Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 6 de julho de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Nasceu o sol a 2 de Julho, meti meu tênis e fui ver a rua. Maria, 9 anos quase 10, foi junto, no rastro de Tia Maca. Encantou-se com as fantasias, com os encourados (desmontados) em protesto e com as jovens balizas das escolas públicas. Mas, quando perguntada se queria desfilar em coreografia, disse que preferia tocar no chupa-catarro. É justo. >
Logo de saída, é preciso registrar que, repetindo os últimos anos, Bira do Jegue (ou “O mímico”, segundo Maria), desjegado que está, passou pela Soledade um tanto melancólico, o que só depõe contra sua identidade e contra todos nós.>
Por outro lado, em coerência com a data máxima, Franciel e outros brigadistas rubro-negros exibiam Marighella no peito. Já na descida dos Perdões, lá estavam os tricolores Alex e Andrezinho, atentos a tudo, no meio do assunto boleiro, claro, mas com a cabeça antecipando o feijão de logo mais no Santo Antônio. Conhecem.>
Falando em assunto boleiro, houve uma unanimidade nas manifestações. Não, não foi a “nova” Previdência do barril, também não foi o juiz comprado no vestiário da Lava Jato e muito menos o dar de ombros dos governos, federal e estadual, para as universidades.>
Da Lapinha ao Terreiro de Jesus, aquelas milhares de pessoas (ou pelo menos as seis ou sete que tocaram neste assunto) tinham uma reivindicação que a todas unia: o jogo do Brasil deveria ser mais cedo.>
Mas, observe, caro leitor ou bela leitora, não se tratava de uma preocupação desportiva. Ninguém tava dando muita bola pro fato de ser Brasil e Argentina, aquela coisa de todos contra Messi ou de um eventual fantasma do 7x1 revoar novamente sobre as colunas do Mineirão. A questão tinha, digamos assim, um fundo cívico-mundano.>
Senão vejamos: todo mundo saiu de casa cedo, quem gosta bateu aquele feijão por volta das 7h e muitos abriram os trabalhos antes do horário comercial. Entre fanfarras, sambas duros e protestos dos mais diversos, a cidadã baiana ou o cidadão baiano percorreu o Corredor da Lapinha, cruzou a Soledade, subiu pro Santo Antonio, passou por aquele aperto bom da Cruz do Pascoal, se achou e ficou por ali mesmo ou esticou até o Terreiro, com a Ladeira do Pelô no meio, não esqueçamos.>
Quando vai dando meio de tarde, não há quem não esteja moído, por mais resistente que seja. Outro prato de feijão ajuda a dar sustança, mas a luz vai caindo e só fica mesmo a turma da resistência. Era nesse momento, diziam em coro os manifestantes, que o Brasil deveria entrar em campo, pois não haveria melhor vitamina para todos estenderem um pouco mais a própria Batalha da Independência.>
Sabemos, no entanto, que é difícil sair algo que preste da Conmebol. Na tabela do torneio, meteram o jogo quase 10 da noite e, de acordo com estatísticas as quais só eu tive acesso, a audiência em Salvador foi bem baixa, pois muita gente chegou da rua, tomou aquele banho frio e... lona!>
E Maria nisso tudo? Foi embora perguntando (se escalando) a Tia Maca se ano que vem ela podia ir junto de novo. Nada, nada, ganhamos mais uma pra batalha.>
Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados >