A montanha

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  • Nelson Cadena

Publicado em 21 de outubro de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Ascendeu em mim a percepção de que a montanha seja a realização do lado espiritual do homem. Escalar montanhas, subir colinas, enxergar o mundo de cima conforta nosso espírito. Avaliamos essas experiências como qualidade de vida, saúde, aventura. No fundo  no fundo são vivências espirituais ainda que não tenhamos consciência disso.

A montanha é nosso desejo mais íntimo, mesmo residindo em cidades como Salvador, à beira-mar. Buscamos o conforto espiritual na Colina da Igreja do Bonfim. Admiramos o Cristo do Barra no topo de um montículo geográfico. No ponto mais alto de Mar Grande, Ilha de Itaparica, os teosofistas ergueram o templo em forma de pirâmide, representação dos três pontos espirituais, ou de energia, do Brasil.     

Os nossos antepassados ergueram no século XVI e XVII, igrejas, locais de oração, a maioria com a frente voltada para o azul do mar nas colinas da Vitória, Graça, Sé, Ajuda, São Bento e, no interior, Candeias, Porto Seguro e Nossa Senhora da Ajuda, dentre outros. Em Serrinha, os fiéis sobem a montanha na procissão dos fogaréus da Quinta Feira Santa, até a igrejinha de Nossa Senhora de Santana. Em Jacobina, pela mesma época, os devotos sobem as escadarias que levam ao Alto do Cruzeiro e fazem oferendas na pequena capela.

Foi no alto de uma colina que Jesus Cristo celebrou o famoso Sermão da Montanha com as bem-aventuranças que o apóstolo e evangelista Matheus legou ao mundo cristão. E foi no Monte das Oliveiras, um forte simbolismo, que os pretorianos romanos prenderam o Nazareno. Antes, Moisés subira a montanha do Sinai para receber a Constituição espiritual, o catálogo dos dez mandamentos. Foi na montanha de Abu Cubais, na fronteira oriental da cidade Meca, que Maomé mostrou o milagre de quebrar a lua em dois pedaços e recolocá-los de novo, segundo a lenda.

Outra lenda reza que, tendo os árabes pedido a Maomé a realização de um milagre como prova de seus ensinamentos, o profeta teria ordenado que o monte Safa viesse até ele, de onde surgiu a máxima “Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha”. Foi a montanha o ambiente que Nietszche desenhou para Zaratustra, lá adquiriu sabedoria, em vinte anos, antes de descer a colina para espalhar seus ensinamentos. Nas montanhas do Nepal, Buda experimentou a meditação e o jejum para atingir a iluminação. Nas montanhas do Tibete, os budistas entronaram o Dalai Lama e todas suas reencarnações.

Incas e aztecas construíram suas civilizações nas montanhas com todo o componente de espiritualidade que elas representam nos seus templos e altares de sacrifícios e oferendas. As montanhas da Sierra Madre abrigaram a civilização Maia.

No que me diz respeito, nasci em Bogotá entre montanhas. Ainda criança, subia a montanha com minha mãe todo final de ano para colher o musgo, os pinhões e outros elementos da natureza para o presépio e decoração de Natal e, já adolescente, subia a montanha para supostamente meditar na posição de loto, sob influência de um livro intitulado “Filosofia Yogi”, de Yogi Ramacharaka. Não sei se meditava de fato, mas subir a montanha me confortava. Nem imaginava que a montanha me inspiraria outros caminhos, outros horizontes, muito menos que um dia deixaria o ambiente da montanha para me reinventar numa busca que hoje almeja montanhas. Qualquer que seja o significado disso.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras