Alvo de socos e mordidas, idosa é 12ª mulher a denunciar ex-patroa que agrediu babá

Nova vítima conta que ficou quase dois anos em cárcere privado, sob agressões e ameaças

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 3 de setembro de 2021 às 14:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução/TV Bahia

Foto: Reprodução/TV Bahia Mordidas no couro cabeludo e socos no rosto. Estas foram as agressões relatadas pela 12ª vítima de Melina Esteves França, acusada de espancar, ameaçar e manter em cárcere privado babás contratadas para tomar conta de seus dois filhos pequenos. A mulher é uma idosa, que resolveu tornar o caso público após ver as imagens da ex-patroa atacando Raiana Ribeiro, 25 anos, com tapas, socos e puxões no cabelo. As agressões à 12ª vítima foram registradas em julho deste ano na Delegacia Especial de Atendimento ao Idoso (Deat). Agora são três unidades policiais que investigam a conduta da ex-patroa – além da Deat, foram registradas ocorrências na 9ª Delegacia (Boca do Rio) e na 12ª Delegacia (Itapuã).  A idosa, que teve os dados pessoais preservados, será ouvida às 9h30 da próxima terça-feira (7) na Deat. Ela é a nona vítima de Milena que é assistida pelo advogado Bruno Oliveira, o mesmo que representa a babá Raiana, jovem que pulou do 3º andar para escapar das agressões e cárcere privado no último dia 25. Na manhã desta sexta (3), Bruno solicitou um acompanhamento mais direto dos casos ao Ministério Público do Estado (MP-BA). Ele formalizou o pedido, que será respondido em breve. "Isso se faz necessário diante da gravidade do cenário que envolve vítimas e a acusada", disse.  Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO Mordidas Bruno disse que foi procurado pela idosa da mesma forma que as outras vítimas chegaram até ele, na porta de uma delegacia. “Quando a situação de Raiana veio à tona, depois da queda, ela, como as demais, me abordou quando deixava a 9ª DP dizendo que também foi agredida por Melina. Ela afirma de que ela recebeu diversas mordidas no couro cabeludo, por uma questão de maldade, simplesmente", explica o advogado."A vítima é uma senhora idosa que fazia tudo o que ela queria, nunca divergia, ainda assim nada justificaria atitudes brutais, principalmente contra uma pessoa que é de vulnerabilidade. Nada justifica", complementou. A idosa contou a Bruno Oliveira que permaneceu com Melina por quase dois anos sendo espancada e mantida em cárcere privado em alguns momentos. "Os relatos dela são muito fortes. Era raridade ela sair do apartamento. Disse que Melina a ameaçava, dizendo que faria algo com a ela e com os seus familiares, inclusive o neto, caso fugisse. Ela passou todo esse sofrimento na casa de Melina em Piatã e no Imbuí", disse o advogado. Bruno Oliveira pediu um acompanhamento mais direito do casos ao MP-BA (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Ainda segundo Bruno Oliveira, a idosa contou com a ajuda de uma pessoa para fugir do apartamento do Imbuí. “Uma pessoa que estava no imóvel presenciou o momento em que a acusada deu gratuitamente um soco no rosto da idosa. Essa pessoa ficou tão revoltada, que logo em seguida, resgatou a babá e fui junto com ela à Deat para registrar a ocorrência. No dia, foi expedido uma guia de lesões corporais e agora a delegacia aguarda o resultado do exame para dar continuidade à investigação”, contou o advogado.  As agressões físicas não eram os únicos problemas submetidos à baba por quando dois anos.“Ela me relatou que recebia de Melina R$ 500 em mãos, mas logo em seguida tinha que devolver R$ 400 e assinar que ficou com o valor integral. Tudo sob ameaça. Melina dizia que ela tinha que devolver e pronto. Isso em 2020, porque este ano ela nada recebeu”, relatou o advogado. No período que ficou na casa de Melina, a idosa disse que testemunhou agressões em outras babás. “Ela já me relatou outras situações, que ela presenciou o ataque de Melina a uma dessas vítimas que eu estou representando e que já deu queixa contra a acusada. Ela servirá de testemunha para este caso”, disse Bruno. Imagens Depois de deixar o MP-BA, o advogado disse que Raiana o aguardava no carro, mas ela havia pedido para não dar mais entrevista, pois ficou abatida ao se ver sendo espancada por Melina em um vídeo.

“Ela [Raiana] disse que é a sensação de reviver novamente e por isso não quer mais falar sobre o assunto. Ela vai hoje embora para a casa dos pais, no interior”, contou o advogado.  As imagens de uma câmera de segurança colocada na sala do apartamento de Melina mostram o momento em que a então patroa agride com socos e tapas a babá Raiana Ribeiro, 25 anos, horas antes de a jovem pular do 3º andar para escapar das agressões e cárcere privado.

[[embed]] Raiana aparece sentada no sofá, ao lado de Melina, quando esta dá um tapa no rosto da jovem e depois começa uma série de socos e puxões no cabelo. A ex-patroa chega a bater com as duas mãos nas costas da jovem, que tenta se defender. A situação ocorreu no último dia 25.

Leia também: Ofensas e arma escondida: ex-babás prestam depoimento contra patroa acusada de cárcere Ainda dá para ouvir Melina perguntar se a vítima acha certo o que ela estava fazendo, pede respeito e chama a jovem de horrorosa. Ao lado, aparece uma outra mulher com uma criança no colo. É possível ouvir o choro do bebê, que presencia as agressões.

Relembre o caso Raiana Ribeiro trabalhava cuidando de crianças em um apartamento no Edifício Residencial Absolutto quando caiu do terceiro andar. Socorrida para o Hospital Geral do Estado (HGE), ela prestou depoimento no posto policial da unidade e disse que pulou da janela para fugir da patroa.

Segundo a funcionária, ela foi agredida e trancada em um cômodo da casa, após ter seu celular tomado pela patroa. Tudo teria começado quando ela avisou que queria deixar o emprego após uma semana de contratada.

Raiana conversou com o CORREIO na noite da última quarta-feira (25) e relatou os momentos traumáticos que viveu. Natural do município de Itanagra, a 120 km de Salvador, ela disse que viu o anúncio de emprego em um site e decidiu se candidatar.  Após contato com a anunciante, a babá trocou informações e após algumas chamadas de vídeo foi contratada para trabalhar. "Depois que eu vi o anúncio, entrei em contato, e o acordo era trabalhar integral e folgar a cada 15 dias", disse Raiana. No entanto, após iniciar o trabalho, Raiana conta que recebeu nova proposta de emprego e que após comunicar à patroa, passou a ser ameaçada. "Quando eu pedi para sair do trabalho, ela respondeu: 'eu quero ver se você vai embora. Eu não sou vagabunda. Você não vai embora", lembrou a babá.  A ameaça, de acordo com Raiana, teria ocorrido na terça-feira (24). A babá teria pedido socorro à irmã, pelo telefone. A irmã de Raiana então entrou em contato com uma tia que mora em Salvador. Após o contato, um homem teria ido até o prédio onde Raiana trabalha, mas após fazer contato pelo interfone, a patroa disse que Raiana não estava no local. Nesta quarta-feira (25), uma pessoa voltou no prédio a pedido da tia de Raiana para procurar a jovem, segundo ela, desta vez, a patroa arrancou a fiação do interfone para evitar o contato. Sem contato externo, Raiana diz que foi trancada no banheiro. Desesperada, ela tentou fugir pelo basculante. "Ela me trancou no banheiro, ai vi o basculante e decidi fugir para alcançar a janela do apartamento do lado e lá pedir ajuda, mas aí não consegui e fiquei pendurada. Aí depois, eu caí", conta.  Ela caiu dentro de um apartamento localizado no primeiro andar e foi socorrida. Raiana fraturou o calcanhar, e levou pontos na testa, além de ter ficado com alguns hematomas no corpo. Ela teve alta no mesmo dia. Mas o comportamento agressivo de Melina Esteves França com trabalhadores domésticas tem relatos desde 2018, pelo menos, quando ela ainda morava em Piatã. Um grupo de ex-funcionários foi à 9ª Delegacia para prestarem depoimento sobre as ameaças de cárcere e agressões físicas e verbais na última sexta-feira (27).