A Sexta é Santa, eles, não: basquete de saia vira tradição no Rio Vermelho

Regado a muito vinho, evento acontece há quatro anos

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  • Bruno Wendel

Publicado em 19 de abril de 2019 às 15:06

- Atualizado há um ano

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. por Evandro Veiga/CORREIO

Desde que o mundo é mundo, o tradicional baba de saia, regado a litros e litros de vinho, é farra de muita gente na Sexta-feira Santa, pelas comunidades de Salvador. Mas, neste dia, você já ouviu falar do basquete de saia? Pois é. Tem uma galera que prefere trocar o gol pela cesta - mesmo em pleno feriado.

A ideia de realizar o evento na Semana Santa surgiu há quatro anos. O encontro acontece no bairro do Rio Vermelho, com homens vestidos com roupas voltadas para o público feminino. 

“Eu e uma turma de amigos somos fominha do basquete. Jogamos diariamente. Mas aí, um dia, decididos estender a nossa paixão pelo esporte e criamos o basquete de saia. Mantivemos a tradição do baba de saia. A gente veste de mulher, bebe vinho à vontade, mas só que jogando basquete”, explica o agente de portaria Jonatas Lima, 30 anos, que na partida usava a saia com desenho de ursinho e uma blusa estampada da filha.  Jonatas teve ideia do basquete de saia há quatro anos (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) O jogo rolou solto. O apito inicial foi por volta das 11h, na Praça do Pau Brasil. Saias, vestidos, tops e bodys se misturam às maquiagens berrantes, meias de todas as cores e tons, pêlos, barbas, barriguinhas avantajadas e suor, muito suor. Tudo isso numa quadra de 10 metros, onde dois times arremessavam numa única cesta. “A gente se diverte mais do que tudo. Estão aqui amigos antigos e recentes”, declarou o vendedor Carlos Bahia, 31. 

Ele usava apenas uma saia azul da noiva – a maquiagem já havia derretido por conta do sol. A companheira faz questão de assistir ao jogo. “É muito divertido. É uma brincadeira para toda a família. Eles passavam horas aqui e a gente também vem, porque gostamos da farra”, brinca a assistente comercial Cleide Brito.  Carlos Bahia pegou saia emprestada da noiva (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Novato Com um body e uma saia branca, o pernambucano Anderson de Paula, 32, foi o cestinha - jogador que marca mais pontos - de uma das partidas. Em Salvador há cinco anos, ele fez sua estreia no evento.

“Lá na minha cidade, vivi do basquete amador dos 14 aos 20 anos, jogando no Sport, Náutico e outros times. No entanto, lá nunca teve nada disso. Aqui, sou novato. É divertido, mas é muito louco jogar usando essas roupas que apertam demais, bebendo vinho, num sol desses. Não é para qualquer um, mas estou gostando. É a primeira vez em minha vida que uso saia”, brincou Anderson, que pegou as roupas da mulher.  Johnson e Ludielson se esbaldaram no vinho (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Enquanto a partida rolava na quadra, a plateia se esbaldava com um garrafão cheio de vinho. Um dos que não largou o copo foi Johnson Santos, 30, que se intitulava o guardião da bebida.

“Aqui, para cada copo dado, bebo dois”, disse ele, usando um conjunto de top e saia florida. Caixas térmicas guardavam a bebida, de marcas e tipos diferentes.  “Tem para todos os gostos. Do popular ao de porte médio. O importe é beber. Se vai conseguir jogar depois são outros quinhentos”, disse Ludielson dos Santos, 31, gargalhando.

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Baba de saia Já no bairro do Uruguai, a tradição do baba de saia foi mantida. Por volta das 7h30, homens vestidos com roupas de mulheres foram distribuídos em oito times, que jogaram na quadra da Escola Municipal Santa Bárbara. “Esse baba já existe há quatro anos e faz a alegria da galera do Uruguai”, declarou o vendedor Leandro Palmeira da Fonseca, 32, um dos idealizadores da brincadeira. Baba de saia também é tradição (Foto: Marina Silva/CORREIO) Após as partidas, encerradas às 10h, os jogadores se juntaram com amigos e parentes para um desfile no bloco das Poderosas, que neste ano sai fantasiado de marinheiras.

“Este ano calculamos que participaram umas 500 pessoas. Ano passad,o saímos com a metade”, disse Leandro. O bloco sai da localidade do Bate Estaca e vai até o Caminho de Areia. Depois, retorna pelo mesmo trajeto.