A mídia estrangeira na Bahia

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  • Nelson Cadena

Publicado em 16 de setembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Os baianos liam revistas estrangeiras, muitas, que circularam nas últimas décadas do século XIX e primeiras décadas do século XX. Podiam ser adquiridas, dentre outros estabelecimentos, nas boticas que também eram pontos de venda dos jornais. Liam em especial as revistas francesas. Os bons colégios da cidade formavam alunos que falavam fluentemente o francês, dentre outros idiomas.

Quais as publicações estrangeiras que líamos neste lado dos trópicos?  E qual a sua influência? A mídia estrangeira nos forneceu elementos para desenvolver um estilo, inicialmente opinativo engajado, mais tarde o opinativo rebuscado, quase barroco, e finalmente informativo com abrangência para a reportagem. E na modernidade da Belle Epoque, a fotografia artística e o design das capas.

Nessa transição, passamos por influências de identidade visual dos veículos: a caminhada entre as vinhetas confeccionadas em xilogravura, passando pelo desenho gorduroso na pedra, até o domínio das técnicas fotográficas e a sua impressão com nitidez, através do popular clichê. Aprendemos com os outros a diagramar, e no caso específico das revistas, ontem e sempre, inspiramo-nos em magazines europeus, ou americanos.

 Desenvolvi uma metodologia para identificar as publicações estrangeiras que circulavam entre nós. Basta consultar os catálogos das bibliotecas públicas para se ter uma noção de qualidade e diversidade, mas para se aferir a quantidade e penetração desses veículos só há um caminho: os sebos. É nessas livrarias especializadas em livros e revistas antigos que de fato podemos rastrear os títulos estrangeiros mais em evidência.

E nesse quesito nenhum título supera a revista francesa "L' Ilustration" que se encontra com facilidade, em particular as coleções entre 1890 e 1920. Foi no "L' Ilustration que o Barão de Tefé foi buscar referências gráficas e de conteúdo em 1901 para fundar a Revista da Semana. Os baianos cultos liam francês e daí o sucesso das revistas parisienses entre nós. Em especial " L' Ilustration" e "Le Petit Journal" no início do século e, a partir dos anos 20, "Lectures por Tous", "Revue des Modes" e a de maior penetração, a "Je Sais Tout". As três últimas inspiraram revistas brasileiras do mesmo nome: "Leituras para Todos" "Revista da Moda" e "Eu Sei Tudo", mediante um sistema de franquia semelhante ao de "Seleções".

Os paulistanos liam "Il Sécolo XX" e "La Lettura" revistas italianas que ainda hoje se encontram com facilidade em alguns sebos dessa cidade. Os baianos preferiam a revista espanhola "A Vida Galante". Aqui circulava também a inglesa "The Spere", a revista cuja capa era toda de anúncios e “The Ilustration", a inglesa, do gênero da revista francesa do mesmo nome aqui referida. No Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia a "Revista Ilustrada" de Lisboa, inspiradora de "A Ilustração Brasileira", também tinha o seu nicho.

A partir da década de 1920/30 as revistas em idioma inglês ganham mercado. Primeiro o Time que inspirou Chateaubriand a fundar "O Cruzeiro". Imitava-lhe as capas. Mais tarde o "National Geographic" e o "Reader's Digest" que a partir de 1942 passou a ser editada em idioma português. Nos anos 1950 os brasileiros liam a revista "Life" que inspirou "Manchete"; as mulheres recortavam os moldes da revista alemã "Burda", publicação obrigatória nas salas ou cantos de costura das residências tradicionais e outras nem tanto. Nos anos 1960 líamos "Vogue" a revista de moda e estilo mais influente do mundo, o título licenciado para a Carta Editorial no Brasil, muitos anos depois.

Mais tarde descobrimos as revistas eróticas. "Play Boy" e "Elle" fizeram escola, eram adquiridas em pontos de venda sofisticados e custavam caro. As duas foram licenciadas por editoras brasileiras. A primeira popularizada, um dos títulos de maior circulação da Editora Abril. Circulou de 1975 até 2017.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras