Aluno da Uefs é morto com tiro pelas costas em Feira de Santana

Wagner Willian, 24, também era artista e foi morto por homem que passava de bicicleta

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  • Da Redação

Publicado em 22 de junho de 2021 às 19:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Aluno do curso de História da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Wagner Willian Nascimento, 24 anos, era também um artista. Quando não estava em aula ou trabalhando em um call center, fazia performance na web e ainda era poeta. Mas, na última quinta-feira (17), ele foi baleado pelas costas em uma praça, em Feira de Santana, por um homem que estava em uma bicicleta e não resistiu. 

Em nota, a Polícia Civil (PC) disse que a morte de Wagner está sendo investigada pela DH/Feira de Santana. “Testemunhas e familiares foram ouvidos e novos depoimentos agendados, para auxiliar no esclarecimento da autoria e motivação do crime, que ocorreu no último dia 17, no bairro Cidade Nova”, informou a PC em nota. 

O CORREIO tentou contato com a família de Wagner, mas não obteve sucesso. O corpo do universitário foi enterrado na última sexta (18). 

Tiros Wagner morreu na Praça da Baixada, na Rua Pelé, por volta das 20h. Ele tinha acabado de sair do trabalho e resolveu parar para conversar com amigos que estavam local, que foi revitalizado há pouco tempo, próximo a um Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e uma biblioteca.

“Depois de reativada, a praça passou a ser um ponto de encontro do bairro para todos os grupos. Passou a ser bastante movimentada”, contou o amigo de Wagner, o também estudante de História da Uefs Elielton Reis, 25. Ele obteve as informações através de uma conversa com os familiares da vítima.  

Elielton disse que Wagner estava sentado em um dos bancos quando o assassino chegou de bicicleta. “Um cara chegou por trás, de bicicleta e atirou pelas costas. Tinha 20 minutos que Wagner tinha saído do trabalho de telemarketing. O crime não foi assalto, porque não teve roubo. A família dele me passou que ele estava ouvindo música ou falava ao telefone, não sei ao certo, quando baleado e o criminoso saiu sem levar nada”, revelou.

O amigo também contou que todos, parentes, amigos, colegas e professores da universidade, procuram entender o que teria motivado o crime. “Depois que ele faleceu, muita gente ficou se questionando o porquê.  Uma pessoa que não era envolvida em nada, trabalhadora, sonhadora, um artista. O objetivo dele agora era ser influenciador digital, tento que nesta pandemia começou a postar com mais frequência conteúdos em suas redes sociais”, relatou. Homofobia Além de estudar e trabalhar em um call center, Wagner dava os primeiros passos para se tornar um influenciador digital, postado fatos que traduzem sua personalidade, inclusive a militância do movimento LGBTQIA+. Questionado se o crime tem alguma relação com a homofobia, Elielton não descartou a possibilidade. “Pode ter sido um crime de homofobia e racismo também. Era uma bicha preta. Estava com outras pessoas, mas o cara só matou ele. Acredito que ele não achou o alvo e acabou descontando nele, por ser bicha e preta. É preconceito racial e a homofobia intrínseca”, declarou.      Elielton também falou sobre a morte de jovens em Feira de Santana: “Feira é uma cidade perigosa. Na quinta, após a morte de Wagner, outros quatro jovens foram assassinados. Todos os locais públicos em Feira são perigosos. A morte de jovens negros tem se tornado cada vez mais comum, principalmente na periferia. Alguns casos, quando há mais de um morto, a segunda vítima tem a vida ceifada porque estava junto com o alvo dos criminosos. Em outros casos, como não encontrou o alvo, bandidos acabam matando quem não tem nada a ver”. 

Wagner era estudante do 8º semestre do curso de História e tinha trajetória atuante no movimento estudantil da Uefs. Como boa pare dos universitários, estudava em um período e trabalhava no outro. “Ele tinha essa dificuldade de fazer curso, porque tinha que trabalhar também, mas todos os professores gostavam dele e entendiam essa problemática. Ele ainda arranjava tempo para produzir festas, antes pandemia, é claro”, contou o amigo.

A vítima era um artista. “Ele cantava, dança, fazia várias performances em apresentações diversas antes da pandemia. Por causa do cenário atual, fazia as apresentações na web”, detalhou Elielton. Em 2019, Wagner lançou seu livro de poesias chamado Manual do Cosmo na própria universidade. “O lançamento foi na Praça Borogodó, inclusive fiz a ilustração da capa. O dia foi muito bonito, teve várias performances, a família dele estava presente e muito orgulhosa”, disse.  

A Uefs se manifestou quanto à morte do universitário com uma nota. Leia abaixo: 

Nota de repúdio e pesar A Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) lamenta e repudia veementemente o assassinato do jovem Wagner Willian Nascimento, ocorrido na noite da quinta-feira (17), no bairro Cidade Nova, em Feira de Santana. O jovem era estudante do curso de História da Instituição e tinha trajetória atuante no movimento estudantil da Uefs.

É importante destacar que, infelizmente, fatos como este não são inéditos no nosso país. O genocídio da juventude negra está registrado nos noticiários e pesquisas. A Uefs segue na luta contra o racismo sistêmico e estrutural, responsável por banalizar a morte desta população.

Por fim, a Instituição presta solidariedade aos familiares e amigos por esta irreparável perda e chama a atenção das autoridades de segurança para que haja a devida investigação e punição dos responsáveis pela morte deste jovem.