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Nelson Cadena
Publicado em 21 de maio de 2020 às 05:00
- Atualizado há um ano
O Brasil atravessou a sua primeira grande pandemia, o surto de febre amarela de 1786, sem nenhuma cobertura de mídia por que nem mídia tínhamos, os canais de informação reduzidos ao bate boca; quem tinha recursos e sabia ler recebia as noticias por carta e passava adiante, nem sempre informação confiável diante das incerteza dos médicos desde a natureza e diagnóstico da doença até os procedimentos de cura. Antes disso, entre 1559-1562, expressivo contingente dos povos indígenas da Bahia e Espírito Santo foi dizimado por várias doenças sem nome; em 1563 pelo sarampo e na década de 1580 pela varíola. Provavelmente receberam de parte dos jesuítas informação enviesada, fazendo-os crer em punição divina.
A incerteza quanto a natureza das doenças fez com que em meados do século XIX quando a Bahia em especial foi vítima, primeiro pela febre amarela (1849) e após por um surto incontrolável do Colera Morbus (1855), a mídia nominava os eventos como “epidemia reinante”. A expressão era recorrente entre os médicos, fonte de informação dos jornais que circulavam na época: Jornal da Bahia, o único com circulação diária; O Noticiador Católico, abordando o assunto do ponto de vista de castigo de Deus; O Guaycuru e a Verdadeira Marmota, dentre os mais polêmicos.
O jornal, em todo caso, tinha quase nenhuma influência sobre a população, mais de 90% de analfabetos, naqueles idos. Era um veículo elitista com ascendência sobre a administração pública, senhores de engenho e grandes comerciantes, importadores e exportadores. A população não tinha nenhuma informação sobre a “epidemia reinante”, nem sabia direito o que era. O povo obedecia e rezava como mandavam. Os jornais faziam política em torno do assunto, quem era oposição culpava o governo, quem era situação defendia as providencias tomadas.
Surgem nesse período crítico das pandemias de meados do século XIX, quatro publicações médicas: O Atheneu da Faculdade de Medicina, fundado pelo futuro eminente dicionarista e bibliógrafo Sacramento Blake; o Acadêmico, redigido também por estudantes e validou o uso do Sulfato de Quinina proposto pela Santa Casa de Misericórdia; O Médico do Povo, gazeta homeopática do Dr. Melo Moraes e o Boletim da Saúde Pública, órgão oficial. A partir de 1864, quando surge a Gazeta Médica da Bahia, ganhamos uma fonte de informação confiável e respeitada, inclusive no exterior.
A pandemia da Gripe Espanhola de 1918 foi curta e chegou nos jornais da terra praticamente com um mês de atraso após os primeiros casos revelados em Salvador. Na Bahia então circulavam seis jornais diários e várias revistas. Por ter surgido e se espalhado nos campos de batalha da II Guerra Mundial a mídia abafou a informação, com exceção da Espanha que por ter noticiado o que ocorria na Europa acabou levando a fama sem tem nada a ver com o território onde a doença se originou. A população foi mal informada e confundida pela propaganda que anunciava meia dúzia de remédios supostamente eficientes para conter a epidemia.
A pandemia do Covid19, foi a primeira, na história, a contar com notícias em tempo real em todas as plataformas de mídia. Overdose de informação apesar de seu contraponto, os fake News. De alguma maneira a mídia contribuiu para alertar bilhões de pessoas e instruir de como conter uma propagação que poderia ter sido pior sem informação. A Espanhola matou 50 milhões de pessoas desinformadas, atualizando a população (1,8 bilhão em 1920 para 7,5 hoje) seriam mais de 200 milhões. A imprensa é a nossa melhor aliada, independente de linhas editoriais e da política que como nas epidemias do passado mais atrapalha do que ajuda.