Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2021 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Estamos vivendo num tempo em que o diálogo se torna cada vez mais necessário na construção da paz e para a convivência fraterna. O diálogo se torna tarefa irrenunciável num contexto sociocultural marcado, de um lado, por tanta agressividade e intolerância, de outro, pela indiferença egoísta. Precisamos dialogar mais no dia a dia e nos vários âmbitos da vida social. Contudo, é preciso aprofundar a compreensão que temos sobre o diálogo para poder concretizá-lo. A capacidade de dialogar serve de termômetro para avaliar a vivência da fraternidade e do respeito ao outro. A recusa ao diálogo pode expressar fechamento sobre si e a recusa de escutar.>
O diálogo exige primeiramente a escuta, a disponibilidade em aprender com o outro que pensa diferente. Exige proximidade, disposição para aproximar-se do outro para escutar, compreender e respeitar; não somente para falar. Não há espaço para o diálogo quando alguém se aproxima do outro apenas para convencê-lo de que está errado. Por isso, ao invés do orgulho ensimesmado, é necessário admitir as próprias limitações no conhecimento da verdade, para estabelecer diálogo. >
Entretanto, a atitude de respeito às convicções do outro não exclui a coerência com a própria identidade e a sinceridade. O autêntico diálogo não anula a identidade, não se confunde com a busca interessada do consenso fácil, nem pode ser ditado pela procura de vantagens. Somente quem tem sua própria identidade preservada poderá oferecer uma contribuição própria no diálogo entre diferentes.>
Em geral, a palavra diálogo logo faz pensar no relacionamento entre duas pessoas ou entre participantes de um pequeno grupo. É inegável a importância do diálogo entre duas pessoas, como por exemplo, na vida de um casal, ou entre os membros de uma família, ou de um pequeno grupo. È necessário, porém, que a prática do diálogo aconteça também em outros campos da vida social, especialmente, nos exigentes campos da política, da cultura e da educação, como caminho privilegiado de construção da fraternidade e da paz. >
As Igrejas e instituições da sociedade civil desempenham papel fundamental na promoção do diálogo amplo e sincero, não somente no interior de cada uma delas, mas no relacionamento com a sociedade. A opção pelo diálogo contribui para superar fundamentalismos e radicalismos que causam violência e dor. O Papa Francisco tem enfatizado em seus pronunciamentos a importância do encontro e do diálogo para uma nova cultura. Na sua carta encíclica Fratelli Tutti, encontramos uma abordagem profunda do “diálogo social”. O diálogo ecumênico e o diálogo inter-religioso têm sido promovidos por lideranças religiosas na construção da paz.>
O diálogo com Deus, expresso na oração, permite-nos dialogar mais com o próximo nas diversas situações e ambientes em que vivemos. Ao mesmo tempo, o diálogo com o próximo nos permite rezar melhor.>
*Dom Sergio da Rocha, cardeal arcebispo de Salvador>