Ainda fechados, hotéis de Salvador gastam até R$150 mil por mês para se manter

Rede GJP do Wish Hotel da Bahia já gastou mais de R$ 3 milhões para adaptação aos protocolos

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  • Marcela Vilar

Publicado em 3 de agosto de 2020 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Wish Hotel da Bahia
Antigo Hostel HospedaSalvador, agora Pousada Reino de Aruanda por Divulgação

Enquanto aguardam ansiosos para a retomada do setor de turismo em Salvador, os hotéis e pousadas se empenham para se adaptar à nova realidade e fechar as contas no fim do mês. Sem receita desde abril, a rede hoteleira continua com custos de manutenção, mesmo que reduzidos, para assegurrar a qualidade dos estabelecimentos. O Fera Palace, por exemplo, no Centro Histórico, já demitiu mais de 80 funcionários e, ainda assim, continua com despesa mensal de R$ 150 mil, isso sem conseguir acessar às linhas de crédito do governo federal. Apesar disso, a data de reabertura está marcada para 1º de dezembro.

Já a rede GJP, à qual pertence o Wish Hotel da Bahia, no Campo Grande, gastou mais de R$ 3 milhões com a adaptação aos protocolos de higiene e segurança - considerando todos os seus empreendimentos. O Wish pretende voltar a funcionar em  12 de outubro com o selo Clean&Safe concedido pelo Hospital Sírio Libanês.

“O custo está altíssimo porque nosso hotel é cinco estrelas e precisa ter uma equipe mínima para manter o hotel limpo e não ter prejuízo com os móveis”, explica o empresário Antonio Mazzafera, que comanda o Fera Palace. Só 12 dos 100 funcionários trabalham atualmente, divididos na manutenção, limpeza, administrativo e segurança.

A aposta para a reabertura é mudar tudo que for possível para o digital, para evitar contato físico. O menu dos restaurantes, que terão metade das mesas, será acessado pelo celular - por QR code - assim como os apartamentos, que não terão mais chaves. A capacidade na área da piscina também vai reduzir, para respeitar o distanciamento. Para usar a academia, só por agendamento e com hóspedes do mesmo quarto por vez.

Mesmo que não tenha tido nenhuma medida da prefeitura, nem dos governos estadual e federal, para que os meios de hospedagem fiquem fechados, Mazzafera esclarece que decidiu fechar o Fera porque não há demanda e também para preservar a saúde dos clientes e funcionários. Em dezembro, só 25% dos 81 apartamentos vão operar, com um intervalo de 48h entre cada hóspede.

Mazzafera diz ainda que, como a maioria das pessoas que se hospeda no Palace é do exterior, a recuperação vai demorar mais do que a de outros hotéis. “Acredito que só em 2023 vamos conseguir voltar ao mesmo patamar do ano passado”, lamenta o empresário. Mazzafera revela ainda que por conta do faturamento anual do Fera Palace ser maior que R$ 10 milhões, ele não conseguiu acessar a linha de crédito da Pronampe, da Caixa Econômica Federal. Lobby do Hotel Fera Palace. Crédito: Divulgação/Fera Palace Os custos para hotéis de médio e grande porte, que têm em média 100 apartamentos, varia de 100 a 160 mil reais por mês, mesmo fechados. O Monte Pascoal Praia Hotel, na Barra, conseguiu reduzir as despesas mensais de R$ 600 mil, que é a média de custo na alta estação, para R$ 100 mil. Mesmo sem hóspedes, só a conta de energia elétrica chega a R$ 12 mil, devido à taxa mínima cobrada pela Coelba. Porém, a receita agora é zero. Sócio proprietário do Monte Pascoal e ex-presidente da Associação Baiana da Indústria de Hotéis do estado da Bahia (ABIH-BA), Glicério Lemos pontua que espera a cidade ter o mínimo de funcionamento para não ter prejuízo na reabertura.“Abrindo com a ocupação em 20 a 30% é prejuízo. Tem que ter pelo menos 65% de ocupação para poder pagar as contas”.Ele afirma que planeja abrir seu hotel em outubro ou novembro, a depender da demanda. Lemos ainda estima que o custo operacional do hotel na retomada terá aumento de 15% por conta da adaptação aos protocolos sanitários. “A gente tem que ter equipamento que não tinha antes, como tapetes especiais, aparelhos de desinfecção, software para interagir com o hóspede… Isso vai onerar bastante”, prevê o empresário. 

Isso já aconteceu com o America Towers, no Caminho das Árvores, que nunca fechou durante a pandemia. Para se reinventar, o investimento total foi de R$ 46 mil, sendo R$ 8 mil só para implantar a estrutura de home office. O custo fixo para manter o hotel hoje, que tem 140 apartamentos, é de R$ 160 mil. Por conta dos gastos, a diária aumentou 11%. A taxa de ocupação, que era em torno de 75%, caiu e agora varia entre 15 e 20%. Dos 44 funcionários, 15 foram demitidos. O cliente, para se hospedar, deve assinar um termo de responsabilidade para garantir o cumprimento das normas de segurança, como usar a máscara e manter o distanciamento. 

Ao chegar, é preciso ainda medir a temperatura, higienizar os calçados em dois tapetes - um sanitizante e outro secante - e esterilizar as bagagens numa cabine com um medicamento à base de ozônio, como é recomendado pela Anvisa. O restaurante e academia não estão funcionando. Porém, em alguns quartos, com tarifas especiais, foram instalados equipamentos de ginástica para quem não quiser abrir mão dos exercícios. “É melhor mudar nosso comportamento e permitir que a economia volte a funcionar aos poucos”, defende a diretora operacional do America Tower, Guadalupe Maciel. 

As despesas também aumentaram para o Mar Brasil Hotel, em Itapuã, onde ficava a casa do cantor Vinicíus de Moraes. Como não fechou, o hotel, que tem 76 apartamentos, precisou gastar R$ 50 mil para se adaptar aos protocolos. Ele é um dos 237 empreendimentos da Bahia que se certicaram com o Selo Turismo Responsável, do Ministério do Turismo.

Porém, a taxa de ocupação, que deveria estar em 70% nesta época do ano, está em 20%. O resultado foi uma redução de 80% do faturamento nos meses da pandemia, comparado ao mesmo período do ano passado. O público também mudou: se antes eram turistas estrangeiros ou de outros estados, agora são soteropolitanos e baianos que buscam relaxar e fazer o isolamento de uma maneira diferente. 

O Grande Hotel da Barra, que tinha 70 funcionários empregados, precisou demitir 8 de cada dez empregados. Agora só 14 trabalham na unidade, que reabriu com 5% da taxa de ocupação em 1º de julho. O custo fixo mensal atualmente é de R$ 50 mil, segundo o sócio-diretor Manolo Garrido. O serviço da cozinha está terceirizado e o deles próprio volta a funcionar em setembro. Só pode entrar quem estiver “mascarado” e o check-in é por QR code.

O Grand Hotel Stella Maris, que empregava 190 pessoas, só manteve 10, para segurança e manutenção emergencial. Mesmo assim, só os gastos com a manutenção somam R$ 30 mil, fora os custos fixos com impostos e energia elétrica, que os gestores preferiram não informar. 

Já no bairro da Pituba, no hotel Real Classic Bahia, que tem 136 apartamentos, o custo mínimo por mês é de R$ 120 mil, valor que chega até R$ 480 mil na alta estação, quando 90% dos quartos estão ocupados. A equipe, que tinha 55 pessoas, agora tem menos de 20. O hotel, onde a maioria do público é de São Paulo, deixou de lucrar R$ 600 mil reais com reservas de eventos nos meses de março e abril, que tiveram que ser cancelados. Contudo, eles reabriram na última quarta-feira (29/7), somente para quatro apartamentos e aguardam um grupo de 20 pessoas para esta semana. Parte dos colaboradores já foi recontratada. 

De hostel a pousada Outros empreendimentos menores também passam por dificuldades. É o caso do antigo hostel Hospeda Salvador, de David Costa, 47 anos, que fica no Pelourinho. Ele será todo adaptado para a reabertura, prevista para novembro, pois passa a funcionar como pousada, com metade da capacidade dos quartos. Até mudou de nome: agora é Pousada Reino de Aruanda.

Antes da pandemia, David tinha um faturamento entre 18 a 30 mil reais por mês, a depender da estação do ano. Os custos, que eram entre 8 a 10 mil reais, conseguiram ser reduzidos em 50%. Ele teve ainda que demitir os dois funcionários e só uma pessoa, terceirizada, faz a limpeza do estabelecimento, uma vez por semana. 

O microempresário também aproveitou para fazer reformas na edificação, que data de 1917 e pertenceu ao político Cosme de Farias. A cozinha, que era compartilhada pelo estilo da hospedagem, também passa por reforma e ele criou um cardápio para servir o café da manhã, que será no quarto. Ao todo, ele gastou R$ 2 mil para a readaptação, incluindo a compra de dispensers de álcool em gel, marcações no piso para distanciamento, termômetro e ainda pensa em adquirir uma máquina de ozônio para fazer uma higienização ainda mais rigorosa.

“A situação é complicada, mas vejo um verão promissor”, diz David, otimista, por já ter reservas para o Réveillon. “Vamos abrir com chave de ouro”, completa, esperançoso. David também não conseguiu acessar as linhas de crédito federais. 

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Perto dali, na rua Portas do Carmo, ainda no Pelourinho, a pousada Casa do Amarelindo ainda não sabe quando vai retomar as atividades. A capacidade é de 10 quartos e 5 dos 22 funcionários precisaram ser demitidos. Os outros estão de férias e com contratos suspensos. Emerson Araújo, 25, foi um dos que ficou.“Eu era garçom do restaurante da pousada e depois de 90 dias de férias os donos me chamaram para trabalhar na limpeza. Como eu não tava fazendo nada em casa, aceitei”, explica o funcionário. Emerson e mais outro trabalhador limpam os quartos, de segunda à sexta.Em Itapuã, o Hotel Pedra da Sereia, que se manteve aberto durante toda a pandemia, conseguiu reduzir 25% do custo operacional, a partir da demissão de metade dos funcionários e integrando os sócios na mão de obra. Apesar de terem conseguido uma linha de crédito, o faturamento reduziu em 80%. “Ainda é insuficiente para resolver a situação. Tá dando prejuízo”, diz o sócio Daniel Vidal. Dos 50 apartamentos, só 5 estão ocupados.

Na Pousada da Mangueira, que fica na ladeira da Saúde, a despesa é de R$ 40 mil para manter a estrutura de 26 apartamentos, mesmo fechado. O custo com a energia elétrica, que era de 6 mil reais, agora é 2 mil. Dos 10 empregados que ali trabalhavam, somente dois continuam com os contratos, que foram reduzidos em carga horária. 

Adaptação O diretor de Operações da Rede Deville, José Mário, comenta que esses meses em que o Hotel Deville Prime, em Itapuã, ficou fechado foram essenciais para preparar o hotel e capacitar a equipe para as novas medidas. A partir de 1º de setembro, quando a unidade volta a operar, os hóspedes que estiverem sem máscara vão receber modelos descartáveis, assim como um frasquinho de álcool em gel. Chaves, canetas e máquinas de cartão de crédito serão higienizados a cada utilização.

O cardápio para o serviço de quarto ficará disponível na televisão dos quartos, e nos restaurantes, o buffet de café da manhã terá os alimentos protegidos por uma “cortina” de acrílico, com um garçom que servirá os itens, para evitar contato. As academias e bares não vão ser abertos num primeiro momento. 

No Wish Hotel da Bahia, na Avenida Sete de Setembro, a taxa de ocupação média na reabertura, prevista para 12 de outubro, será de 40 a 50%, ampliando aos poucos. Segundo o CEO da GJP Hotels & Resorts, Fábio Godinho, foi desenvolvido um aplicativo para a rede, no qual os hóspedes podem fazer check-in e check-out e acessar os cardápios dos restaurantes, além de outras funções. Haverá também medição de temperatura na chegada e as vagas de estacionamento serão limitadas, assim como os ambientes em comum, a exemplo da piscina, para respeitar o espaçamento mínimo. O café da manhã será agendado e poderá ser por serviço de quarto. O Wish diz não ter informações sobre os custos com a manutenção. 

Retomada “Não adianta só o hotel ter vontade de abrir, a cidade tem que ter o mínimo de funcionamento possível para poder gerar demanda”, explica o presidente Luciano Lopes da Associação Baiana de Hotéis (ABIH-BA). “Abrindo agora os shopping, é um grande ponto para trazer o turista para Salvador”, prevê. Lopes ainda pontua que toda a reabertura deve ser feita com muito cautela e respeitando os protocolos, divulgados em junho pela ABIH-BA (relembre aqui). 

As medidas não são obrigatórias, mas o presidente reforça que, que quem não colocá-las em prática terá dificuldade em conquistar clientes: “O turista não vai vir se não se sentir seguro”. Desde a divulgação dos protocolos no mês passado, a associação começou a fazer lives quinzenais no Instagram e Youtube para orientar os profissionais da rede hoteleira com a aplicação das medidas sanitárias. ABIH-BA também fez uma parceria com a Senac, que disponibilizou 22 horas de conteúdo online para que os

meios de hospedagem façam a capacitação de suas equipes. Confira nos links dos vídeos no final da matéria. 

Captação de recursos O secretário de Turismo da Bahia Fausto Franco ressalta que já houve uma facilitação para obter alguns financiamentos, a exemplo das linhas de crédito da Desenbahia (Agência de Fomento do Estado da Bahia), que só exige agora 17 documentos. Antes, eram mais de 200.“Uma das coisas que foi mais cobrado na Desenbahia foi a desburocratização e a rapidez nas respostas”, esclarece Franco.O secretário também reforça que está em constante diálogo com o governo federal para obter mais recursos para o estado. Há ainda a possibilidade que se reduzam alguns impostos, que são 80% do governo federal. “Estamos discutindo com a Secretaria da Fazenda”, completa o secretário, que tem reunião marcada com o Ministro do Turismo, Marcelo Antônio, na próxima semana.

O Fiesta Hotel Bahia, na avenida ACM, no Itaigara, voltou a funcionar no dia 20 de julho. Procurados, o hotel Fasano, o Catussaba, o Tivoli, o Villa Galé e o Grand Palladium não quiseram dar informações sobre os custos de manutenção dos empreendimentos. Confira aqui a lista mais recente dos hotéis que estão abertos em Salvador, segundo a ABIH-BA.

Vídeos Senac para meios de hospedagem no Youtube:

1- Paramentação e Desparamentação - https://www.youtube.com/watch?v=iRm5-iWPIU0&feature=youtu.be 2-    Distanciamento Social - https://www.youtube.com/watch?v=ln0JyurSJYk&feature=youtu.be

3-    Higiene pessoal - https://www.youtube.com/watch?v=JGeWiOF3XOA&feature=youtu.be

4-    Sanitização de ambientes -https://www.youtube.com/watch?v=vfmxV-PZ1Cs&feature=youtu.be

5-    Sanitização de quartos - https://www.youtube.com/watch?v=2MKfjV6ghBs&feature=youtu.be 6-    Premissas para comunicação efetiva - https://www.youtube.com/watch?v=dx3XI6UpEIY&feature=youtu.be

7-    Monitoramento das Atividades - https://www.youtube.com/watch?v=i-vOhC1VmTs&feature=youtu.be

Custos mensais de manutenção na pandemia Mar Brasil hotel - reduziu em 1/3  Hotel Pedra da Sereia - reduziu em 25% Grande Hotel da Barra - 50 mil Monte Pascoal - 120 mil Fera Palace - 150 mil Pousada Reino de Aruanda - 4 a 5 mil  Pousada da Mangueira - 30 a 40 mil reais Real Classic Bahia - 120 mil  Grand Hotel Stella Maris - 30 mil reais + custos fixos America Towers - 160 mil reais Tivoli - não informado Grand Palladium - não informado Deville - não informado Wish hotel - não informado

Reabertura hotéis de Salvador 20 de julho - Hotel Fiesta 6 de agosto - Grand Palladium 1 de setembro - Deville Prime 29 de julho - Real Classic Bahia  12 de outubro - Wish Hotel da Bahia 1 de novembro - Pousada  Reino de Aruanda 1 de novembro - Monte Pascoal 1 de dezembro - Fera Palace Grand Hotel da Barra - aberto desde 1 de julho Mar Brasil Hotel - nunca fechou Grand Hotel Stella Maris - sem previsão Hotel Pedra da Sereia - nunca fechou Pousada da Mangueira - setembro

Funcionários demitidos Fera Palace - 80 de 100 Mar Brasil Hotel - 15 de 30 Pousada  Reino de Aruanda - 2 de 3 America Tower - 15 de 44 Grand Hotel da Barra - 56 de 70 WIsh Hotel da Bahia - não informado Deville - não informado Grand Hotel Stella Maris - 180 de 190 Real Classic Bahia - 35 de 55 Hotel Pedra da Sereia - 12 de 24 Pousada da Mangueira - 8 de 10

Quartos Fera Palace - 81 apartamentos Mar Brasil Hotel - 76 apartamentos Pousada Reino de Aruanda - 5 quartos Wish Hotel da Bahia - 284 apartamentos Monte Pascoal - 80 apartamentos Deville - 206 apartamentos  America Tower - 140 apartamentos Grand Hotel da Barra - 121 apartamentos Grand Hotel Stella Maris - 334 apartamentos Real Classic Bahia - 136 apartamentos Hotel Pedra da Sereia - 50 apartamentos Pousada da Mangueira - 26 apartamentos

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro