Academias já preparam a volta da malhação

Com taxa de ocupação de leitos adultos de UTI em 73%, Conselho Regional de Educação Física prevê reabertura na primeira quinzena de agosto

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  • Wendel de Novais

Publicado em 30 de julho de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Alpha Fitness

A taxa de ocupação de leitos de UTI para adultos em Salvador está em 73%, o que significa que a cidade está próxima da execução da fase dois do plano de reabertura da economia, que permitirá a volta de academias de ginástica, barbearias, salões de beleza, centros culturais, museus, galerias de arte, lanchonetes, bares e restaurantes. 

Um dos segmentos que está se organizando para o retorno é das academias de ginástica. Segundo a Secretaria da Fazenda (Sefaz), Salvador tem 1597 academias que serão liberadas com a execução da fase dois do protocolo. Para isso, é necessário que os leitos de UTI para adultos da cidade estejam abaixo de 70% por cinco dias consecutivos, o que deve acontecer em breve, se a taxa continuar caindo.

Apesar da aparente proximidade de reabertura, a Casa Civil, responsável pela elaboração dos protocolos e das regras para reabertura em todas as fases instituídas pela prefeitura, ainda não divulgou as condições para a liberação dos estabelecimentos envolvidos na fase 2. Segundo o órgão, os protocolos estão em fase final de elaboração e serão publicados até segunda-feira.

A Casa Civil informou também que o documento foi construído a partir de propostas discutidas em encontros com representantes dos segmentos envolvidos e que será publicado em acordo com o estado, depois de passar pela avaliação das Secretarias de Saúde Municipal e Estadual. 

Protocolo próprio

O Conselho Regional de Educação Física da 13° Região (Cref-13) está em articulação com os responsáveis por estas academias e defende o retorno. Para Rogério Moura, presidente do conselho, as academias podem se tornar uma arma no combate ao coronavírus. “As academias são centro de saúde. A atividade física melhora a qualidade de vida e combate a covid-19. Esse vírus tende a ser mais controlado com os cidadãos realizando atividade física. É um contrassenso deixar as academias fechadas porque elas são áreas de saúde e podem ajudar”, opina. 

O Cref-13 se antecipou e publicou um protocolo próprio, desenvolvido a partir de recomendações da Organização Mundial de Saúde. O documento foi elaborado em reuniões com os donos de academia. 

Para o conselho, é necessário que os profissionais de educação física sejam ouvidos. “Os profissionais de educação física e proprietários estão cientes das normas de biossegurança. Por isso, queremos que as recomendações enviadas aos órgãos públicos devem ser consideradas”, afirma Edvaldo Paulo, presidente da comissão de fiscalização do conselho.

Edvaldo critica supostos exageros nas medidas de prevenção do protocolo que podem prejudicar as academias e tornar esse retorno não rentável. “Na academia temos uma barra, que é higienizada antes e depois do uso. No ônibus, que anda lotado na cidade, não tem essa higienização constante. A gente tem um controle melhor que um mercado ou na Feira de São Joaquim, que está estupidamente lotada. Nós fazemos parte de um grupo que tem competência para combater o coronavírus mesmo com a abertura desses estabelecimentos”, acredita.

Preparação

Os proprietários e gerentes da academia já estão planejando a volta e afirmam seguir protocolos estabelecidos pela OMS. Tiago Groba, proprietário e professor da Crossfit SSA afirma que a academia já está adotando mudanças estruturais e de logística. “ Esperamos que a volta aconteça até o dia 15 agosto. Para isso, a gente se antecipou, dividiu os espaços, reduziu mais de 50% da turma, o intervalo de 30 minutos entre as aulas para higienização já foi planejado e os horários das aulas só podem ser marcados através do aplicativo para evitar o fluxo de alunos. Tudo isso para que o retorno aconteça com segurança”, relata Tiago.

Guilherme Reis, coordenador geral da Rede Alpha Fitness, afirma que a preparação está acontecendo com base em experiências de outros países. “Tudo foi pensado e planejado com base nas experiências de países que já reduziram a curva de contágio e que estão tendo bons resultados. Sabemos que praticar atividade física é uma questão prioritária, de manutenção de saúde. E sabemos que estar com a saúde em dia nesse momento é mais importante ainda, pois fortalece o sistema imunológico”, diz.

Através de nota, a academia Vidativa afirma que mudanças estruturais e de logística serão realizadas para o retorno seguro dos alunos. Entre as mudanças, está a a suspensão das atividades ligadas à piscina.    Guilherme Reis, coordenador geral da Rede Alpha Fitness, afirma que as academias estão preparadas (Foto: Divulgação) Alunos divididos

Mesmo com a promessa de  adaptação e mudança estrutural nas academias, alguns alunos não se sentem seguros para retornar e pretendem esperar que os números da pandemia na cidade seja ainda mais baixos. É o caso de Lara Araújo, 22 anos, estudante de comunicação, que não deve voltar tão cedo para a Bodytech, academia que frequentava antes da pandemia. “Assim como eu não voltei para os shoppings, não voltarei para as academias que acho que são lugares ainda mais propensos para contaminação. Não me sentiria segura por ser um ambiente compartilhado e que as pessoas precisam entrar em contato com aparelhos que outros já tocaram”, afirma. 

 A arquiteta e urbanista Brenda Rocha, 22, também não pretende voltar agora. Ela afirma que vai continuar com exercícios em casa ou ao ar livre, onde se sente mais segura. “As pessoas são irresponsáveis e não sabem respeitar as regras e vão colocar em risco as outras pessoas. Não acho que minha imunidade é muito boa pra poder me arriscar assim” conta. 

Outra que não sente vontade nenhuma de retornar para as atividades presenciais da academia é Ilana Coelho, 21, estudante de direito que pretende ficar bem longe de um ambiente que ela considera perigoso e vai cancelar a matrícula da academia quando esta estiver aberta novamente. “Por mais que eu sinta falta da academia, não vou porque tenho medo e não acho que seja um lugar seguro durante a pandemia. Sempre achei a academia um lugar meio sujo por conta do suor e contato das pessoas com os equipamentos. Agora, a situação é ainda mais preocupante”, afirma Ilana, que só retornará a frequentar academia em 2021.

Já o estudante de medicina Matheus Franco, 22, vai voltar assim que for possível. “Com certeza voltarei na primeira oportunidade. Eu acredito que os protocolos de segurança e as medidas pessoais de prevenção como o uso de máscara podem minimizar os riscos nesse retorno. O espaço vai ter uma limitação de pessoas que é fundamental e que é um alternativa válida para manter a segurança das pessoas que estarão na academia” argumenta. 

Assim como Matheus, outras pessoas acreditam que as academias e ambientes similares, por adotarem protocolos para evitar a disseminação do vírus, vão ser locais seguros. Felipe Urpia, 32, é líder de área desabilitada da Claro e não vê problema em voltar a estes estabelecimentos já no primeiro dia de abertura. "Eu vou voltar no primeiro dia e não vejo nenhum problema nisso. Além de ver um esforço da academia em deixar esses espaços seguros para os alunos, eu trabalho no shopping e vou para mercado e outros lugares tranquilamente. Então, não vejo motivos para que as academias permaneçam fechadas. A gente já está chegando a quatro meses de interdição das academias e precisamos cuidar da saúde, cuidar do corpo", avalia.

Como qualquer fase de retorno das atividades durante a pandemia, a reabertura das academias traz consigo riscos para as pessoas que participaram das atividades realizadas nestes estabelecimentos. O infectologista Matheus Todt  acredita que há uma flexibilização precoce (Foto: Divulgação) Médico alerta para riscos e cuidados

O infectologista Matheus Todt acredita que há uma flexibilização precoce no Brasil e que, no caso de Salvador, não é diferente. Para ele, a abertura das academias representa um risco, assim como a liberação de outros estabelecimentos. 

“Qualquer local que proporcione contato pessoa a pessoa aumenta o risco. Se disser que não tem perigo, é mentira. Mesmo seguindo os protocolos, o que se pode conseguir é uma diminuição do risco, e não a exclusão deste”, declara.

Sobre o maior risco nas academias, Todt diz não acreditar que elas sejam mais propícias para a proliferação de risco do que shoppings e mercados, por exemplo. “Não existe uma quantificação de risco quanto a isso. Se eu pensar em uma academia por maior que seja, eu tenho como controlar quem entra lá e os cuidados que as pessoas vão tomar. Uma loja cheia em que as pessoas tocam na academia tem muito mais risco. Entre o shopping cheio e uma academia que realiza o controle de horário e quantidade de pessoas, o shopping é mais perigoso”, explica.

 Além dos cuidados comuns como uso de máscara e do álcool em gel, o infectologista alerta que quem retornar para esses ambientes precisa ter muito cuidado com a higiene das mãos e reforçar a atenção para o distanciamento em relação aos colegas durante as aulas. “As pessoas precisam ter muito cuidado com a higiene das mãos e dos aparelhos que vão entrar em contato. Usem o álcool em gel o tempo todo e não levem em hipótese alguma a mão ao rosto. Sem falar no distanciamento que ainda é muito válido”, afirma.  

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro