'Águas de outubro': estragos da chuva são registrados em bairros de Salvador

Previsão para os próximos dias se mantém

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  • Luana Lisboa

Publicado em 22 de outubro de 2021 às 05:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

João Victor Torres abriu os olhos ao acordar, espiou pela janela e soube, dali, que haveria muito trabalho a ser feito ao longo do dia. As fortes chuvas que tomaram a Salvador primaveril na quinta-feira (21), primeiros registros significativos do mês de outubro na cidade, puderam ser vistos em vários pontos da cidade logo pela manhã, dentre eles, a casa do líder comunitário do bairro de Itacaranha.

Além dos trabalhos rotineiros de arrecadar cestas básicas para os moradores, João teria que cuidar dos estragos causados pela água. O campo da Lagoa, que, geralmente, recebe o pessoal do baba às quintas virou uma lagoa mesmo, completamente coberto de água. Seu entorno, você já deve imaginar. O alagamento na Rua Rio Madeiro, nas proximidades, chegou a amedrontar os moradores. Já a Rua Almeida Brandão, na orla do bairro, teve como resultado das forças da água um grande buraco em seu asfalto.

“Passei a manhã fazendo rondas no bairro, correndo para encher os buracos de sacos plásticos para evitar acidentes. Em algumas casas, a água chegou a invadir, tirou a paz das pessoas”, diz o líder comunitário. João Victor está há 16 anos no cargo e esses episódios não são raros.

Mas não é somente em Itacaranha que a chuva incomodou os moradores. Na Ribeira, Jair Vilas Boas já está acostumado a reclamar da Rua Jussara, palco de constantes alagamentos e casas sendo constantemente invadidas pela força da natureza. “Cheguei em casa do trabalho e já vi, de longe, a tragédia”. O Colégio Espaço Master, na Avenida Pôrto dos Mastros, chegou a ter que suspender as aulas, ele conta.

Pontos de alagamento também foram encontrados na Avenida ACM e na Juracy Magalhães. O Canal do Rio Vermelho subiu e formou uma correnteza que arrastou vegetação, pedaços de madeira e lixo. A Transalvador registrou a mesma situação nas Avenidas Nilo Peçanha, General San Martin e, na Ladeira da Fonte das Pedras o alagamento no sentido da Av. Bonocô foi tanto que causou interdição no local. Moto e homem tentam fugir do 'splash' dos carros na Avenida Nilo Peçanha, na CAlçada (foto: Marina Silva/CORREIO) Para Felipe Meireles e Laiz Menezes, moradores de Brotas e Rio Vermelho, os incômodos foram menores, mas ainda surgiram de alguma forma. Com a chuva, a internet do estudante de psicologia simplesmente parou de funcionar. Ele e a mãe tiveram que recorrer ao 3G para trabalharem no período da manhã. “Três horas depois, ainda sem acesso, resolvemos procurar um local no Shopping que tivesse wi-fi, porque em casa, não deu”, relata.

Já Laiz mora na Orla do Rio Vermelho e o que a incomodou foi o cheiro que sentiu de seu apartamento. Com o escoamento da água do esgoto no local, as areias das praias ficaram completamente cobertas por lixo e o mar acinzentado. “Muito lixo na praia, nunca vi. E o cheiro, nem se fala”, reclamou.

Procurada sobre o assunto, a Embasa afirmou, através de assessoria, que, se a água suja a empresa não tem relação com a drenagem pluvial nem coleta de lixo e que o esgoto presente no rio Lucaia é proveniente de lançamentos irregulares de esgoto na bacia do rio Camurujipe.

Moradores de Pau da Lima, Pituba, Imbuí, Graça, Piatã e São Marcos, além de trechos da bairros da Barra, Sussuarana, São Rafael relataram, ainda, que, durante algum período do dia, a energia tomou o famoso chá de sumiço. A Coelba foi procurada e afirmou, através de nota, que pela manhã, a situação já havia sido resolvida nos locais. Para isso, “aumentou em 65% o seu efetivo de turmas de operação para atender o aumento no número de ocorrências”.

Mas como, segundo previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o clima se manterá instável até o domingo (24), “as equipes da concessionária que incluem Engenheiros, técnicos e eletricistas permanecerão de plantão durante os próximos dias”.

Mas o que gerou essa chuva repentina?

Cláudia Valéria, meteorologista do Inmet, explica que esse tipo de chuva não é incomum na primavera, principalmente no litoral do estado.“Ainda mais porque a média de chuva para o mês de outubro é de 95mm. Ao longo do mês, ainda não registramos episódios de chuva significativa e, nesta manhã (de quinta), tivemos registros de 3,4mm. Isso significa que, pelos próximos dias, podemos tender a nos aproximarmos de atingir a média mensal”, explica.Portanto, uma sequência de dias de chuva pode acontecer nos próximos dias. Essa também é a expectativa da Defesa Civil de Salvador (Codesal), que definiu que a previsão para amanhã (22) é de céu nublado com chances de até 90% de chuvas fracas a moderadas, com risco para alagamentos pontuais. Para o sábado (23), a previsão permanece a mesma de sexta-feira. 

De acordo com a Codesal, o fenômeno acontece em função do fenômeno meteorológico connhecido por cavado, somado a uma frente fria. O cavado é um sistema de baixa pressão que contribui para formação de nuvem e, consequentemente, de chuva. Segundo o órgão, em alguns bairros de Salvador, o acumulado da chuva em algumas horas da quinta foi quase o esperado para todo o mês, a exemplo de Sussuarana (83,4mm), Sete de Abril - Bosque Real (80,8mm), São Rafael (78,6mm), Águas Claras (78,3mm) e Pituaçu (76,4mm).

E, segundo Cláudia, a previsão de chuva não se restringe somente à Salvador, mas abrange todo o estado. “Desde ontem, temos visto registros de chuva na Bahia toda, oeste, centro, Chapada, no estado como um todo. A previsão se mantém”.

Por isso, aos moradores de áreas de risco, o momento é de cautela. Até às 17h desta quinta-feira (21), a Codesal registrou 18 alagamentos de imóveis, um alagamento de área, 10 ameaças de desabamento, uma ameaça de desabamento de muro, 12 ameaças de deslizamento, três árvores ameaçando cair, 42 avaliações de imóveis alagados, dois desabamentos parciais, 12 deslizamentos de terra e duas infiltrações.

Para solicitações, a Codesal permanece de plantão 24 horas e pode ser acessada pelo telefone gratuito 199.