'A guerra é entre eles, mas a população está acuada', diz moradora de Valéria

Tiroteio no domingo assustou: "O bairro todo em pânico. Foram muitos tiros"

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  • Bruno Wendel

Publicado em 25 de outubro de 2021 às 14:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Moradores de Valéria relatam um clima de temor que se instalou no bairro neste domingo (24), depois de um tiroteio que terminou sem feridos. Um vídeo mostrando o que seria um segundo tiroteio, próximo a uma escola, é na verdade de Belford Roxo (RJ), segundo a Polícia Militar. A escola suspendeu as aulas nesta segunda-feira (25).

O tiroteio na Rua Paulo Gonçalves, que não fica perto da escola, não teve feridos. A situação no local foi fruto de uma disputa entre facções rivais - o BDM tentando tomar território da Katiara. Na madrugada do sábado, também no bairro, duas pessoas foram mortas, incluindo um catador que foi confundido com traficante.

Entre os entrevistados, uma dona de casa que estava ontem com a família na casa de parentes. Todos confraternizavam pelo aniversário de um deles, quando os celulares tocaram quase que simultaneamente, ao mesmo tempo em que recebiam várias mensagens de alerta de outros moradores. 

“Foi horrível. As ligações e a mensagens eram para nos alertar que iam invadir todas as ruas, que iam tomar tudo. Aí foi um pânico total. A gente ouviu rajadas de tiros, grito de gente desesperada, vimos na rua pessoas passando mal e então saímos correndo com os nossos filhos no carro. O bairro todo em pânico. Foram muitos tiros e o ficamos desesperados porque havia parentes nossos ainda na rua e eles não perdoam, saem metralhando, não se importando com pais e mães de família”, contou ela. 

Por conta do medo, aliado à falta de segurança, os moradores estão se trancando em suas residências. “E o nosso pânico é esse. Eles querem tomar o bairro de qualquer jeito. Eles já disseram que sabem onde tem boca e vão invadir, vão tomar conta. Então, houve a invasão no sábado na Bolachinha, onde mataram o rapaz Fábio que não tinha nada a ver e agora vai ter essa revanche, né? E o nosso desespero é de não mais poder sair de casa. Quando dá 18h está todo mundo trancado”, disse ela.

Uma outra moradora contou que na hora dos tiros, pegou os filhos e se abrigaram debaixo da cama. “Eles não perdoam. Podemos passar e nossos veículos serem metralhados. É pânico. As pessoas ficaram debaixo das camas com o medo dos tiros atravessarem portas e paredes. Eu fiz isso ontem com os meus filhos.  A guerra é entre eles, mas a população está acuada. Até quando vamos viver isso? Estamos saindo e voltando para casa correndo com medo desses tiroteios, porque eles saem de bonde, acima de 30 homens, dizendo: ‘bota a cara, bota a cara’, mas eles vão na hora saber distinguir quem é envolvido e quem é pai de família? Se tiver na frente, toma tiro”, contou. 

Diante da situação, ela falou numa atitude drástica. “Não estamos aguentando mais. O bairro de Valéria quer paz. Precisamos sair, levar nossos filhos à escola, ir ao mercado, ir ao médico ... como vai ser isso no bairro? Se ninguém revolver isso, será que teremos que fechar as nossas casas e ir embora?”, questionou.

Aulas suspensas  As aulas no Colégio Estadual Professora Noêmia Rego, em Valéria, foram suspensas nesta segunda-feira (25) depois de relatos de um tiroteio nas proximidades da unidade. Segundo o subcomandante capitão Charles Edgard, da 31ª Companhia Independente de Polícia Militar (Valéria), as aulas foram interrompidas por conta de um vídeo que circulou nas redes sociais afirmando ser um tiroteio na rua da escola. As imagens, na verdade, são de Belford Roxo (RJ).

"A iniciativa foi do vice-diretor, que está cobrindo as férias do diretor. A motivação nós causou surpresa. As aulas foram suspensas com base em um vídeo, que já foi noticiado como um tiroteio na cidade de Belford Roxo, no Rio de janeiro. Não houve troca de tiros próxima à escola. O que aconteceu foi um confronto na Rua Paulo Gonçalves, local distante da instituição e sem feridos", diz o subcomandante. 

Em nota, a Secretaria da Educação diz que as aulas foram suspensas por cautela e serão retomadas amanhã de maneira presencial. "Por cautela, as aulas presenciais no Colégio Estadual Noêmia Rêgo, no bairro de Valéria foram suspensas e realizadas remotamente, nesta segunda-feira (25). As aulas presenciais serão retomadas nesta terça-feira (26)", diz. 

O bairro está sob ocupação policial. "O policiamento segue reforçado com a Operação Valeria, que está em vigor há quatro meses , com unidades no bairro, na Palestina e na Lagoa da Paixão. Na semana passada foram empregadas 42 viaturas e duas aeronaves da Polícia Militar", disse o capitão

Em agosto, depois de uma série de tiroteios, as aulas na mesma escola ficaram suspensas.