Além do desfile: confira os outros destaques do Afro Fashion Day

Bate-papos abordaram empreendedorismo e protagonismo negro na Bahia

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  • Da Redação

Publicado em 1 de dezembro de 2017 às 08:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Antônio Chequer

Para fora da passarela, o sábado 18 de novembro deste ano é um dia que vai ficar marcado na memória das mais de 1.500 pessoas que passaram pelo Afro Fashion Day, projeto do CORREIO que celebra o mês da Consciência Negra, no Porto Salvador Eventos. As 12 horas de programação contemplaram outros lados do mundo fashionista, em bate-papos com especialistas, criadores e empreendedores, que conversaram com o público sobre os desafios enfrentados e a importância da população negra no Brasil. Fora as 14 marcas que venderam suas peças na loja colaborativa. Confira.

PAPO AFD   Foram seis bate-papos sobre moda, arte, sustentabilidade e beleza, no 2º piso do edifício. A especialista em bioquímica estética Josiane Popoff, da Bellacor Estética, falou sobre tratamentos e cuidados para a pele negra. “Muitas vezes, as Saiba como foi clínicas não utilizam os produtos específicos para tratar da melhor forma a diversidade dos pigmentos de peles negras”, destaca. A mesma questão foi ressaltada em A Indústria da Maquiagem Entende Mesmo desse Riscado?, bate-papo com a maquiadora Maili Santos, que falou sobre como o mercado da beleza passou a investir em maquiagens para a população negra. A profissional participou do Afro por intermédio da Escola Baiana de Arte e Moda (Ebam), assim como o artista visual Yosh José, que revelou detalhes de seu processo criativo. A maquiadora Maili Santos, que conduziu o bate-papo A Indústria da Maquiagem Entende Mesmo desse Riscado? (Fotos de Antônio Chequer/Divulgação) A consultora empresarial Patrícia Mello foi ao evento pela manhã para assistir à palestra Fashionismo com Tradição e Identidade, da estilista Madá Negrif, também oferecida pela Ebam, e à noite para ver o desfile. “Fiquei surpresa com a beleza do evento. Não conhecia o espaço. O CORREIO foi muito feliz em colocar o calendário da moda no mês de novembro. Acrescenta muito pro nosso cotidiano. Visitei todos os expositores. E o portfólio de produtos estava bem diversificado, com produtos bons”, conta ela sobre a AFD Store. Mello revelou ter tido vontade de conhecer o evento há anos. “Foi minha primeira vez. Nas outras edições, eu nunca pude participar, porque sempre estava viajando. Mas este ano valeu a pena ficar em Salvador. Achei superlindo ver as pessoas mobilizadas e produzidas. Foi um evento de diversidade, que tinha a bandeira da inclusão social”, ressalta.

A antropóloga Luana Nascimento, 29, foi ao AFD para assistir à palestra Sustentabilidade na Moda, com a jornalista Ana Fernanda, do Coletivo Justa Moda e uma das articuladoras do movimento internacional Fashion Revolution (FR). “Minha interação com FR se deu ao longo da minha pesquisa acadêmica. E, como tive acesso ao mercado afroempreendedor tive ao sustentável. Ambas as formas dialogam: o social e o ambiental”, diz Ana. Luana concorda com o discurso da palestrante ao avaliar a necessidade de um protagonismo de profissionais negros no mercado de moda que “por muito tempo, em uma cidade quase majoritariamente negra, o circuito de estilistas e designers não dá visibilidade para essas pessoas”. “É uma população que não é representada, tanto na criação dos produtos, quanto na publicidade. Sempre sendo relegada a um lugar de não diálogo e invisibilidade”, afirma a antropóloga. Para a pesquisadora, “o Afro Fashion Day consegue unir a diversidade étnico-racial à moda sustentável e ao mercado afroempreendedor”. 

Os desafios do mundo dos negócios foram debatidos no bate-papo Moda, Afroempreendedorismo e Economia Criativa, entre os estilistas Renato Carneiro (Katuka) e Goya Lopes e o administrador Paulo Rogério Nunes (Vale do Dendê). Segundo Paulo, foi um diálogo interessante para pensar em como comprar de pequenos empreendedores para fortalecer a economia local. “Goya é pioneira no assunto e Renato é um empreendedor de São Paulo que veio para Salvador e desenvolveu sua marca de sucesso”.  A troca foi boa, pois os participantes queriam entender a questão da moda como estratégia econômica da comunidade negra”, conta o publicitário, que lançou esta semana um edital de investimento em empreendedores negros. Herlom Miguel, que criou com a mãe a marca Rosa Malê, foi ao evento conferir as palestras e destacou a composta pelo trio. “Essa mesa trouxe perspectivas interessantes, sobretudo de discutir economia num ponto de vista geral para depois partir para o específico. O tempo que o dinheiro circula na mão das pessoas negras é muito curto em comparação com não-negros. Ou seja, a população negra tem menos possibilidades de ter lucros maiores”, conta. Para o administrador, “só vamos conseguir ter vitória e acesso à economia e condição de crescimento se tivermos política pública e investimento”.  

No bate-papo Empoderamento e Empreendedorismo Feminino, oferecido pela Avon, com Ana Fontes, da Rede Mulher Empreendedora, Ivete Sacramento, secretária municipal da Reparação, e Maria Coelho, gerente divisional de Vendas da Avon, a discussão sobre finanças também deu o tom da conversa. Fontes revelou que, em uma pesquisa organizada pela instituição em que trabalha, foi identificado o que motiva as mulheres a abrirem seu próprio negócio. “Quando pergunta-se para um homem, as respostas estão relacionadas ao dinheiro. Quando pergunta para mulher,   estão relacionadas à emoção”. Essas e outras informações foram compartilhadas na mesa que contou ainda com apresentação da mestre de cerimônias do evento, a jornalista Maíra Azevedo, a Tia Má, e mediação de Linda Bezerra, editora-chefe do CORREIO. 

AFD STORE Tainá Marylin Souza, 18, aluna do primeiro semestre de moda da Universidade Salvador (Unifacs), disse ter ficado encantada com a estrutura do evento. A jovem revelou que foi acompanhada por dois colegas do curso, mas que no caminho, encontrou tantos outros que “até perdeu a conta”. Ela considera ainda o AFD “um evento lindo pela mensagem e sentimento de responsabilidade social e ecológica”. E completa: “Achei superinteressante todo o visual publicitário montado na loja colaborativa AFD Store. Usaram a cor verde e design artesanal com caixotes. Tudo isso me trouxe a ideia de sustentabilidade”, enfatiza a universitária que também aproveitou o som comandado pela Banda Rua 06 e pelos DJs Jack Nascimento e Raiz na praça de alimentação, no 1º piso. O espaço contou com a venda de lanches variados, como crepes, abará, beiju, sanduíche e pizza, além de água, cerveja e refrigerante. A responsável pela marca de óculos Sonbrille, Katiane Pereira, disse que as vendas superaram as expectativas O pesquisador em moda e jornalista Luis Fernando Lisboa também conferiu a feirinha no 2º piso e as marcas Black Atitude, Boutique Negralá, Erika Rigaud Turbantes, Goya Lopes, Guapa (Com Amor, Dora e La Abuela), NBlack, Negafulô, Outerelas, Preta Brasil, Sonbrille, Sou Diva – Tá Bom Pra Você?, Rey Vilas Boas, Turbanque e as produções dos estudantes do Bahia Revoluções Criativas, do Instituto ACM. “Vi marcas novas no mercado e outras mais veteranas. A iniciativa do Afro de apresentar as produções é o que há de mais atual na cena da moda. É uma discussão contemporânea. O evento está conectado com demanda e potencial criativo”, destaca Lisboa, que conferiu todos os andares do evento, disse ainda que o projeto contribuiu na divulgação das marcas. “A qualidade das peças vistas na passarela e na loja é alta. Os produtos da Bahia acabam sem ter visibilidade. Só se vê eixo Rio-São Paulo e acabamos prejudicados ao mostrar as nossas produções”, finaliza o mestre em Cultura e Sociedade que pesquisou na Ufba a história de vida do estilista baiano Ney Galvão, falecido na década de 90.

 *Colaborou para o CORREIO