Agricultura familiar emprega mais de 1,5 milhão de pessoas na Bahia

Estado possui quase 600 mil agricultores familiares; número caiu 10,9% em onze anos, segundo censo do IBGE

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  • Georgina Maynart

Publicado em 25 de outubro de 2019 às 11:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo/CORREIO

A agropecuária baiana ainda é fortemente marcada pela produção familiar, mas vem mudando de perfil e traçando novos contornos para a economia do estado. É o que mostram os novos dados definitivos divulgados nesta sexta-feira (25/10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base no censo agro realizado em 2017.

O levantamento mostrou que o número de agricultores familiares na Bahia caiu 10,9% em onze anos. Agora o estado possui cerca de 593 mil agricultores familiares. Eles representam 77,8% dos 762 mil estabelecimentos agropecuários da Bahia. Em 2006 eram 87,4% do total. A queda também foi registrada na maioria dos outros estados.

Os produtores com este perfil ocupam 32,2% da área agrícola cultivada no Bahia, ou seja, cerca de 9 milhões de hectares. A área teve recuo de 9,4% em relação a 2006, mas ainda é a segunda maior do país destinada a produção familiar, atrás apenas de Minas Gerais.

O Censo Agro ouviu mais de 784 mil produtores rurais em todo o estado. “É um orgulho muito grande para toda equipe do IBGE apresentar estes dados na convicção de que as informações obtidas vão ajudar a desenvolver e planejar ações para a economia da Bahia”, afirma Arhur Ferreira Filho, chefe do IBGE na Bahia.

O IBGE considera agricultura familiar aquelas onde a gestão do negócio, e pelo menos metade do processo produtivo, está nas mãos de pessoas da mesma família. Para se enquadrar neste perfil é preciso ainda que pelo menos metade da renda da família dependa da manutenção do negócio. O estabelecimento também deve ter no máximo quatro módulos fiscais de produção. O tamanho do módulo varia de município para município.

A produção familiar emprega mais de 1,5 milhão de pessoas na Bahia, o equivalente a 72,3% do total de trabalhadores agropecuários do estado.

Mas a mão de obra utilizada nas unidades familiares vem caindo. Em média 2,6 pessoas trabalham em cada estabelecimento, ou seja, cerca de 19% a menos do que em 2006. Já nas fazendas maiores, empresariais, apesar da mecanização, a mão de obra ocupada aumentou cerca de 31,2%.

Quando analisado o quadro geral, houve redução de 9,5% no número de pessoas trabalhando na agropecuária. São 220 mil postos de trabalho a menos entre 2006 e 2017, como já havia indicado outro levantamento divulgado no ano passado.

O IBGE considera agricultura familiar aquelas onde a gestão do negócio, e pelo menos metade do processo produtivo, está nas mãos de pessoas da mesma família. Para se enquadrar neste perfil é preciso ainda que pelo menos metade da renda da família dependa da manutenção do negócio. O estabelecimento também deve ter no máximo quatro módulos fiscais de produção. O tamanho do módulo varia de município para município.

Entre as pessoas ocupadas nos estabelecimentos familiares, 76% se declararam não brancas, ou seja, pardas, pretas, indígenas ou amarelas.

A força feminina é marcante na gestão familiar. Das 194 mil mulheres que ocupam postos de comando nos estabelecimentos agropecuários da Bahia, mais de 82% administram negócios familiares. A faixa etária também chama a atenção. Mais de 53% tem 55 anos ou mais.

“A gente consegue perceber um envelhecimento muito grande quando comparamos os resultados ao longo de todo o período. Houve um crescimento de pessoas com mais de 65 anos que já respondem por quase 30% da mão de obra familiar atuante no estado. É um destaque importante do censo agropecuário. E é importante analisar com mais profundidade por que não está tendo esta renovação”, afirma Augusto Barreto, supervisor de pesquisa agropecuária do IBGE.

A pouca escolaridade continua alta. Entre os agricultores familiares apenas 1,2% afirmaram ter nível superior completo, e cerca de 36,5% dos que ocupam postos de comando disseram não saber ler, nem escrever. Outros 25,8% disseram nunca ter frequentado a escola. Os percentuais estão próximos dos registrados na população geral.

Valor A participação da produção agropecuária familiar no total gerado pela agropecuária na Bahia registrou queda de 39,9% para 24,6%, entre 2006 e 2017. O estado perdeu posições no ranking nacional, passando da 15 ª para 20 ª posição neste item. A queda teria sido influenciada pelos períodos de seca registrados nos últimos anos.

Mas em termos absolutos, os valores da produção familiar foram 43,1% maiores. Em 2017 a produção familiar gerou cerca de R$ 5,2 bilhões de reais para a economia baiana. A produção vegetal registrou crescimento de 114% e representou 72% da atividade agropecuária do estado. 

“Existiu um crescimento muito grande de até 66,4% das lavouras temporárias. A silvicultura está incluída neste dado. Mas o crescimento foi puxado principalmente pelas lavouras de soja, algodão e milho. A maioria no oeste do estado, onde existe grande produção de commodities”, afirma Augusto.

Outro destaque vai para a pecuária familiar. O segmento triplicou de valor em onze anos. O bom desempenho no período se deve principalmente a valorização dos animais ovinos, caprinos, bovinos e equinos. A produção familiar de leite de vaca também produziu 255,7% mais valores do que em 2006.

Os dados indicam também que os agricultores familiares foram responsáveis por mais da metade do que foi colhido em 39% das lavouras permanentes do estado, sobretudo nos pomares de banana, laranja, manga, cacau e maracujá. Os agricultores familiares cultivaram 66,7% do feijão colhido no estado e 82% do volume produzido de mandioca. 

Os dados também indicam que as matas destinadas a reserva legal cresceram 60% nas propriedades familiares e 40% nos estabelecimentos não familiares. 

Municípios Ainda de acordo com o IBGE, o número de estabelecimentos agropecuários familiares cresceu em 165 municípios da Bahia. O maior aumento foi registrado em Santo Amaro. Neste município do recôncavo baiano o número de produtores familiares subiu de 791 para 2.604 entre 2006 e 2017. Na região foram implantados diversos projetos de assentamento rural neste período.

Também houve crescimento expressivo de unidades familiares em Vitória da Conquista, onde o número subiu de 3.085 para 4.681, e em Itiúba, que tinha 1.820 estabelecimentos familiares e agora tem 3.038. Os municípios com maior número de produtres rurais são Macaúbas (5.799), Casa Nova (5.729) e Feira de Santana (5.693).

Já os dois municípios que mais geraram empregos no campo foram Juazeiro e Casa Nova, no norte do estado. Considerados polo de fruticultura, os dois municípios juntos geraram mais de 60 mil empregos na região do Vale do São Francisco.