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Da Redação
Publicado em 26 de janeiro de 2020 às 05:05
- Atualizado há 2 anos
Escrevo esse texto dentro de um avião, a caminho de São Paulo. Vou cumprir minha rotina semanal de pontes aéreas pelo Brasil. São mais de 4 horas entre idas e vindas, além do tempo dentro de táxis e ubers. E o tempo vai se esvaindo entre os dedos das minhas mãos. "Tempo, Tempo, Tempo, Tempo. Compositor de destinos. Tambor de todos os ritmos”, na tradução sensível e singular de Caetano. Por vezes me pego buscando compreender o racional do compositor e prever qual o próximo acorde que este "senhor tão bonito" está compondo na minha vida.>
Já estamos no final de janeiro de 2020. Passou rápido aí na sua agenda? Na minha, foi um sopro. Parece que o tempo está correndo mais do que o normal. Ou será que estamos acelerados demais para o que nós - humanos vulneráveis ao Tempo - somos capazes de suportar de forma sã? Velocidade fala de ritmo. O que me faz lembrar do meu tempo de adolescente quando estudava violão clássico. Havia duas habilidades que sempre me deixavam mais apaixonado por música: a importância da dinâmica musical e o compasso perfeito entre acordes. Aprender os nomes das notas, desenhar partituras e até mesmo posicionar os dedos no braço do violão não são a tarefa mais difícil no processo de aprendizado do instrumento. Mas fazer tudo isso com a cadência correta e transformar numa melodia que, através de suas vibrações, seja capaz de tocar o mais profundo do coração e da mente de alguém, este sim é o verdadeiro desafio. É matemático, mas não tão exato assim.>
O avião pousou. Vida que segue. Fecho o computador. Pausa. >
E cá estou eu novamente, há quase 30 horas longe de casa. Tempo Tempo Tempo Tempo. Volto a escrever enquanto tomo um café coado debaixo de uma árvore em frente a uma charmosa cafeteria da Vila Madalena. Tempo de organizar a mente para mais um dia de trabalho. Ontem à noite falei com minha família pelo FaceTime. Não dá pra ter uma conversa de qualidade com um garotinho de 3 anos pelo celular. Esquece. Mas aqueles rápidos minutinhos vendo o rosto e ouvindo a voz já são suficientes para completar o tanque da saudade dentro de mim. Filhos crescem. Eu cresci ouvindo uma frase muito verdadeira: crescer dói. De fato, esta é uma verdade. Aprendi isso na prática. Mas nunca imaginei que o crescimento também dói quando não se trata de nós mesmos, mas dos nossos filhos. Eu reformulei a frase com tons de paternidade: saudade dói e cresce.>
Tenho saudades da família cada vez que saio de casa. Seja por 1 dia ou por 1 semana. Não sei quanto tempo terei entre meu até logo e um nunca mais. Temo pelo tempo que pode não existir mais quando meu tempo findar. Não leia minhas palavras com tons fúnebres. É apenas reflexivo e responsável. Amo viver cada minuto que recebo a graça de estar vivo. Presente. Vibrante.>
Na minha última coluna te contei que meu filho estava fazendo 3 anos. Festinha simples em casa. Amigos e muita correria da criançada. Vovô e vovós vieram pra Salvador pra curtir o dia importante do netinho. Dias intensos. Tempo gostoso e um tanto caótico. Vovô veio de longe pra ficar com o único neto. Bento adora o vovô. Os dois viveram dias intensos de brincadeiras que começavam às 6 da manhã e só paravam às 9 da noite. Vovô foi embora essa semana. Na noite anterior à partida, estávamos todos na sala de casa aproveitando os últimos minutos juntos. Perguntamos para Bento se ele ia sentir saudades do vovô. Meu pequeno respondeu: "Não vou sentir saudades, eu vou sentir falta". >
E Bento traduziu pra todos nós: A saudade é a falta que faz no coração quando passamos tempo longe de quem amamos.>
E você, sente falta de alguém?>