alguns – muitos – cartolas é o mesmo que nada, já passou da hora da CBF intervir nessa questão. Enquanto confederação, cabe a ela zelar pela manutenção da qualidade da competição. E esse troca-troca só contribui para diminuir o nível de competitividade entre as equipes.

Para mim, a norma deveria ser uma só: por ano, nenhum técnico poderia treinar mais que um clube em uma determinada divisão de uma liga. Simples assim: se um treinador assumisse uma equipe da Série A, por exemplo, em caso de demissão – seja ela feita pelo clube ou por vontade própria –, só lhe restaria assumir equipes de outras divisões ou esperar o ano seguinte. Assim, a oferta seria reduzida e as agremiações seriam obrigadas a escolher com mais equilíbrio seus comandantes e pensar duas vezes antes de despedi-los.

Descartar técnicos de futebol como fazem os clubes por aqui não é bom para o esporte. Não se criam projetos, progressos, vínculos. Tudo se resume ao imediatismo das más gestões onde a única decisão é passar a bomba para o colo do outro. Falta uma rodada para o fim do campeonato que premiou o Flamengo, clube que teve “apenas” dois técnicos nessa temporada. Foram seis meses com Abel Braga e mais seis com Jorge Jesus, o que para o padrão atual é quase uma eternidade. Que 2020 traga mais paciência para os times, seus gestores, imprensa e torcida. O futebol agradece. 

Miro Palma é subeditor de Esporte. Escreve às sextas-feiras.