Abraji condena ataques e ameaças a repórter do Correio

Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo prestou solidariedade a Bruno Wendel

Publicado em 27 de maio de 2021 às 18:56

- Atualizado há um ano

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Em nota publicada nesta quinta-feira, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) relembrou e condenou as ameaças recebidas pelo repórter Bruno Wendel, do CORREIO, após publicação de reportagem envolvendo um policial militar suspeito de participar de extorsões e assassinatos. O soldado foi morto durante uma operação que mirava grupos de extermínio.

"Tentar destruir a reputação de profissionais da imprensa é tática recorrente de governos e corporações que têm dificuldade de compreender o papel da imprensa em regimes democráticos. Bruno Wendel tem 15 anos de atuação e é especializado na cobertura de segurança pública. Criticar reportagens investigativas é direito de qualquer cidadão. Ser ofendido por forças públicas que deveriam proteger os cidadãos cruza a fronteira da civilidade e estimula a perseguição a jornalistas", diz o pronunciamento.

A Associação ainda prestou solidariedade ao repórter e afirmou ter encaminhado ofícios à Secretaria de Segurança Pública da Bahia e ao comando da Polícia Militar do Estado pedindo esclarecimentos. "Esperamos que as autoridades investiguem os ataques de forma célere e isenta, garantindo, assim, as condições mínimas para o exercício irrestrito da liberdade de imprensa no país".

Relembre o caso

A reportagem que gerou os ataques foi publicada no dia 18 de maio. Ela tratava da suspeita de participação do soldado Joedson dos Santos Andrade, da Polícia Militar, em grupo de extermínio, extorsão e que agia em Vila de Abrantes, no município de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. O soldado, que foi morto a tiros durante uma incursão no dia 16 de maio, já havia sido preso em maio do ano passado no Operação Assepsia I, ação de uma Força-Tarefa que investiga os grupos de polícias suspeitos de crime de extermínio e extorsão, além de sequestros em Salvador e RMS. As informações eram da Corregedoria-geral da Secretaria de Segurança Pública (SSP), à frente da Força-Tarefa.

Após a publicação, Bruno Wendel recebeu ligações com afirmações, em resumo, "que uma situação que iniciou com sangue não precisa terminar com mais sangue". Além disso, recebeu mensagens o chamando de "vagabundo", foi instado a "se retratar" e foi alvo de uma manifestação de repúdio assinada em nome da 59ª Companhia Independente de Polícia Militar/Vila de Abrantes. A nota o chama de despreparado e tendencioso e diz que “as afirmações imputadas nas matérias de Bruno ao policial morto são totalmente inverídicas, mentirosas e descabidas (sic) de credibilidade".

O Jornal CORREIO ainda enviou um ofício ao Secretário de Segurança Pública do Estado da Bahia, Ricardo Cesar Mandarino, pedindo atenção ao caso. O repórter registrou Boletim de Ocorrência em uma delegacia especializada.

Leia a nota da Abraji na íntegra:

Desde que escreveu reportagens sobre o suposto envolvimento de policiais em grupos de extermínio no município de Camaçari, região metropolitana de Salvador, o repórter Bruno Wendel, do jornal Correio (BA), sofre ataques e intimidações.

No dia 16.mai.2021, o jornalista mostrou que um soldado da Polícia Militar suspeito de participar de extorsões e assassinatos foi morto durante uma operação que mirava grupos de extermínio. 

Depois da publicação, ao menos quatro homens ainda não identificados enviaram mensagens ao celular do repórter. Chamado de vagabundo e instado a se retratar, Wendel também recebeu ligações anônimas que, em síntese, diziam que "uma situação que se iniciou com sangue não precisava terminar com mais sangue".

Além de ter sua integridade física ameaçada, o jornalista foi alvo de uma manifestação de repúdio assinada em nome da 59ª Companhia Independente de Polícia Militar/Vila de Abrantes. A nota o chama de despreparado e tendencioso e diz que “as afirmações imputadas nas matérias de Bruno ao policial morto são totalmente inverídicas, mentirosas e descabidas (sic) de credibilidade".

Tentar destruir a reputação de profissionais da imprensa é tática recorrente de governos e corporações que têm dificuldade de compreender o papel da imprensa em regimes democráticos. Bruno Wendel tem 15 anos de atuação e é especializado na cobertura de segurança pública. Criticar reportagens investigativas é direito de qualquer cidadão. Ser ofendido por forças públicas que deveriam proteger os cidadãos cruza a fronteira da civilidade e estimula a perseguição a jornalistas.

A Abraji presta solidariedade ao repórter e encaminhou ofícios à Secretaria de Segurança Pública da Bahia e ao comando da Polícia Militar do Estado pedindo esclarecimentos. Esperamos que as autoridades investiguem os ataques de forma célere e isenta, garantindo, assim, as condições mínimas para o exercício irrestrito da liberdade de imprensa no país.

Diretoria da Abraji, 27 de maio de 2021.