A pandemia e o papel de todos

É possível reduzir danos,  desde que todos os estratos da sociedade assumam a responsabilidade que lhes cabe na prevenção da Covid-19

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Publicado em 13 de março de 2020 às 10:21

- Atualizado há um ano

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Como era esperado, a disseminação veloz do novo coronavírus atingiu nível pandêmico, em meio a saltos exponenciais no número de casos confirmados e de países afetados diretamente pela doença. A mudança de classificação, declarada quarta-feira pela Organização Mundial de Saúde (OMS), confirma a impossibilidade de conter o avanço global do Covid-19, independente das técnicas e esforços que vêm sendo empregados nos últimos dias.

Diante de um quadro de tamanha gravidade, com reflexos desastrosos sobre a economia, evitar a transmissão interna deixou o espectro das coisas factíveis para muitas nações, incluindo o Brasil. Em contrapartida, é possível, e muito, reduzir danos. Desde que todos os estratos da sociedade assumam a responsabilidade que lhes cabe na pandemia. A começar pelo cidadão comum. Agora, é dele o papel mais importante para impedir que o coronavírus se espalhe de forma descontrolada.  

O atual estágio da infecção mostra, de maneira incontestável, o quanto é necessário e urgente refletir sobre um traço comum à maioria dos brasileiros: a falta de cuidado com a vida e a saúde do outro. Tal característica é facilmente vista no modo como milhares de pessoas agem no trânsito, na desimportância com a qual se atira lixo nas ruas, no descumprimento contumaz de regras criadas para proteger o espaço, o direito e a integridade física dos demais cidadãos.

Essa cultura do menosprezo e do desleixo ao alheio, seja em relação a pessoas distantes, próximas ou até a si mesmo, se tornou ainda mais visível quando surgiram os primeiros casos confirmados da doença em território nacional. Sobretudo, após a constatação de que o vírus, antes restrito a pacientes que haviam viajado para países da zona de risco, começou a ser disseminado internamente. 

Exemplos não faltam. Em Brasília, o marido da primeira paciente acometida pela doença no Distrito Federal ignorou recomendações das autoridades em saúde pública, desprezou apelos para que adotasse isolamento voluntário e circulou pelas ruas da capital federal sem qualquer tipo de preocupação com o perigo que levava aos demais. Dias depois, foi diagnosticado com Covid-19. Antes, porém, espalhou a doença de maneira irresponsável.

Cidadãos que apresentem sintomas semelhantes aos de uma gripe comum ou que tiveram contato com infectados precisam compreender de uma vez que, no momento, eles também são prováveis portadores do coronavírus e têm o dever de proteger a vida do próximo. A postura vale para todos os ambientes e ocasiões, do trabalho ao convívio familiar, das obrigações diárias aos eventos festivos, da escola à igreja. 

Aqueles que aparentemente ainda estão livres do vírus também têm responsabilidade com a própria saúde. Cuidar com atenção da higiene pessoal, hábito não muito comum em parte considerável dos brasileiros, virou mecanismo fundamental de autopreservação. Gestos simples, como lavar as mãos corretamente ou conter espirros e tosses com o braço, ajudam bastante a atravessar a pandemia sem elevados danos. 

Empresários, políticos, governantes, gestores e técnicos na área de saúde, educadores, pesquisadores, jornalistas, lideranças com lugar de fala e influenciadores digitais têm como missão emergencial alocar todos os recursos humanos e materiais disponíveis para conter o estrago. No pacote de tarefas, estão cuidar e tratar de pacientes infectados, examinar casos suspeitos, adotar o adequado protocolo de vigilância epidemiológica, combater a desinformação e a indústria de fake news, esclarecer, orientar e instruir. O risco de ser afetado pela pandemia é para todos. A responsabilidade com ela também.