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Publicado em 19 de julho de 2021 às 05:00
- Atualizado há 10 meses
Rambo, veterano da guerra do Vietnã interpretado por Stallone, enfrenta tantos inimigos quanto traumas e expõe sua maior mágoa: a recepção em casa. Na visão dele, arriscou a vida para defender o seu país, mas quando retornou esperando homenagens foi hostilizado e chamado de assassino. A sensação relatada por ele certamente é semelhante ao de muitos policiais brasileiros e devemos refletir sobre isso, pois há consequências graves.
Policiais também arriscam a vida no seu dia a dia e acreditam estar se sacrificando pela sociedade. Assim como a Guerra do Vietnã, a Guerra às Drogas é uma farsa. Nenhum dos dois casos é realmente motivado pelo bem comum. Nas duas situações, há o massacre de um povo. Por aqui é o povo negro. Nem Rambo nem praças da PM são os responsáveis pela existência dos conflitos e pela lógica dos combates. Também são vítimas.
A Bahia tem a segunda PM mais letal do país, mas o gatilho é apertado por pessoas que não serão acusadas pelas mortes. Começa pela formulação de políticas de segurança baseadas no confronto contra os pobres e na demonização de grupos classificados como inimigos. Contra os estudos criminológicos, as esperanças e responsabilidades pela redução da criminalidade são concentradas na atuação repressiva.
A violência e o racismo percebido em atuações da Polícia dependem da complacência ou estímulo vindos da violência e do racismo do sistema de justiça e dos poderes. Quando se mente para a população sobre o que funciona, joga-se no ombro dos agentes de segurança toda a responsabilidade e pressão. O único ator cobrado efetivamente pela criminalidade e pelos abusos é o único que está nas ruas.
Muitos agentes de segurança são seduzidos por lideranças autoritárias e oportunistas pela forma hábil com que estas manipulam o seu sentimento de injustiça. Alguns soldados ainda não percebem que eles contribuem apenas para a sua degradação e ganham muito com ela. O diálogo e o debate racional sobre segurança pública, que evite o populismo penal e a cooptação são urgentes.
São inaceitáveis a relativização de chacinas e execuções e a defesa de operações sangrentas. Cartilhas de abordagem, como a preparada pela Defensoria, bem como políticas de controle e estímulo, como uso de câmeras, a premiação pela redução de autos de resistência e formação humanística permanente são medidas necessárias, assim como a efetiva defesa quando são acusados. Direitos humanos servem a toda a sociedade.
Os bons policiais precisam ser acolhidos e diferenciados, dentro e fora da corporação, para que se entenda que a melhor polícia é a que menos mata e a que é menos temida. Rambo é um péssimo modelo. Mas, precisamos olhar também além dos fardados.
Rafson Ximenes é defensor público geral da Bahia