A desindustrialização do Brasil

País exporta cada vez mais produtos básicos ou insumos sem alto valor indo da contramão dos principais países desenvolvidos

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  • Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: divulgação/Largo 

Minérios de ferro, soja, óleos brutos de petróleo, açúcares de cana, carne bovina. Esses são alguns dos produtos mais exportados pelo Brasil em 2021. A lista, é um pouco mais longa, no entanto, dados da FIEB (Federação das Indústrias do Estado da Bahia) mostram que, dos 15 principais produtos mais exportados pelo país, - que representam 61,6% de tudo o que o país vendeu - a maioria são produtos básicos ou insumos sem alto valor agregado.

Este dado, evidencia a tendência brasileira a desindustrialização, que vem crescendo e foi impulsionada durante a pandemia. Cenário que mesmo sendo positivo para a balança comercial, gera profundos prejuízos para a sociedade, principalmente com a redução de empregos, da inovação e da pesquisa. “Todo esse processo é bastante prejudicial para a economia por muitos aspectos. A indústria é o setor mais dinâmico da economia, com uma extensa cadeia produtiva, na qual são agregados serviços de alto valor e elevados investimentos em pesquisas. Por outro lado, paga (em média) os melhores salários e agrega mais valor aos produtos nacionais”, explica o técnico da Equipe da Gerência de Estudos Técnicos da FIEB, Danilo Peres.

Ainda de acordo com Peres, sim, estamos vivendo um processo de desindustrialização acelerado. A indústria brasileira está perdendo participação no PIB ano após ano. Na década de 1980, a indústria chegou a participar com 35% do PIB do Brasil e hoje está em cerca de 11%. Esse é o mesmo processo da Bahia, no qual o setor industrial em meados da década de 1980 alcançava 42,2% do PIB e atualmente (em 2020) estima-se uma participação de apenas 22%. Muitos países como a Alemanha, Japão e Coreia do Sul têm mantido elevado índice de participação da indústria no PIB (acima de 30%). Mesmo os Estados Unidos têm buscado atrair indústrias que saíram do país.

Na Bahia, o cenário é um pouco diferente, mas nem por isso tão motivador. No que se refere ao comércio exterior, a indústria de transformação baiana tem participação superior à média brasileira, porque é caracterizada por uma matriz industrial complexa, na qual estão empresas de grande porte. Mas, considerando o desempenho da indústria como um todo,  o ano de 2021 não foi positivo por conta do fechamento da Ford e da retração na produção de refino. “Por conta disso, a expectativa é que haja uma queda da produção de 10% a 15% em 2021 (dados preliminares até novembro de 2021 mostravam queda de 14,5%)”, conclui Danilo Peres.

A verticalização da produção mineral  Indo na contramão do desmonte das indústrias, o setor de mineração está expandindo e investindo na verticalização da produção. No final do ano passado, a Largo produtora de vanádio no município de Maracás, divulgou um plano de investimentos na Bahia, até 2032, na ordem de U$$590 milhões. Grande parte do orçamento (U$$360 milhões) será destinado à construção de uma fábrica de pigmentos de titânio, a ser instalada no Polo Industrial de Camaçari. 

A produção de pigmento, prevista para iniciar em 2024, utilizará os rejeitos de vanádio já produzidos pela mina situada no Município de Maracás. "Nosso processo não terá impacto no meio ambiente, não jogará nenhum efluente na natureza. Todo o rejeito do processo de fabricação do pigmento de titânio, também vamos reciclar e uma parte dele vai virar fertilizante', disse o Ceo da Largo, Paulo Misk.

Para o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Antonio Carlos Tramm, a decisão da Largo é um passo importante para o setor. "Temos defendido a todo tempo que a mineração tem que verticalizar a sua produção. Temos que exportar produtos com maior valor agregado. Cada vez que você verticaliza a produção, você está gerando mais renda e emprego aqui dentro. Esta decisão da Largo é um grande avanço de mentalidade. Esperamos que outras empresas façam o mesmo”, pontuou.

O projeto, que será implantado em Camaçari, contará com três etapas: Na primeira, a produção deverá alcançar as 30 mil toneladas. A segunda fase, prevista para 2026, terá capacidade de beneficiamento de 60 mil toneladas. E a última etapa, quando estiver operando a plena carga, em 2029, serão 120 mil toneladas anuais. Produção que será destinada, em sua maior parte, ao mercado brasileiro.

A mina de vanádio, em Maracás, foi inaugurada no ano de 2014, pelo Governo do Estado da Bahia e o depósito do minério foi descoberto pelas pesquisas da CBPM, única estatal com foco em Pesquisa Mineral. Atualmente a CBPM conta com cerca de 10 áreas com produção ativa. Dentre os principais produtos temos o Níquel em Itagibá, o Vanádio em Maracás, e a Nefelina em Itarantim, e a Areia Silicosa, em Belmonte, (matérias-primas essenciais para a indústria de vidros e cerâmicas).

Perspectivas para os próximos anos  A mineração, que registrou em 2021, um crescimento de 86% na arrecadação da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) em comparação a 2020, deverá continuar em expansão. De acordo com dados do IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração), U$$41,3 bilhões serão investidos no estado de 2021 a 2025, sendo que, deste total, 47% já estão em execução e 53% programados. Com destaque para os investimentos em minério de ferro (U$$12.893 bilhões), bauxita (U$$6.484 bilhões), fertilizantes (U$$6.388 bilhões) e em ações socioambientais (U$$6.054 bilhões). 

Além desses, alguns projetos também ganham destaque como o da RHI Magnesita, em Brumado, com investimentos de U$$56 milhões na construção de um novo forno que prolongará a vida útil da mina dos atuais 47 anos para 120. O da Equinox Gold, empresa com instalações no município de Santa Luz, que está investindo U$$173 milhões para a produção de ouro (110 mil oz/ano durante os primeiros cinco anos de operação). 

Ainda na produção de ouro, a Yamana Gold, em Jacobina, está expandindo a capacidade de produção. Estão sendo investidos U$$57 milhões para elevar a capacidade de produção anual dos atuais 180 mil oz/ano para 230 mil onças até o segundo semestre de 2023.  Já a Mineração Caraíba, responsável pela produção de Cobre, está investindo U$$94 milhões em projetos de expansão da capacidade, infraestrutura de mina, execução nas minas localizadas em Jaguarari, Curaçá e Juazeiro. A empresa ainda indica investimentos adicionais em pesquisa mineral de U$$35 milhões/ ano, no Vale do Curaçá. 

Este conteúdo tem apoio institucional da CBPM e oferecimento da Mineração Caraíba.