Ambulâncias do Samu terão aparelho que mostra se pulmão está comprometido

Especialistas afirmam que equipamento faz a diferença no momento do atendimento

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  • Gil Santos

Publicado em 18 de março de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Toda vez que o médico Uenderson Barbosa, 31 anos, precisa socorrer um paciente de trauma com sangramento interno ou com os pulmões comprometidos pela covid-19 é somente no hospital que ele tem a real noção da gravidade da situação. Médico intensivista, ele é um dos profissionais que trabalham no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), em Salvador.

“Existem alguns sinais indiretos que ajudam na suspeição de que o paciente apresenta um quadro de sangramento interno ou está com os pulmões comprometidos, mas confirmação só teremos de duas formas: ou fazendo um exame de imagem, que só tem como fazer dentro do hospital, ou fazendo uma cirurgia”, contou.

Mas essa realidade mudou. Agora, será possível fazer o exame de imagem na ambulância. Nesta quarta-feira (17), a prefeitura anunciou que comprou aparelhos de ultrassonografia para instalar nas 12 Unidades de Suporte Avançado do Samu. Para Uenderson essa possibilidade representa um grande avanço no atendimento e tratamento dos pacientes, facilita o trabalho de quem está na ponta do sistema, e pode salvar vidas.

“Isso é excelente. O exame de ultrassom é um divisor de águas para a tomada de algumas condutas. Eu também trabalho em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e usamos muito ultrassonografia, porque é um método rápido, barato, e que ajuda muito na tomada de decisões. Trazer isso para a ambulância e para o atendimento pré-hospitar é muito bom”, afirmou. Prefeito Bruno Reis anuncia a compra dos novos equipamentos (Foto: divulgação) Cada um dos 12 aparelhos custou cerca de R$ 100 mil. As ultrassonografias não emitem radiação e, por isso, são menos agressivas que os equipamentos de tomografia dos hospitais. O coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de Salvador, Ivan Paiva, destacou outro benefício: a precisão no diagnóstico evita a perda de tempo.

“Muitas vezes o paciente apresenta sinais que está tendo uma perda de sangue, mas o sangramento não está aparente. Se não fizermos o diagnóstico rápido e preciso a pessoa pode morrer em minutos. Não podemos usar a tomografia o tempo inteiro, porque submete a pessoa a radiação. Já a ultrassonografia não tem esse risco. Com o diagnóstico, eu já posso fazer o tratamento adequado, e remover o paciente para o lugar certo”, contou.

Os médicos explicaram que em alguns casos um paciente com trauma fechado (sangramento interno) consegue permanecer consciente e, por isso, termina sendo levado para observação em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Mas quando chega ao local e o exame de imagem aponta a complexidade do caso, ele precisa ser transferido para uma unidade de referência causando perda de tempo e de recursos. Samu tem três equipes que atendem de acordo com a complexidade dos casos (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Estrutura Existem três tipos de equipes do Samu atuando em Salvador. Para casos de menor complexidade são enviadas Unidade de Suporte Básico, compostas por um técnico de enfermagem e um condutor socorrista. Já as situações de média complexidade são atendidas pelas Unidades de Suporte Intermediário, formadas por um enfermeiro, um técnico de enfermagem e o condutor.

Os pacientes em estado mais grave são os que ficam com as Unidades de Suporte Avançado que tem um médico, um enfermeiro, e o condutor. É para esse último segmento que os aparelhos de ultrassonografia foram comprados.

“Os equipamentos foram alocados em ambulâncias que tem médicos, porque esse é um exame médico, portanto, precisa ter um profissional treinado e capacitado para que ele possa ser utilizado”, disse o coordenador Ivan Paiva.

O médico especialista em ultrassonografia e outros exames de imagens, João Rafael Carneiro, também fez essa ressalva. Ele coordena o Serviço de Bioimagem do Hospital Português e afirmou que a capacitação técnica é fundamental para fazer uso do equipamento.

“É uma ação benéfica. O exame de ultrassom nas mãos de um médico capacitado acaba tendo uma propedêutica armada que agrega na investigação diagnóstica, então, pode ajudar a identificar diversas patologias, desde patologias abdominais até a própria covid. Mas qualquer ferramenta será melhor utilizada se tiver um bom acolhimento e atendimento médico. A tecnologia não substitui o profissional”, afirmou. Médicos em treinamento (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Quadro Salvador amanheceu a quarta-feira (17) com 132 pacientes aguardando regulação nas unidades de urgência e emergência. No dia anterior, 87 pessoas foram transferidas para hospitais referência no tratamento ao coronavírus. Durante o evento virtual para apresentar os novos equipamentos, o prefeito Bruno Reis destacou a importância do Samu no contexto atual.

“Dentro dessa logística de enfrentamento da pandemia o Samu tem papel de destaque, porque sem o Samu nós não conseguiríamos dar vazão a demanda que nós temos por leitos de UTI e por leitos de enfermaria. Graças a esse serviço que nós temos conseguido socorrer e salvar milhares de vidas em nossa cidade. Os equipamentos que nós adquirimos são o que há de mais moderno, e com isso a gente qualifica ainda mais as nossas ambulâncias”, afirmou o prefeito.

Bruno atualizou os números. A notícia boa é que pela primeira vez, desde 20 de fevereiro, a quantidade de pessoas aguardando por um leito de UTI caiu. Quarta, havia 79 pacientes nessa situação, enquanto no dia anterior eram 87 casos. A notícia ruim é que a taxa de ocupação de leitos de UTI continua alta, em 87%.

Salvador recebeu 44 mil novas doses da vacina quarta, e o prefeito anunciou que a imunização da população com 73 anos será iniciada ainda essa semana. São 12 mil moradores cadastrados nessa faixa etária. De acordo com o vacinômetro, até quarta, 201 mil pessoas tinham recebido a primeira dose, e 73 mil a segunda dose. Segundo o IBGE, a capital tem quase 3 milhões de habitantes.