Agronegócios: futuro da cadeia do frango em debate

Simpósio discute tendências no consumo, inovações tecnológicas, e estratégias para diminuir o preço da ração

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  • Georgina Maynart

Publicado em 22 de agosto de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: Georgina Maynart)

Durante dois dias representantes da avicultura da Bahia vão discutir os principais entraves e perspectivas de desenvolvimento do setor. Eles estão reunidos no 1º Simpósio Baiano de Avicultura, que está sendo realizado em Feira de Santana até esta quarta-feira (22). O evento é promovido pela Associação Baiana de Avicultura (ABA), em parceria com a Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB).  O Simpósio está discutindo as novas tendências no consumo de proteína animal, assuntos relacionados ao mercado, inovações tecnológicas, e estratégias de gestão para diminuir o preço da ração e os efeitos do aumento do frete. 

“Atualmente o maior desafio do setor é o cumprimento da questão sanitária e do TAC que foi firmado com o Ministério da Agricultura há mais de 12 anos. O Termo de Ajustamento de Conduta prevê a implantação, em todas as granjas, das normas de inspeção física e sanitária”, diz Patrícia Nascimento, Diretora Executiva da ABA.  Estas normas preveem, por exemplo, a instalação de telas específicas e cercas de isolamento a, no mínimo, cinco metros dos galpões. O prazo para adequação ao TAC termina dia 31 de agosto e vale para granjas de todo o país.  “Estas exigências envolvem custos muito altos. Mas, na Bahia, 100% das granjas protocolaram a documentação exigida. Agora todas vão passar pela fiscalização da ADAB, Agência de Defesa Agropecuária do Estado”, acrescenta Patrícia.   A avicultura envolve a criação de aves para produção de alimentos, em especial carne e ovos. A atividade se destaca principalmente pela produção de frango, mas inclui ainda, em menor escala, a criação de perus, patos, gansos, codornas e avestruz. De acordo com a Associação Baiana de Avicultura, o estado tem 485 granjas registradas e 12 frigoríficos de frangos. Dois deles possuem SIF, registro de inspeção federal que permite a exportação da carne de frango. Estes frigoríficos já exportam para outros países, principalmente para a China. Os chineses preferem comprar partes específicas do frango, como o pé e a asa.

Apesar de já exportar para China e países da União Européia, a Bahia ocupa a 9 ª posição no ranking nacional de produção de frango. O equivalente a 1,97% da produção nacional. Bem longe do primeiro produtor que é o Paraná, responsável por 31,79% da produção brasileira de frango.  

Mas este é um mercado com tendência de crescimento. O Brasil é o segundo maior produtor de frangos do mundo e o que mais exporta, a frente dos Estados Unidos e da União Europeia. O país envia mais de 4 milhões de toneladas de frango para outros países todos os anos. 

No mercado interno, o segmento também é promissor. O Brasil é o quarto país que mais consome aves, ao lado dos Estados Unidos, China e União Européia. Segundo a Embrapa, cada brasileiro consome em média 44 quilos de frango por ano.   Já a produção de ovo cresceu 122% na Bahia nos últimos 11 anos, de acordo com o IBGE. O crescimento é quase o dobro da média nacional que ficou em 67,7%. Entretanto, para atender à demanda interna crescente, o estado ainda importa mais de 65% dos ovos consumidos no estado. 

Preço cai e consumo não aumenta

A retração econômica tem afetado em cheio a venda de frangos no país. Historicamente, as aves sempre foram os alimentos procurados pelos consumidores para fugir dos preços da carne bovina, em geral, três vezes maiores. 

Quando o bolso apertava, as aves passavam a marcar presença, de forma mais frequente, na mesa do consumidor. Mas este movimento não tem sido registrado na atual crise econômica do país. Até o frango tem sido renegado pelos consumidores. Muitos frigoríficos estão com os depósitos cheios. A redução na procura já teria provocado uma diminuição média anual de 4% na produção, de acordo com as estimativas preliminares divulgadas pela Associação Brasileira de Proteína Animal.    Na Bahia não há números exatos. Consultados pela equipe do CORREIO, muitos representantes de frigoríficos preferiram não se identificar, mas confirmaram a “desaceleração” do mercado.  

Nem a queda no preço do frango, registrada nos últimos doze meses, teria alavancado as vendas. As reduções nos preços variaram de 0,78% a 2,33% ao mês, no valor do frango congelado. Já no caso do frango resfriado, a queda chegou a 3,43% ao mês, segundo os cálculos do CEPEA, Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. O quilo do frango congelado inteiro tem variado entre R$ 3,77 a R$ 3,89.  

O frango não faz parte da Cesta Básica, mas a queda no consumo da ave também já vem sendo percebida e observada pelos especialistas do Departamento Intersindical de Estudos Econômicos e Sociais (Dieese). De acordo com a supervisora técnica do órgão na Bahia, Ana Georgina da Silva Dias, são sinais de uma economia estagnada e do desemprego elevado.

 “No momento em que você tem um salário esmagado, renda limitada, alto desemprego, orçamento apertado, as pessoas não têm possibilidade de consumir muitos produtos. As proteínas, geralmente, são as primeiras a serem afetadas na lista de consumo, porque são as que mais pesam no orçamento do consumidor”. 

A carne bovina, incluída na Cesta Básica, chega a custar até três vezes mais do que o frango. Em Salvador, a carne bovina de média qualidade, como o chã de dentro ou coxão mole, está custando em média R$ 24.  Já um quilo de peito de frango pode ser encontrado por até R$ 8  nos mercados da capital baiana.  

A especialista em economia destaca que, embora exista esta diferença entre a carne bovina e a de frango, as pessoas assalariadas devem estar migrando para outro produto ainda mais em conta. “O país tem de fato uma legião de pessoas sem emprego, com renda muito baixa. Muitos continuam comprando, mas em menor quantidade do que costumava comprar. Isso mostra que retrocedemos vários anos. Porque um dos itens que mostravam que tínhamos avançado, economicamente e socialmente, era o aumento no consumo de alimentos básicos. Isso retrocedeu. Mas para as pessoas que são assalariadas, o carro do ovo, por exemplo, aparece como uma possibilidade mais viável, por ser mais barata”.   A supervisora do Dieese aponta ainda outros indicadores que podem estar influenciando no consumo. “Em torno de 45% da população de Salvador e Região Metropolitana, que está trabalhando com carteira assinada, recebe menos de 1 salário mínimo. A taxa de desemprego alcança 25,1%. Significa dizer que 1 a cada 4 trabalhadores está desempregado. São 510 mil pessoas, em idade economicamente ativa e sem emprego. E quem está trabalhando na informalidade, muitas vezes recebe menos de 1 salário mínimo por mês. A pessoa acaba excluindo do dia-a-dia alguns alimentos que consumia com mais frequência. Elas podem até consumir proteína, mas não é um consumo diário”.  

Ainda de acordo com o CEPEA, enquanto os preços da carne de frango caíram na maioria das regiões pesquisadas, as exportações bateram recorde em julho. O país exportou 451 mil toneladas de frango in natura e industrializadas. O setor exportador teria contando com uma participação maior de destinos como a África do Sul. 

   SERVIÇO:   O QUE: I Simpósio Baiano de Avicultura  QUANDO: 21 e 22 de agosto  ONDE: Cajueiro Convenções – Feira de Santana – Bahia