A preço de placa de ovo: quilo de camarão fresco chega a ter queda de 44% na pandemia

Camarão fresco médio foi encontrado a R$ 16,90 o quilo em Lauro de Freitas; preço normal para a estação é de R$ 30/kg

  • Foto do(a) author(a) Marcela Vilar
  • Marcela Vilar

Publicado em 6 de julho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

O carro do ovo ganhou um novo concorrente nesta pandemia: o camarão. Encontrado  normalmente  nas feiras e mercados por um preço  médio entre R$ 22 e R$ 45, o quilo do produto fresco, tamanho médio - que tem entre 16 e 23 gramas  (g) -   chegou  a ser vendido  por  R$ 16,90 na feira livre  do centro de Lauro de Freitas, na última sexta-feira (3). Antes do coronavírus, o preço do camarão na barraca  de Marcos custava R$ 25. “Todo mundo baixou o preço, se não ia  quebrar”, disse o vendedor, assinalando ainda que sua clientela mudou: “Agora o público final é o povo”. 

O mesmo aconteceu com a barraca de Cláudio Oliveira, que vendia o crustáceo por  R$ 32/kg. “Agora com tudo fechado, restaurante não compra mais, nem hotel, nem barraca de praia. Se não vender barato, não tem como vender”, contou  Oliveira, que reduziu o preço do camarão de 20 gramas para R$ 20. 

Com a promoção, quem entrou para a freguesia foi Patrícia Moura, representante comercial. “Foi a única coisa que caiu de preço”, diz ela, que costumava comprar a mesma gramatura por R$ 30 /kg no mercado. “Vou passar a comprar mais, porque o preço tá melhor do que da carne vermelha”.

Na barraca de Cláudio - conhecida como Cláudio Pescados, onde  Patrícia fez a compra -  pelo menos 80% das vendas são agora para consumidores comuns, o que antes representava apenas 50% das vendas. Na barraca de Marcos, o índice também cresceu e os consumidores individuais, que eram em torno de 30%, fazem parte agora de 70% do total da clientela. 

Na Praça Arcanja, ainda em Lauro de Freitas, o quilo do camarão fresco de 14 gramas varia entre R$ 13,99 e R$ 21. “Já peguei fila de quase uma hora para fazer meu pedido por causa da promoção”, disse o engenheiro Bento Braga, 59, cliente fiel da  Casa do Marinheiro. Do outro lado da praça, no Empório Pacífico Azul, o camarão pequeno, que estava a R$ 20, terminou  antes das 10h30. “Não é lucrativo mas atrai o cliente para a loja”, justifica a dona da pescaria, Andrea Giffoni. “Às vezes eu pago 20 e vendo a 22. Faço por questão de sobrevivência”, completa.

Inverno Porém, esses não são os preços normais do pescado nesta época do ano. Segundo o presidente da Associação de Criadores de Camarão da Bahia (ACCBA), Aristóteles Vitorino, o camarão de 20 gramas, que foi encontrado  a  R$ 16,90 pelo CORREIO, deveria custar nesta época  a R$ 30/kg. A média atual do mercado é de R$ 20. Ou seja, a redução no preço chegou até 44%. Agora no inverno, quando a produção é menor por conta do clima (camarão não gosta de frio nem de chuvas), o preço deveria subir, como é de praxe todos os anos, voltando a ficar mais baixo em dezembro, quando a produção aumenta. 

De acordo com a Bahia Pesca, a baixa se explica principalmente pelo fechamento de bares, restaurantes e meios de hospedagem por conta da pandemia. Dessa forma, os produtores ficaram com camarão  estocado, ou seja, a oferta se manteve, mas a demanda caiu, o que provocou a queda nos preços. 

Os produtores têm um custo médio de produção de R$ 13/kg para um camarão de 12g e foram forçados, nos últimos meses, a vender o camarão a R$ 11/kg, ou seja, abaixo do preço de custo. Foi o que aconteceu na fazenda Marway Camarões, em Canavieiras, região baiana que mais produz o crustáceo. “Ninguém tá comprando nada por causa da pandemia”, informou o proprietário Wanderlei Pinheiro. A redução no volume de vendas para o mercado direto a restaurante e hotéis foi de 80% nos meses de abril e maio quando comparado ao mesmo período do ano passado. A fazenda teve que, então, reduzir o preço em 30% para poder escoar o produto. A produção da fazenda é de 10 toneladas por ciclo, que dura 120 dias. Por ano, são quase 40 toneladas. 

Também houve gente que começou a vender camarão durante a pandemia. O empresário Cláudio Ribeiro, que é dono do restaurante Cana Caiana, na Pituba, encerrou temporariamente os trabalhos no estabelecimento para vendê-lo in natura, além de outros frutos do mar. “Estava inviável trabalhar só com delivery”, esclarece. Por isso, ao invés de já vender a moqueca pronta, ele agora comercializa a matéria-prima para ajudar a pagar os boletos. 

Na última semana, com a reabertura gradual de setores de maior consumo em algumas cidades baianas, houve uma reação no preço do insumo na fazenda, chegando a R$ 15 o camarão de 12g e R$ 23 o camarão de 18g. Porém, o valor é praticamente igual ao custo de produção. O presidente da ACCBA Aristóteles Vitorino prevê ainda um aumento no valor do crustáceo nas próximas semanas com a retomada da economia e abertura do comércio. 

O Nordeste é líder em produção de camarão no Brasil. A Bahia, que já esteve em segundo lugar no ranking com produtividade anual de 8 mil toneladas, desceu para a 5ª posição. Os maiores estados produtores de camarão no país são, respectivamente, o Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão e Sergipe. Houve também queda de quase 20% na produção do crustáceo em relação ao ano passado na Bahia: foram 1700 toneladas de janeiro a junho de 2019 contra 1400 produzidas neste ano, informou a ACCBA. 

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro