A independência com guerras e conquistas

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

Publicado em 3 de julho de 2020 às 10:00

- Atualizado há um ano

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Sou mineira, vim para Salvador há 26 anos e foi uma surpresa para toda família – e para todos que vêm morar aqui – o feriado de 2 de Julho. Inicialmente, caem no julgamento que “é tanto feriado que o baiano não trabalha”. Puro preconceito. E ainda vem a segunda observação referente à fama de sossegado dos baianos: até para ficar independente os baianos são mais devagar.

Quando se estuda a história, a visão muda. Foi o marco da expulsão definitiva dos portugueses. Eu nunca entendi na época de estudante como essa independência brasileira aconteceu tão leve e rápida em um país de tamanho continental e em que houve tantas revoltas pré-independência. O fato de apenas uma pessoa à margem do Rio Ipiranga levantar uma espada e falar “Independência ou Morte!” e a independência estava feita não fazia sentido para mim, assim como assinar um documento de Abolição da Escravatura, não fez com que todos os escravos fossem libertos no dia seguinte.

Se ainda hoje há relações escravas com tanto acesso à informação, claro que, na época que as informações iam a cavalo, aceitar e legitimar a Independência do Brasil não se encerrou em 7 de setembro de 1822. Conhecer a história da Independência da Bahia fez muito mais sentido para mim em entender que houve luta, houve resistência, mártires e conquistas.

Infelizmente, não conheci o marco do 2 de Julho de 1823 na escola com a profundidade que merece a data. Sinto que essa imagem de independência pacífica que eu enxerguei enquanto estudante do século XX foi com o intuito de me cegar da competência que tenho em lutar por nossas vontades e direitos. É para esquecermos que temos força e podemos fazer levantes como na Independência da Bahia: uma população de civis, sem experiência em guerras, formada por donos de terras, comerciantes, marisqueiras, pretos, brancos, índios que ganhou de tropas portuguesas treinadas e com experiência em combates europeus.

Quando realmente conheci o 2 de Julho, foi em sua data de comemoração, participando do dia, já me sentindo uma soteropolitana, em que os atores são os baianos, que participam ativamente nessa data todos os anos. E essa celebração anual não é um desfile, como o 7 de Setembro, onde a população é espectadora, mas, sim, é o povo de novo nas ruas honrando sua historia, relembrando a vitoria. 

A data a cada ano se torna mais visível, com o destaque que merece. Primeiro, com a minha humilde contribuição como mineira em terra baiana, levando pessoas, inclusive soteropolitanos, para os festejos e explicando para os novos moradores e turistas que recebo a beleza do 2 de Julho. Também, desde 2007, a cidade de Cachoeira ganha destaque como capital da Bahia por um dia, relembrando que a região do Recôncavo Baiano foi o refúgio de soteropolitanos banidos da capital pelos portugueses como também foi a concentração do movimento para a definitiva expulsão dos portugueses.

Em 2010, o Hino ao 2 de Julho tornou-se o hino oficial da Bahia.  Há também a valorização das mulheres que tiveram participação notória na conquista – Maria Felipa, Joana Angélica e Maria Quitéria –, mulheres que contribuíram com diferentes e peculiares ações para chegarmos a vitória.

Esse ano, em que não pudemos acompanhar o cortejo das estátuas dos Caboclos até a Praça Tomé de Souza, devemos manter a história viva, cada um de sua maneira, pois quando ela assim está, nos revela nosso poder, o poder de um povo nordestino que vence apesar das adversidades.

Datas comemorativas, monumentos e museus não são apenas homenagens ou objetos antigos aglomerados em um espaço, são, principalmente, memória viva do que já fizemos para chegar onde estamos, para continuarmos acreditando em nossos ideais e que o que nossos antepassados fizeram não será em vão. Porque, como compôs Ladislau Dos Santos Titara, “Nunca mais o despotismo regerá nossas ações. Com tiranos não combinam brasileiros corações”.*Carolina Ribeiro tem 38 anos, é empresária. Nasceu em Minas Gerais, mas adotou a Bahia há 26 anos.