Aconteceu em 1995...

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  • Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Era meados de 1995 em Salvador, tínhamos nos encontrado em um sonho de mudar o Bahia, que se tomou o nome de Democracia Tricolor. Fomos adiante e resolvemos fazer uma gigantesca carreata pela orla marítima da cidade, em prol de mudanças na direção do clube. Éramos muitos, mas neste 2 de Julho, pretensamente, a Independência do Bahia, fomos muito mais. 

A gente se encontrou logo cedo, era um domingo de manhã, no Vale do Canela, onde moços, velhos, meia-idade, conhecidos e ali nos conhecendo ou reconhecendo, nos juntávamos, resenhávamos, vibrávamos não por um gol, mas por um futuro melhor para aquele que merecia melhor destino, segundo o nosso coração. 

Rapaz, a zorra da carreata, não é que estava parecendo que ia dar certo...o número de carros, até caminhões e ônibus ‘nego’ arranjou pra mostrar ao mundo que a nossa vontade era justa. E assim partimos, mais ou menos 100 veículos, surpreendendo até os mais otimistas de nós organizadores. 

Eu era um dos líderes do grupo e fui dirigindo, sozinho no carro, com uma revolução acontecendo dentro de mim, que eu não sabia explicar, só sentia. Um sentimento inusitado, novo, diferente, altamente inquietante, incerto, palpitante, desafiador...Buzinaria, gritos, nos toca-fitas só se ouvia o hino do Bahia, aah, bandeiras, claro, muitas bandeiras e faixas dizendo: “quero votar pra presidente”, junto ao escudo do clube. 

Lembro que quando nos aproximávamos da sede de praia do Bahia, tive um insight de recorrer a um companheiro do movimento que era da Polícia Militar, para entrar no meu carro e ir comigo no banco do carona, a título de proteção, pois poderíamos não ser bem recebidos quando passássemos em frente à referida sede. Era um movimento de oposição à direção do clube, naturalmente. 

Dito e feito, existia uma porção de gente fantasiada de tricolor soltando foguetes, até uns tirinhos, segundo alguns, além de palavras de ordem contrárias àquela nossa manifestação. Mas nada que nos tivesse atingido, ainda bem. Aquela presença segura deste companheiro da PM, mesmo à paisana, claro, foi o sentimento maior dentro de mim naqueles minutos em que passamos por ali. Ali pude sentir e talvez tenha aprendido o contraste entre lutar por um ideal coletivo e cuidar da própria segurança pessoal. Intrigante, paradoxal, enriquecedor. 

Teve um outro momento ímpar e marcante na minha vida, quando na reta da orla da Pituba ou pouco além, de súbito, vejo se aproximarem do carro, uma muito amiga minha e um muito amigo meu, casados, e ela quase nada dizia, só chorava, olhando pra mim...meu coração apertou, apertou muito, e chorei muito também... até hoje não sei e sei o significado daquilo mas seja o que for, ou tenha sido, não terminou. Continua dentro de mim...

Seguimos adiante, corações como que em revolução, em ato de subversão, pois somente uma secretaria da Prefeitura nos tinha dado apoio, de toda a cadeia do esporte e seus públicos de interesse. Foi um ato cívico, não à toa, num 2 de julho. Fomos mais adiante e, por fim, fizemos o retorno na altura da Pinto de Aguiar. 

Aí, somente alguns carros de nós, organizadores do grupo, extasiados de cansaço e alegria, de sentimento vitorioso pós-batalha, onde mesmo a fugidia consciência racional dos ideais não era maior que a vontade de comemorar a vitória, de tomar uma gelada e jogar conversa fora. E foi o que fizemos. 

Paramos uns carros na frente de um cacete armado, quase-bar, meio que em meio à orla e a Pinto de Aguiar, e desaguamos os nossos sentimentos, entre amigos, nos aguando em cerveja pra dentro. Detalhe é que algum de nós insistia em puxar assunto de quais seriam os próximos passos do ideal revolucionário, mas confesso que àquele momento e sentimento, misturou-se tudo e demais nas nossas cabeças e nem sequer o Ba-Vi que diziam estar rolando em Pituaço, a gente quis saber mais...

*Wilson Manoel, 60 anos, é coordenador do Curso do MBA em Gestão Esportiva pela Faculdade 2 de Julho