A parcela de culpa do eleitor

Por Aninha Franco

  • D
  • Da Redação

Publicado em 22 de setembro de 2018 às 10:11

- Atualizado há um ano

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Em três semanas, nós participaremos de um acontecimento que nenhum de nossos antepassados conseguiu antes. Votaremos pela 8ª vez, consecutiva, para eleger um presidente da república, sem que golpes e “revoluções gloriosas” alterassem o fluxo democrático brasileiro que caminha com tepêemes monumentais, mas sem interrupções. E apesar dos males que nos afligem – a desigualdade, a violência, a deseducação –, essa conquista faz do Brasil uma República evoluída da republiqueta do samba, carnaval, futebol, mulatas e golpes civis/militares do século 20.

Além de escolher o/a presidente, nossa ida às urnas decidirá que brasileiros conduzirão as reformas na educação, na política e no sistema fiscal colossal que nos penaliza. Sem educação, a política é esse espetáculo circense que aí está, e os impostos colossais que recolhemos, os ricos menos que os pobres, escorrerão pelo ralo da corrupção e da incompetência para sempre. É surreal que moradores de rua paguem impostos na compra do pão cacetinho com café e da pinga necessária pra suportar o cotidiano, e esses impostos não os tirem das ruas.

Eles e nós, ralamos todos, muitos meses do ano, para bancar deputados federais e estaduais que contrataremos ou recontrataremos no dia sete de outubro, pelo voto, e que nos custaram e custarão, a unidade, milhões de reais durante quatro anos de mandato. Um deputado federal custa ao Brasil, mensalmente, R$ 179 mil, um deputado estadual, na Bahia, custa R$ 157 mil, e o Senado custa ao Brasil, por mês, 3 milhões, 72 mil e 433 reais para, para? Para quê, João Durval? Para quê, Lídice da Matta? Para quê, Walter Pinheiro?

Quando os eleitos desviam impostos para aumentar seus patrimônios, quando recebem porcentagens em licitações fraudulentas e obras superfaturadas, os prejuízos são incalculáveis, e nossos votos são corresponsáveis por eles. Mas mesmo quando eles não roubam e não fazem nada, nenhum projeto que sirva à sociedade que os elegeu, os prejuízos são enormes, porque milhares trabalharam para sustentar centenas que não trabalharam. Ou trabalharam contra.

Por isso, quem não escolheu até agora um deputado estadual, deputado federal, senador, governador e presidente para votar que, nos próximos quatro anos, estarão contratados a fazer da Bahia e do Brasil um estado e um país melhores, concentre-se na escolha, nos próximos dias, pensando em três prioridades conectadas entre si: Honestidade, Currículo de Realizações e Propostas a Realizar.

Não adianta deplorar a corrupção na política, e declarar que neste ano, de 2018, votar nulo é um bom negócio. O Brasil não precisa de mais nenhuma nulidade! Ele tem tudo para promover o bem-estar dos brasileiros. Necessita, apenas, de políticas públicas que pensem, executem e punam quem desviá-lo da rota.

Esta trilha, este texto, foi escrito e publicado em setembro de 2010. As alterações são gramaticais ou foram atualizadas numericamente. O problema do Brasil, com a Bahia dentro, é que este texto está tão ou mais contemporâneo do presente do que quando foi escrito, no passado, há oito anos.

*Aninha Franco é escritora e pensadora.