A ignorância e o mau-caratismo

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  • D
  • Da Redação

Publicado em 30 de janeiro de 2020 às 15:24

- Atualizado há um ano

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Há uma banalização da ignorância! Estamos, com toda certeza, no mar de vazios conceituais! Muitas palavras que estão na boca do povo são construções teóricas elaboradas, muito sofisticadamente, por grandes pensadores, filósofos e cientistas ao longo da história, que lutaram, anos a fio, queimando neurônios, em noites sem dormir, objetivando contribuir com o avanço do conhecimento, na tentativa de explicar a realidade, ou aproximá-la.

Diversos conceitos falados pelo cidadão mediano, que em geral não lê e não pesquisa, não foram devidamente analisados; pelo contrário, ele reproduz, levianamente, sem nenhuma reflexão, o que aparece à sua frente; despreza a origem e o contexto. A maioria simplesmente fala sobre algo sem nenhum aprofundamento, por vezes reforçando suas crenças e visões de mundo a partir do que é satisfatório a elas. Essas pessoas são facilmente seduzidas por demagogos e gurus que aproveitam a acriticidade popular. 

Conceitos científicos ou filosóficos, reproduzidos pelo senso comum, merecem ter maior atenção, senão corre-se sempre o risco de negar o conhecimento em favor de sentimentos arraigados; negligenciamos a objetividade, a racionalidade dos fatos e damos vazão a uma subjetividade que despreza o bom senso e o crivo da razão.

Enfrentamos um momento delicado, no Brasil e no mundo, nos quais os conceitos (exemplo, Democracia) são utilizados de forma desonesta, falsificada e deturpada por charlatões, logicamente destituídos de moralidade, que aproveitam a ignorância da população, desprovida de educação científica, a fim de desconstruir pilares colossais da civilização ocidental. Há grupos bem articulados, atualmente bastante atuantes e influentes na internet, de baixíssimo nível, revoltados com a ascendência secular da ciência, do pluralismo político e ideológico, do Estado Democrático de Direito, liberalismo, dos valores dos direitos humanos, defesa do meio ambiente, da diversidade cultural, sexual e religiosa. São revolucionários ressentidos que desejam passar por cima de tudo que está aí, e não abrem mão da mentira, da fake news, do mau-caratismo e do confronto.

Caros descobridores do conhecimento, se ater aos conceitos, mergulhar em teorias, no seu devido contexto, sua idealidade e facticidade, olhar o passado e suas experiências boas e ruins, é, em primeiro lugar,  abraçar a honestidade intelectual e moral; em segundo lugar, é ultrapassar a mediocridade e olhar a realidade por um filtro mais amplo e rico,   policromático. Lembremos: o melhor antídoto ao obscurantismo é o conhecimento, e este só é possível de perseverar contra a onda anti-intelectualista em voga, se todos concordarem com o farol da verdade. Temos que entrar num consenso sobre as regras do jogo, com critérios objetivos, vistos e revistos por qualquer um, e isso passa por defender o diálogo, a investigação, os fatos, a liberdade de consentir e dissentir e a própria sobrevivência da civilização contra a lei do mais forte.

Leitores amantes da verdade, não devemos perder de vista que a integridade moral e o conhecimento esclarecido, juntos e reforçados, pode nos libertar dos grilhões da ignorância, da ma-fé, da passividade e do comportamento de rebanho, tão comuns àqueles que preferem ser conduzidos do que pensar por si próprios.

Alan Rangel é doutor em Ciências Sociais/ UFBA. e professor da Faculdade Fundação Visconde de Cairu. 

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