Abaixo-assinado pede cassação do mandato de Igor Kannário

Iniciativa acontece após cantor criticar atuação da PM na folia; cantor cita ameaças

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  • Da Redação

Publicado em 26 de fevereiro de 2020 às 22:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

Cantor teve passagem polêmica pelo Campo Grande (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A polêmica envolvendo o cantor e deputado federal Igor Kannário (DEM-BA) e a Polícia Militar da Bahia ainda está dando o que falar. Agora, o Instituto de Consulta, Estudos e Pesquisas do Militar Estadual da Bahia (ICEME-BA) está pedindo a cassação do mandato do parlamentar.

Hospedado no portal peticaopublica.com, o abaixo-assinado tem como objetivo mover a mesa diretora e o Conselho de Ética e Decoro da Câmara dos Deputados a investigar o caso. O Iceme é responsável por promover plebiscitos internos na tropa baiana e realiza pesquisas na área de segurança pública.

O Instituto afirma que o deputado tem desacatado e desmoralizado os policiais militares da Bahia em serviço em eventos festivos, como shows, micaretas e no carnaval. Até às 22h desta quarta-feira (26), cerca de 17 mil pessoas assinaram o documento.

Mais cedo, Kannário divulgou uma nota em que afirma está sofrendo ameaças depois das declarações que fez e que também está sendo vítima de notícias falsas sobre a atuação dele como parlamentar. Na segunda-feira de carnaval (24), quando desfilava no circuito Osmar (Campo Grande) o cantor criticou o comportamento de alguns policiais na multidão e pediu que o público vaiasse os militares.

Depois do episódio, o governador Rui Costa acionou a Procuradoria Geral do Estado (PGE), que pediu que o Ministério Público do Estado (MP-BA) aceite denúncia contra o deputado por calúnia e difamação.

O MP afirmou que está analisando o pedido.

Kannário respondeu ao governador através de nota enviada à imprensa e disse que está 'completamente tranquilo'. "Há diversos vídeos mostrando a ação inadequada de alguns policiais, que não condizem com a maioria da Polícia Militar, não só nesse ano. As imagens falam por si. Reitero meu respeito pela instituição Polícia Militar e tenho certeza de que não teríamos Carnaval sem a corporação, mas ressalto novamente que não vou me calar diante dos excessos. O comportamento equivocado não deve ser normalizado, ao contrário, deve ser criticado, sim, e medidas devem ser tomadas para que não ocorram excessos contra os foliões. Inclusive, elogiei diversas vezes o tratamento de policiais na minha pipoca. E sempre vou elogiar quando o comportamento for correto", diz a nota.

Ainda no texto, o artista disse que sempre que vê alguma confusão na sua pipoca, para o trio e a música para chamar a atenção dos foliões. "Agora, ano após ano, vemos casos de excessos contra foliões na pipoca do Kannário. Por que esse comportamento não é explicado? Será que o povo da favela merece ser tratado dessa forma sempre? São perguntas que seguem sem resposta. Falei em cima do trio e repito aqui: fico triste com toda esta situação. Não queria parar meu desfile para reclamar da ação de alguns policiais, mas não vou me calar sempre que observar excessos. Meu grande desejo é que o povo da favela seja devidamente respeitado, seja no Carnaval seja no resto do ano", completa. Pipoca do Kannário no dia da polêmica (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Entenda a polêmica O cantor e deputado Igor Kannário pediu uma vaia para a Polícia Militar da Bahia na tarde de segunda-feira (24), quando puxava sua pipoca no Campo Grande. De cima do trio, ele viu a PM passando com agressividade para desfazer uma rodinha em meio aos foliões.

"Peço à imprensa, filma isso aí. Isso é abuso de poder, abuso de autoridade. Quero uma vaia para a Polícia Militar da Bahia", afirmou, sendo atendido. Os foliões vaiaram e depois gritaram "Uh, é o Kannário".

"Agressores, agressores! Venha me bater aqui em cima. Quero ver!", provocou.

Depois, ele retomou a música Embrazando, mas um pouco à frente Kannário falou que a PM pode fazer algo contra ele. "Se acontecer alguma coisa comigo, quem mandou me matar foi alguém da Polícia Militar", acrescentou.

Procurada, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) não quis comentar as declarações do parlamentar na segunda-feira. Mais tarde, a Polícia Militar divulgou uma nota de repúdio. "Além da atitude irresponsável e criminosa o também deputado federal incitou os foliões contra os policiais militares que faziam o policiamento do circuito Osmar. É inaceitável que qualquer pessoa, ainda mais um parlamentar, tente comprometer a honra da instituição e de policiais militares que estão comprometidos e empenhados na defesa da sociedade baiana. Todas as medidas judiciais cabíveis que o caso requer serão adotadas", diz a nota.

Resposta Kannário não ficou calado e divulgou uma nota para a imprensa dizendo que 'não irá se calar quando excessos forem cometidos'. Leia a nota divulgada pela assessoria de imprensa do artista:

O deputado federal Igor Kannário vem a público esclarecer os fatos ocorridos nesta segunda-feira (24) durante a passagem da pipoca do cantor pelo circuito Osmar (Campo Grande). Kannário informa que, ao observar um tratamento agressivo de alguns policiais militares contra foliões, solicitou uma abordagem adequada dos profissionais. O deputado ressalta seu respeito e admiração pela instituição Polícia Militar, que tanto se dedica diariamente aos baianos. Contudo, Kannário enfatiza que não irá se calar quando excessos forem cometidos, como ocorreu nesta segunda. O parlamentar baiano frisa, ainda, que este foi um caso pontual da atuação da PM durante a passagem da pipoca do Kannário pelo Campo Grande. Inclusive, no início do desfile, o cantor pediu aplausos para a PM e para os policiais que estão trabalhando arduamente neste Carnaval. Destaca também que sua pipoca foi, mais uma vez, um grande sucesso de público, com uma linda festa no circuito Osmar, marcada pela paz e pela diversão dos foliões. Mantenho meu imenso respeito pela Polícia Militar, valorosa instituição que tanto orgulha a Bahia. Mas ressalto que não vou me calar diante dos excessos, ainda mais contra a minha pipoca, que saiu das favelas para fazer uma festa linda na Avenida. Sou um político que tenho lado, e meu lado é o povo.

'Bunda-mole' Ainda no desfile, Kannário pediu para os foliões "abrirem" caminho para a PM. "Abre aí para esses bunda-mole passarem". Também pediu que o público ajudasse uma gestante que não estava bem.

Ao passar pela frente do Castro Alves, Kannario voltou a falar da ação da Polícia Militar. Ao ver mais uma ação da polícia, pediu para baixar a música e disse: "Alô imprensa da Bahia! Tem que mostrar esse abuso de poder, esse desrespeito com cidadãos que pagam seus impostos e ajudam e pagar salário deles (policias)", disse.

"Depois dizem que Kannario procura confusão com a polícia. Não é isso não. É certo pelo certo. Quem tá errado tá errado", completou.

Metros à frente, voltou a comentar: "Essa guarnição aqui tem educação. Parabéns! Tá fazendo o certo. Pedindo licença. Quem eu vir agredindo eu vou falar daqui de cima mesmo".

Ano passado também teve polêmica No ano passado, Kannário esteve envolvido em outra polêmica. Ele usou roupa com alusão ao "Comando da Paz", mas negou qualquer ligação com a facção.

No início do desfile, Kannário parou de cantar várias vezes para pedir respeito aos ambulantes e dar "broncas" em policiais e guardas.

"Não agride o cara, não. O cara fez algo de errado, prende o cara, leva o cara. Segura a onda aí, meu velho. Não agride a população não que eu tô vendo tudo daqui", afirmou. Roupa foi motivo de polêmica em 2019 (Foto: Arisson Marinho/ Arquivo CORREIO) Ameaça de processo Ao desfilar vestido de "PM do futuro", Igor Kannário disse que fazia uma homenagem à polícia. Só que o emblema com "Comando da Paz" estampado no ombro e nas costas pegou mal entre a categoria e virou alvo de mais uma polêmica envolvendo o cantor e a polícia.

A Associação dos Policiais e Bombeiros Militares e seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra) disse na época que ia processar Kannário por fazer apologia ao crime, ao promover uma facção criminosa, a Comando da Paz. Já o deputado estadual Capitão Alden (PSL) informou que entrará com uma representação no Ministério Público e encaminhará à Câmara dos Deputados uma denúncia para que o Conselho de Ética julgue a sua conduta "desafiadora da moral e dos bons costumes".

De acordo com o presidente da Aspra, o soldado Prisco, a entidade vai entrar com uma ação idenizatória e outra criminal.

"O Comando da Paz é uma facção criminosa, usar esse emblema é fazer apologia ao crime. Também vamos processá-lo por incitar a multidão contra os policiais durante o desfile. Policiais que acompanharam o desfile nos procuraram para relatar", informou Prisco. "Já temos duas ações contra ele, uma delas foi na micareta de Feira de Santana, envolvendo uma policial", comentou Prisco.

Já o deputado federal capitão Alden disse que é lamentável essa situação e "uma vergonha para o povo baiano ter um representante deste nível em Brasília".