Aleixo Belov,  voltas ao mundo  e mastro cortado

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  • Eduardo Athayde

Publicado em 3 de dezembro de 2020 às 05:32

- Atualizado há um ano

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Quando o engenheiro ucraniano-baiano Aleixo Belov, depois da quinta volta ao mundo, três no veleiro Três Marias, como navegador solitário, e mais duas no Fraternidade, com estudantes convidados, foi saudado pelo Farol da Barra, na entrada da Baia de Todos dos Santos - Capital da Amazônia Azul, não imaginava que escrevia uma parte inusitada da história da Bahia. Nunca, em tempo algum, um velejador circulou todo o globo levando a bandeira da Bahia. Aleixo hasteou-a pelo mundo cinco vezes. 

A história é o estudo de pessoas, suas ações, decisões, interações e comportamentos, e seu objetivo principal é estar no centro de um debate diverso, tolerante e intelectualmente rigoroso sobre nossa existência: nossos sistemas políticos, sociedade, economia e cultura. Escrever história é uma ferramenta poderosa, ela molda identidades. “Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova”, ensina Mahatma Gandhi. 

O Três Marias, doado ao povo baiano por Belov, como gratidão a "tudo que a Bahia fez por mim", como afirma, ficará exposto no Museu do Mar, situado no casarão amarelo do Largo de Santo Antônio Além do Carmo, onde documentos, objetos e vídeos das voltas ao mundo ficarão expostos à visitação pública. Para posicionar o barco no casarão o Iphan exigiu que o mastro fosse cortado. 

A missão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que tem prestado relevantes serviços ao Brasil, é de “promover e coordenar o processo de preservação do patrimônio cultural brasileiro para fortalecer identidades, garantir o direito à memória e contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do país.” [bit.do/IPHAN-MISSAO]. 

Ao exigir, por parecer de um dos seus técnicos, cortar o mastro do Três Marias para a permanente exposição no Museu do Mar - evitando ficar para fora do telhado -, talvez possa deformar a realidade, aviltar a memória e mutilar a história. Quem sabe um olhar técnico mais cuidadoso, circunstanciado e aprofundado da questão possa levar a outra interpretação.

"O mastro resistiu a todas as tempestades durante as três longas viagens de volta ao mundo sozinho, mas não resistiu à caneta do Iphan", afirma Belov, informando que deverá deixar os três metros cortados do mastro expostos no local. Quem sabe a TripAdvisor conta essa interessante história.

Acolhido na Bahia aos sete anos quando chegou com a família, fugidos da segunda guerra mundial, o menino pobre e estudioso, hoje com 77 anos, é engenheiro civil pela Ufba e reconhecido como um dos maiores experts em engenharia naval do país. 

Do outro lado do mundo, na histórica cidade de Estocolmo, capital da Suécia, fundada em 1252, o Museu Vasa guarda o navio de guerra Vasa que naufragou em sua viagem inaugural em 1628. O museu está em nono lugar entre os principais do planeta, segundo o Tripadvisor. Uma das principais características do museu - e a que mais atrai a atenção - é o fato dos mastros do navio ficarem expostos para cima do telhado. O National Maritime and Transport Museums, instituição do governo sueco responsável pelo Vasa, fez questão de exibir a história intacta.

A Fundação Aleixo Belov, mantenedora do Museu do Mar, alinhada com a Década das Nações Unidas da Ciência dos Oceanos para o Desenvolvimento Sustentável 2021-2030, ciente da necessidade de criar melhores condições para o desenvolvimento sustentável dos oceanos, mares e costas, já adotou os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), e vai operar dentro do ODS 4 (Educação), ODS 7 (Energia Limpa), ODS 11 (Cidades Sustentáveis) e ODS 14 (Vida na Água), e está conversando com parceiros do Brasil e do mundo para iniciativas conjuntas na área.

Eduardo Athayde é diretor do WWI no Brasil – [email protected]