Agonia da espera: idosos chegam cedo para garantir lugar na fila da vacina

Imunização acontece das 8h às 17h, para público com 82 anos ou mais

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  • Gil Santos

Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

Toda vez que dona Dalva Isabel de Almeida, 84 anos, quer sair de casa é uma agonia. Com receio de que ela acabe contraindo a covid-19 os filhos reclamam, chamam a atenção e dão bronca. O medo de adquirir o vírus existe, mas o primeiro motivo que a idosa usou para justificar ter tomado a primeira dose da vacina contra a covid-19, nesta quinta-feira (25), foi outro.

“Eu estou aliviada. Não via a hora de essa vacina chegar para eu ter um pouco mais de liberdade. Eu disse que quando chegasse eu queria tomar logo, porque esses filhos não me deixam respirar” disse, provocando risos.

O filho em questão, o técnico em telecomunicações Cosme Almeida, 61, contou que mora próximo aos pais e que se colocou a disposição para ir ao mercado e à farmácia sempre que eles precisassem. Ele se prontificou a fazer qualquer serviço que eles necessitem, tudo para que os dois idosos permaneçam em casa, mas que, mesmo assim, dona Dalva consegue dá umas escapulidas.

“Minha mãe é daquelas que gostam de fazer favor para todo mundo. Ela tem muitas amizades, parece que é médica ou enfermeira porque conhece muita gente que trabalha em hospital, e o pessoal pede para ela marcar exames e consultas, e ela vai. Eu tive que ameaçar colocar um cadeado no portão se ela insistisse em sair”, contou. Família Almeida após a vacinação (Foto: Gil Santos/ CORREIO) Eles foram os primeiros da longa fila que se formou para vacinação na porta do 5º Centro de Saúde Clementino Fraga, nos Barris, nesta quinta-feira, quando foi iniciada a imunização para pessoas com 83 anos ou mais. A partir desta sexta-feira (26), idosos com 82 anos ou mais também já podem procurar os postos. Confira a programação e os locais de vacinação.

Cosme contou que o irmão dele saiu de casa para guardar lugar na fila com o dia ainda clareando, apesar da vacinação acontecer das 8h às 17h, e confidenciou que a teimosia é de família. “Meu pai tem 94 anos, então, já podia ter sido vacinado, mas ele não queria vir. Esperamos chegar a data de vacinar minha mãe, que tem 84 anos, e aí trouxemos os dois”, disse. A família voltou para casa contente e dona Dalva parecia mesmo mais aliviada.

O que o filho não contou para ela é que mesmo depois de vacinada ela ainda vai precisar adotar as medidas de isolamento e o uso de máscaras. Profissional da saúde prepara mais uma dose para ser aplicada (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Cuidados  A subcoordenadora de Doenças Imunopreveníveis da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, Doiane Lemos, contou que é um grande engano pensar que após a aplicação da vacina os cuidados podem ser relaxados.

“Uma vez que a pessoa recebe a primeira dose a gente dá uma primeira carga no sistema imunológico, mas ainda é necessário usar a máscara para não se contaminar porque a gente não pode se considerar protegido. E mesmo aquelas pessoas que já receberam a segunda dose precisam de um distanciamento de dias para que o sistema imunológico finalize a carga de proteção”, afirmou.

Ela contou que quem está sendo vacinado deve se sentir privilegiado, mas que ainda é preciso manter as medidas de proteção contra a disseminação da doença, como o uso de máscaras, o distanciamento social e a higienização frequente das mãos. Fila no posto de vacinação em Fazenda Coutos (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Centro Com um sorriso que nem a máscara conseguiu esconder Paulo Nascimento, 84, contou que se sentia agraciado.

“Graças a Deus, estou protegido. Moro no Engenho Velho de Brotas. Pode me procurar por lá. Jogo bola, jogo dominó, e ainda tomo bebida. Não via a hora de me vacinar, ainda bem que essa hora chegou”, contou, enquanto segurava o algodão que tapava o local da aplicação da vacina.

Ele esteve na Arena Fonte Nova no último dia de vacinação, na semana passada, mas as doses esgotaram antes que pudesse ter sido protegido. O processo de imunização foi retomado porque um novo lote com 29.850 doses da vacina de Oxford foi entregue para Salvador, na quarta-feira (24), e será usado nos idosos. Paulo Nascimento, 84 anos, recebe a vacina (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Subúrbio Do outro lado da cidade, no estacionamento do supermercado Atacadão Atakarejo, em Fazenda Coutos, Vitalmiro Bonfim, 83, foi o primeiro da fila. O neto dele Rodrigo Góis, 26, foi quem o levou. O jovem contou que precisou mudar de casa para evitar colocar o avô e a avó em risco. É que na empresa em que ele trabalha surgiram diversos casos de funcionários infectados.

“Fui morar com minha noiva e lá em casa ficaram com eles apenas minha mãe e minha irmã. Além deles serem idosos também têm problemas de saúde. Ele fez tratamento contra o câncer e minha avó tem alzheimer, então, a gente ficou bastante preocupado. Agora, com a vacina, vamos ficar um pouco mais tranquilos”, contou Rodrigo.

Seu Vitalmiro disse que pessoas próximas dele morreram vítimas da covid, e que estava contando os dias para poder se imunizar. “Não tem que ter medo da vacina. Eu estava agoniado, queria logo que chegasse o momento para me vacinar”, disse, enquanto aguardava a chegada das doses que atrasou cerca de 1h. Vitalmiro Bonfm, 83 anos, disse que estava ansioso (Foto: Marina Silva/ CORREIO) No Parque de Exposições também houve fila, mas pequena se comparada com a semana anterior quando o CORREIO registrou um enfileiramento de carros que alcançava 1 km. Já no Centro de Convenções, onde está sendo aplicada apenas a segunda dose da vacina, a fila era tão grande que se aproximava da Pituba.