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Paulo Leandro
Publicado em 31 de março de 2021 às 05:00
- Atualizado há um ano
As quatro virtudes primordiais, quais sejam, o conhecimento, a justiça, a moderação e a coragem, podem ajudar as pessoas de boa vontade a escolher agir de tal forma, a ponto de sua iniciativa tornar-se máxima geral, aplicada por aqueles dotados de compaixão.
Trazendo este exercício de dever moral para o mundo da bola, em tempos de pandemia, é possível propor algumas ações afirmativas, ressalvando, entre as virtudes, a justiça como distributiva e reparadora, deixando a meritocrático-aristocrática na segundona.
Nesta hipotética tabelinha Platão-Kant, sabendo-se da continuidade de campeonatos, visando atender interesses econômicos dos grupos prioritários na hierarquia do mercado da bola, pode-se começar a pensar, vocês, leitores, daí, e eu, daqui, em boas ações.
A primeira delas honra a misericórdia baiana: vacinação para todos, uma vez tomarmos conhecimento de um sem-número de jogadores infectados, e também cronistas, entre outros integrantes deste planeta redondo, teimoso e movido à cega paixão.
E seria por idade? Por divisão? Qual o critério? Como sabemos serem mais desprotegidos aqueles menos remunerados, seriam vacinados, antes, por escala de ordenado, a maioria em situação de salário-mínimo e contratos breves, de três meses.
Este grupo sofre muito antes da pandemia, ao perceber quantias de ficção, diante de imbatível carestia, quadro agravado por calotes e atrasos no pagamento de seus pífios rendimentos por parte de cartolas nem sempre bem-intencionados, como é tradição.
Os endinheirados, além de serem os últimos a mostrar os braços fortes, também poderiam contribuir com os companheiros em condição aflitiva, com a oferta de cestas básicas e auxílios de emergência, entre outras caridades, de iniciativa deles mesmos.
As federações e diretorias dos clubes poderiam propor esta contrapartida à sociedade brasileira, por insistirem na promoção das competições, apesar da inequívoca contribuição para a macabra contagem rumo a 320 mil óbitos, ainda esta semana.
Os contratos superdimensionados, em relação à bola murcha de pseudocraques e as táticas de combate, em rara experiência estética, exibem cifras obscenas, esgarçando a desigualdade entre os clubes, incentivada por concentração de riquezas.
O golpe do Clube dos 13, em 1987, teve seu desdobramento no apequenamento de agremiações importantes para os times de maior torcida, por fornecerem talentos, bastando citar o América, a Portuguesa, e tantos outros reveladores de craques.
Se antes tínhamos estaduais empolgantes, em campeonatos de oito meses e garantia do mercado de trabalho inclusivo para treinadores, jogadores, preparadores físicos, supervisores, enfermeiros, roupeiros, massagistas, etc. etc. hoje restaram torneios.
Aos torcedores de mais recursos, aqueles a quem o bom destino premiou com lucros em suas empresas ou bem-sucedidas carreiras profissionais, cabe a convocação para ajudar quem mais precisa, invocando aqui a inspiração de Santa Dulce dos Pobres.
Faze tua parte e o Bem Supremo voltará em forma de bênção para ti e os teus: dirigentes, jogadores, torcedores, assessores, quem pode mais, têm a oportunidade de tornarem-se pessoas melhores, exigindo vacina e ajudando aqueles necessitados.
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade