Aglomerações causadas pela chuva podem facilitar transmissão do coronavírus

Temporal causou transtornos em Salvador nesta segunda (6); infectologista dá dicas para quem não pode ficar em casa

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  • Da Redação

Publicado em 6 de abril de 2020 às 21:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO
. por Arisson Marinho/CORREIO

Chuvas fortes caíram em Salvador causando transtornos nesta segunda-feira (6). Na Bahia, a previsão é de mais chuvas para os meses de abril e maio. Em meio a pandemia do novo coronavírus (covid-19), a chuva pode reforçar o isolamento social ao obrigar que mais pessoas fiquem em casa. Quem segue as medidas de distanciamento e permanece em domicílio não tem risco de pegar a doença, pois não entra em contato com pessoas infectadas. O cenário muda, entretanto, caso um dos moradores da residência não siga as regras de isolamento social.“Se a pessoa não está levando a sério o isolamento, essa aglomeração dentro de casa pode facilitar a disseminação do vírus dentro da residência. Se o paciente estiver infectado, ficar em casa pode ser comprometedor”, afirma a infectologista Áurea Paste.O ato de se esconder da chuva embaixo de algum lugar também pode gerar aglomerações e ser arriscado. “As pessoas ficam perto uma das outras. Para fugir da chuva, muitos vão para um lugar protegido. Isso pode aumentar a proximidade e facilitar a transmissão do vírus”, disse Paste.

Outras doenças A chuva ainda pode fazer com que as pessoas se exponham a outras doenças, o que é capaz de aumentar o número de pacientes nas emergências e sobrecarregar ainda mais o sistema de saúde. “A procura pelos hospitais pode aumentar. Com a chuva, tem mais leptospirose e dengue”, explicou.

A infectologista recomenda utilizar sapatos fechados e, de preferência, impermeáveis quando for necessário andar na chuva. Nestes dias, também é importante checar se não há locais com água parada em casa para evitar a proliferação do Aedes Aegypti, popularmente conhecido como mosquito da dengue.

Transtornos As chuvas fortes desta segunda, por exemplo, causaram diversos transtornos em Salvador. Até às 20h, a Defesa Civil de Salvador (Codesal) recebeu, pelo número 199, 175 solicitações de atendimento, sendo 39 deslizamentos de terra, 6 imóveis alagados, 3 muros desabados, 39 ameaças de desabamento de imóveis e 27 ameaças de deslizamento de terra.

Na Rua Amado Coutinho, em Brotas, foi só a água começar a cair que um buraco se abriu no local. Pouco tempo depois, o desnível se transformou em uma cratera que invadiu a calçada e ocupou mais da metade da pista, com capacidade para abrigar um carro dentro. A rua teve que ser interditada pela Transalvador.   

“Desde quando eu moro aqui, há pouco mais de dois anos, essa é pelo menos a sexta vez que a rua é interditada por causa desse problema. É só chover forte que o buraco volta”, disse Cauan Queirós, síndico do condomínio formado por três edifícios: Azaleia, Hortência e Violeta. Foi na frente do Violenta que a cratera abriu, justamente onde está a portaria principal do condomínio, com acesso à garagem. (Foto: Leitor CORREIO) Por enquanto, eles ainda estão usando esse acesso principal, mas com restrição de perímetro. Estão aguardando avaliação da Prefeitura para saber se vão precisar mudar para o outro acesso, que fica antes do edifício Azaleia e normalmente é usado para saída de lixo e mudança. 

Quando a cratera não aparece, a rua em questão costuma ser usada para o acesso da Avenida Bonocô à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Brotas. “Com esse problema, tanto para as ambulâncias que vêm da Bonocô como para os moradores do condomínio, a alternativa para chegar à UPA é a Rua Odilon Dórea, em um trajeito mais longo”, explicou Cauan. 

Para o professor Aron Miranda, que mora no local há cinco anos, o problema causa medo e revolta.“Eu queria entender o motivo de não conseguirem resolver isso. Soube que esse problema já existia antes de eu morar aqui. Quanto a cratera volta, nosso acesso ao prédio fica desviado. Há também o temor de que as estruturas dos edifícios venham a ser abaladas”, relata.  Segundo o síndico do prédio, no início de 2018, foi feita uma grande obra na rua para tentar resolver o problema, desde o início da Avenida Bonocô até o local onde a cratera costuma abrir. “Eu conversei com os funcionários e eles afirmaram que a obra tinha que ser feita até a UPA de Brotas para ser completa, mas eles finalizaram os trabalhos na metade da rua”, disse Cauan. 

Em nota, a Superintendência de Obras Públicas (Sucop) informou que enviou uma equipe para o local para fazer a recuperação do trecho que está comprometido. A autarquia esclarece que está monitorando a situação da drenagem do local e, pela avaliação dos técnicos, será necessária substituir toda a rede. A Sucop não informou se a obra citada pelos moradores foi de sua responsabilidade.   

Outros problemas Na Avenida Vale dos Barris, um muro próximo à 1ª Delegacia Territorial da Polícia Civil caiu e interditou algumas faixas da pista que dá acesso ao bairro do Garcia. A Codesal, Limbpurb e Transalvador estão atuando no local.    (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Pontos de alagamentos também foram registrados na cidade, como no Dique do Tororó, e na Rua Cônego Pereira, na região das Sete Portas, onde um ônibus que faz a linha 1130 (Cabula VI-Ondina) caiu em um buraco e teve que ser retirado com o auxílio de um guincho. Ninguém ficou ferido.    

Volume  Mesmo com os problemas na cidade e a recomendação do isolamento social para evitar a disserminação do coronavírus, o céu carregado não impediu que muitas pessoas saíssem de casa. Usando guarda-chuva e máscara, muitos soteropolitanos enfrentaram a manhã chuvosa da capital baiana. 

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Segundo a meteorologista Claudia Valéria, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o motivo das fortes chuvas foi uma convergência de umidade que afetou Salvador e cidades da Região Metropolitana.  “Não foi uma frente fria. Essa umidade é formada no oceano e trazida pelos ventos para Salvador. Nós entramos no período chuvoso e isso será cada vez mais frequente”, disse.A média climatológica de abril é de 295,7 milímetros, "ou seja, ainda vai chover muito. O soteropolitano tem que se acostumar com chuva", disse Claudia Valeria.

Mês das chuvas Abril costuma ser o mês mais chuvoso de Salvador, seguido de maio. Ainda segunda a meteorologista, nos próximos dias também deve ficar chuvoso no Baixo Sul do estado.  .

Já em Salvador, segundo a Codesal, a previsão é que essa chuva continue na terça-feira (6) e quarta-feira (7), mas vá perdendo intensidade ao longo dos dias.  

As localidades que mais acumularam chuvas nas últimas 12 horas foram: Brotas (113, 8 mm), Matatu (104, 6 mm), Centro (99, 9 mm),  Pituba/ Parque da Cidade (94 mm),  Federação (80, 4), Ondina (76 mm), Liberdade (72, 4 mm), Pirajá (70, 4 mm), Caminho das Árvores ( 66 mm ) e Bom Juá (63, 4 mm).

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro